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Neurologia14 novembro 2022

Preciso recomendar atividade física na doença de Parkinson?

Um estudo avaliou os efeitos de longo prazo de atividade física regular em pacientes com doença de Parkinson.

Por Danielle Calil

A doença de Parkinson (DP) é a segunda doença neurodegenerativa mais comum no mundo. É uma doença composta por sintomas motores e não motores que pioram progressivamente ao longo do tempo interferindo muito na funcionalidade e na qualidade de vida dos indivíduos acometidos. 

Até o presente momento, o tratamento farmacológico dessa doença é apenas sintomático, isto é, atenua o quadro motor e não-motor da doença – proporcionando melhor qualidade de vida. Ainda não há terapia modificadora de doença para lentificar o curso progressivo e neurodegenerativo dessa condição. 

A atividade física tem sido postulada como uma intervenção promissora para modificar o curso clínico motor de longo prazo em pacientes com DP. Já foram publicados ensaios clínicos prévios que demonstraram melhora do desfecho motor global a partir de intervenção com atividades físicas, porém esse acesso foi conduzido apenas em período de intervenção curto (sendo inferior a seis meses). 

A revista Neurology publicou neste ano um estudo de coorte retrospectivo e observacional visando avaliar efeitos de longo prazo de atividade física regular em pacientes com doença de Parkinson. Ele teve follow up de cinco anos e demonstrou evidência de classe II para atividade física regular na lentificação do declínio funcional nessa população. 

médico atendendo paciente idosa com parkinson

Métodos 

Estudo de coorte retrospectivo e observacional com uso de dados pertencentes do The Parkinson’s Progression Markers Initiative (PPMI). Os dados foram obtidos em abril de 2021. O estudo PPMI é um estudo observacional, multicêntrico, internacional, iniciado em 2021 que ainda está em andamento. O follow-up apresentou mediana de cinco anos (intervalo interquartil entre quatro a seis anos). 

Foram coletados dados como idade, gênero, duração da doença, presença de depressão, sintomas autonômicos, sintomas relacionados ao sono, dose equivalente diária de levodopa (LEDD) e estágio de Hoehn-Yahr (sendo este último coletado desde o baseline e anualmente). Além disso, foi avaliado também o período OFF destes participantes de acordo com resultados da parte 3 da escala MDS-UPDRS. Avaliações cognitivas, psiquiátricas e de funcionalidade também foram analisadas a partir de testes como: Montreal Cognitive Assessment (MOCA), Hopkins Verbal Learning Test-Revised, Letter-Number Sequencing test, Symbol Digit Modalities test, Geriatric Depression Scale, Epworth Sleepiness Scale, REM Sleep Behavior Disorder Screening Questionnaire e Modified Schwab & England Activity of Daily Living. 

A avaliação dos níveis de atividade física regular foi quantificada a partir do questionário de PASE. É um questionário composto por 12 itens que avalia intensidade, frequência e duração do exercício semanalmente, podendo apresentar escore entre 0 e 793 – sendo que as notas mais altas indicam maior regularidade em atividade física. É importante comentar que esse escore também compõe por informações de atividade física como lazer, domésticas e relacionadas ao trabalho, de forma que o questionário também possa ser utilizado para quantificar o domínio de atividade física predominante. 

Resultados 

Foram incluídos 237 participantes com doença de Parkinson. Ao comparar esse grupo com 158 controles saudáveis, foi avaliado que os participantes com DP apresentaram maior comprometimento motor, cognitivo e disautonômico. Não houve diferenças entre a regularidade e intensidade de atividade física entre esses dois grupos. 

Durante o período de follow-up do grupo de doença de Parkinson, foi denotado que a atividade física regular proporcionou queda de 4,5 pontos no escore total de PASE com valor p < 0.01, não ocorrendo alterações significativas longitudinais no grupo controle. 

Em relação aos participantes com doença de Parkinson, houve divisão em dois grupos de acordo com a regularidade na execução de atividade física: grupo com DP e exercício irregular (n=86) e grupo com DP e exercício regular (n=86). Esses grupos foram pareados de acordo com variáveis como idade, gênero, instalação de sintomas, estágio de Hoehn-Yahr e LEDD. 

Foi demonstrado que o grupo de DP com atividade física intensa e regular (considerada a partir do uso do questionário de PASE como uma a duas horas entre uma e duas vezes na semana) apresentou relação com queda na progressão do sub score PIGD (referente à postura e à marcha) no período OFF da escala MDS-UPDRS em relação ao grupo com atividade irregular. Já a regularidade no domínio de atividades domésticas no questionário PASE apresentou relação com queda no declínio da escala MSE-ADL para avaliação de funcionalidade. Por fim, um dado interessante foi também o resultado de escore de atividades relacionadas ao trabalho no PASE (correspondente a 15,5 horas de trabalho por semana) apresentou associação com redução do declínio no Symbol and Digit Modalities Test. 

Comentários 

Esse estudo demonstrou que atividade física de alta intensidade e regular, apenas quando mantida, foi robustamente associada a lentificação na deterioração dos parâmetros clínicos em pacientes com doença de Parkinson. 

Interessante que nesse estudo os tipos de atividades físicas foram associados a diferentes efeitos no curso da DP. Foi observado que exercícios de intensidade moderada-alta apresentaram associação de redução no declínio de funções posturais e de marcha. Já atividades relacionadas ao trabalho apresentaram associação com menor grau de redução em declínio cognitivo e velocidade de processamento. As atividades domésticas, por sua vez, foram associadas particularmente com redução no declínio de atividades diárias de vida. 

Ouça agora: Parkinson de início precoce: o que você precisa saber? [podcast]

Mensagem prática 

  • Os achados desse estudo demonstram um potencial na mudança da classe médica em enfatizar a necessidade de atividade física em pacientes com doença de Parkinson. 
  • Esse estudo pode servir como guia para futuros ensaios clínicos randomizados controlados que podem sustentar, ainda mais, a recomendação de atividade física nessa população. 
  • A American Academy of Neurology (AAN) recomenda exercícios para pacientes com doença de Parkinson com regularidade de pelo menos 150 minutos de atividade física moderada-intensa por semana.
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Referências bibliográficas

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