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Neurologia23 outubro 2025

Síndromes paraneoplásicas do sistema nervoso: um desafio diagnóstico 

Trazemos uma revisão sobre as síndromes neurológicas paraneoplásicas (SNPs) que podem acometer qualquer estrutura do sistema nervoso

As síndromes neurológicas paraneoplásicas (SNPs) representam um conjunto de distúrbios imunomediados que surgem em associação a neoplasias, mas não por invasão tumoral direta, metástases, efeitos colaterais do tratamento ou causas metabólicas. Elas podem acometer qualquer estrutura do sistema nervoso, desde o córtex cerebral até a junção neuromuscular. 

Fisiopatologia  

A maioria das SNPs resulta de uma resposta autoimune contra antígenos expressos aberrantemente pelo tumor e normalmente restritos ao sistema nervoso. Essa resposta pode ser mediada por:  

  • Linfócitos T citotóxicos (comum nas síndromes associadas a anticorpos onconeuronais). 
  • Autoanticorpos dirigidos a antígenos de superfície celular ou sinápticos, que frequentemente possuem efeito direto e são mais responsivos a terapias imunomodulatórias. 

Epidemiologia e importância clínica 

  • LEMS: até 3% dos pacientes com carcinoma de pequenas células do pulmão (CPPC). 
  • Miastenia gravis: 10-15% dos casos estão associados a timomas. 
  • Até 9% dos pacientes com CPPC apresentam pelo menos uma SNP.

Principais anticorpos paraneoplásicos  

Os anticorpos são divididos de acordo com o risco de associação com câncer:  

Anticorpos de alto risco (> 70% associados a câncer) 

Anticorpo Mecanismo Síndromes Neurológicas % com Câncer Tumores Associados Observações 
Hu (ANNA-1) T-célula mediado Neuronopatia sensorial, encefalomielite, encefalite límbica 85% CPPC >> outros tumores neuroendócrinos Em pacientes <18 anos, a encefalite límbica é geralmente não paraneoplásica. 
CV2/CRMP5 T-célula mediado Encefalomielite, neuronopatia sensorial > 80% CPPC, timoma Pacientes com timoma associado tendem a ser mais jovens. 
SOX1 Incerto LEMS, síndrome cerebelar rapidamente progressiva > 90% CPPC Forte correlação com CPPC. 
Amphiphysin Incerto/anticorpo-mediado Radiculopatia, neuronopatia sensorial, stiff-person 80% CPPC, mama Mais comum em mulheres com câncer de mama e síndrome stiff-person. 
Ri (ANNA-2) T-célula mediado Síndrome troncoencefálica/cerebelar, opsoclonus-mioclonus > 70% Mama > pulmão (CPPC e NSCLC)  
Yo (PCA-1) T-célula mediado Degeneração cerebelar paraneoplásica > 90% Ovário, mama Quase todos os casos em mulheres. Em homens, deve-se confirmar expressão tumoral do antígeno. 
Ma2/Ma T-célula mediado Encefalite límbica, diencefálica, troncoencefálica > 75% Testículo, NSCLC Jovens: tumores testiculares; idosos: CPPC. 
Tr (DNER) Incerto Degeneração cerebelar paraneoplásica 90% Linfoma de Hodgkin  

Anticorpos de risco intermediário (30-70% associados a câncer) 

Anticorpo Mecanismo Síndromes Neurológicas % com Câncer Tumores Associados Observações 
AMPAR Anticorpo-mediado Encefalite límbica > 50% CPPC, timoma maligno Origem paraneoplásica é mais provável quando coexistem anticorpos onconeuronais. 
GABABR Anticorpo-mediado Encefalite límbica > 50% CPPC Mais comum em homens mais velhos e fumantes. 
P/Q VGCC Anticorpo-mediado LEMS, síndrome cerebelar rapidamente progressiva 50-90% CPPC  
NMDAR Anticorpo-mediado Encefalite anti-NMDAR ~38% Teratoma ovariano ou extraovariano Casos paraneoplásicos raros em crianças (<10%). 

Anticorpos de baixo risco (< 30% associados a câncer) 

Anticorpo Mecanismo Síndromes Neurológicas % com Câncer Tumores Associados Observações 
LGI1 Anticorpo-mediado Encefalite límbica < 10% Timoma maligno, tumores neuroendócrinos Casos paraneoplásicos raros, exceto quando associado ao Caspr2. 
GAD65 Incerto Encefalite límbica, stiff-person, ataxia cerebelar < 15% CPPC, timoma  
AQP4 Anticorpo-mediado Espectro da neuromielite óptica < 5% Adenocarcinomas Casos paraneoplásicos tendem a ocorrer em homens mais velhos. 

Tratamento e prognóstico  

  • Tumor como alvo primário: ressecção ou quimioterapia podem reduzir o estímulo antigênico. 
  • Terapia imunomodulatória: IVIG, plasmaférese, corticoides e rituximabe são opções. 
  • Melhor resposta: síndromes com anticorpos contra antígenos de superfície (ex.: anti-NMDA). 
  • Pior resposta: síndromes mediadas por linfócitos T (ex.: anti-Hu, anti-Yo).

Autoria

Foto de Thiago Nascimento

Thiago Nascimento

Formado em Medicina pela Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF) em 2015. Residência Médica em Neurologia no Hospital Geral Roberto Santos (HGRS) Salvador - Bahia (2016-2019). Membro titular da Academia Brasileira de Neurologia (ABN). Mestrando em Ciências da Saúde pela UFBA (PPGCs - UFBA). Preceptor da Residência de Neurologia do HU- UFS - (Ebserh - Aracaju- SE). Médico Neurologista - Membro do Ambulatório de Neuroimunologia do HU- UFS - (Ebserh - Aracaju- SE). Professor na Afya Educação Médica.

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