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Neurologia24 novembro 2022

Qual o impacto da presença da família na recuperação de pacientes com delirium?

O delirium aumenta o risco de comprometimento cognitivo a longo prazo, aumenta o risco de mortalidade e custos com a saúde.

Por Mariana Sobreiro

A Unidade de Terapia Intensiva é responsável pela admissão de pacientes em estado grave que necessitam de monitoramento intensivo. Muito comum nessas unidades, o delirium é um estado de consciência alterado, de início súbito e curso flutuante com pensamento desorganizado e desatenção que acomete os pacientes com uma prevalência de até 70%. O diagnóstico de delirium é um desafio e podem existir muitos fatores desencadeantes (infecção, distúrbios hidroeletrolíticos, dispositivos invasivos, etc).

Ouça também: Delirium: ao que se atentar? [podcast]

No entanto, na maior parte das vezes é reversível e por isso torna-se fundamental o diagnóstico e a instituição do tratamento o mais rápido possível.  É necessário corrigir distúrbios metabólicos e hidroeletrolíticos e tratar infecções. Tão importante quanto a terapia farmacológica são as medidas comportamentais não farmacológicas como evitar restrição de mobilidade (contenção no leito), uso de sondas e cateteres, evitar constipação intestinal, corrigir déficits sensoriais (uso de óculos, aparelhos auditivos).

Uma das medidas não farmacológicas mais importantes para prevenção do delirium é manter familiares ou cuidadores próximos. Eles ajudam na manutenção da lucidez e orientação no tempo e no espaço, promovem mobilização precoce, rotina de higiene, etc.

Qual o impacto da presença da família na recuperação de pacientes com delirium

Métodos

Este estudo de coorte retrospectivo analisou prontuários pacientes maiores de 18 anos, que permaneceram mais de 24 horas internados em 14 UTIs em Alberta, no Canadá, entre 2014 e 2018 (n=26,100). Todas as UTIs analisadas tinham um padrão de vigilância padronizada para delirium onde enfermeiros aplicam questionários específicos duas vezes ao dia (de manhã e de noite). Não havia limitação no número de visitantes ou no tempo permitido para permanecer na UTI.

O critério utilizado para avaliação de delirium foi o ICDSC (questionário com 8 itens — ver abaixo). Pontuações maiores ou iguais a 4 de 8 no ICDSC são indicativos de delirium (sensibilidade: 99%; especificidade: 64%). Para o desfecho primário, o delirium prevalente foi definido como uma pontuação ICDSC maior ou igual a 4 que ocorreu após a documentação da presença da família.

Resultados

O estudo encontrou que a presença familiar física foi associada a aumento da prevalência de delirium na coorte geral (não ajustado ou 1.19; 95% CI, 1,11–1,27; p = 0,02), em comparação com pacientes do grupo de referência. No entanto, quando foi realizada a estratificação por 1) tipo de admissão (cirurgias eletivas ou cirurgias de emergência); e 2) Lucidez/orientação (Escala de Coma de Glasgow >15 ou < 15) a presença física da família foi associada a menor prevalência de delirium para pacientes admitidos após cirurgia eletiva com ECG intacto (ECG = 15) (OR, 0,60; 95% CI, 0,39–0,97), em comparação com pacientes do grupo de referência (sem presença física da família ou telefonema. Não houve diferença significativa na prevalência de delirium entre os pacientes admitidos em caráter de urgência (seja com ECG maior ou menor que 15). O estudo também observou que a presença física da família diminuiu a duração do delírio em 2 dias ao ajustar para reinternação do paciente.

Saiba mais: Há estimativa de risco para demência em pacientes que apresentaram delirium?

Considerações e mensagem prática sobre delirium 

Qualquer paciente pode estar sujeito a entrar em delirium e, dependendo da unidade de internação do doente, a prevalência pode chegar a até 70% como no ambiente de terapia intensiva. Seja qual for a especialidade médica, há grandes chances de se deparar com essa situação e saber manejar é fundamental.

 

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Referências bibliográficas

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