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Neurologia19 junho 2025

Pós-covid-19: Associação de risco entre excesso de peso e sintomas neurológicos 

Revisão sistemática e meta-análise investigou se o excesso de peso está associado ao desenvolvimento de sintomas neurológicos no pós-covid-19
Por Danielle Calil

A condição pós-covid-19 é definida pela persistência de sintomas após 12 semanas da infecção aguda por SARS-CoV-2. É condição crônica que representa um desafio emergente para os sistemas de saúde após a pandemia da covid-19. Dentre as manifestações presentes, destacam-se sintomas neurológicos e neuropsiquiátricos, como cefaleia, distúrbios do sono, alterações cognitivas e depressão.  

O excesso de peso já foi apontado como fator de risco para complicações da covid-19 aguda. Por outro lado, a sua associação com manifestações neurológicas e neuropsiquiátricas no contexto de PCC ainda não havia sido avaliada até essa revisão sistemática e metanálise publicada nesse ano pela revista PLoS ONE.   

Métodos 

Foi realizada uma revisão sistemática e meta-análise conforme as diretrizes PRISMA 2020, registrada no PROSPERO (ID: CRD42023433234). A busca foi conduzida em oito bases de dados (PubMed, Embase, Scopus, Web of Science, VHL, Google Scholar, ProQuest e medRxiv) até julho de 2023.  

Os estudos incluídos avaliaram adultos com PCC, com seguimento ≥ 12 semanas após a fase aguda da covid-19, comparando sintomas neurológicos e neuropsiquiátricos entre indivíduos com excesso de peso/obesidade e àqueles com peso normal/não obesos. Foram excluídos editoriais, estudos de revisão, estudos sem grupo controle, com foco em populações específicas (ex.: gestantes) ou que analisassem apenas sintomas agrupados.   

Resultados 

Entre os 10.122 artigos rastreados, 211 foram revistados e 65 estudos foram considerados elegíveis. Entre os estudos elegíveis, 18 estudos apresentavam dados sobre sintomas neurológicos e neuropsiquiátricos de acordo com o status nutricional disponível dos participantes.  

Sendo assim, foram incluídos 18 estudos na análise, totalizando 139.091 indivíduos, sendo 79.050 com excesso de peso e 30.694 com obesidade. O tempo médio entre a fase aguda da covid-19 para o acesso aos sintomas de longo prazo em questão foram de 25,8 semanas (intervalo entre 12 a 52 semanas). 

O excesso de peso foi significativamente associado aos seguintes sintomas de PCC: 

  • Depressão persistente (RR = 1,21; IC95%: 1,03–1,42) 
  • Distúrbios do sono (RR = 1,31; IC95%: 1,16–1,48) 
  • Cefaleia (OR = 1,23; IC95%: 1,10–1,37) 
  • Queixas cognitivas amnésticas (RR = 1,43; IC95%: 1,24–1,65) 
  • Tontura/vertigem (RR = 1,21; IC95%: 1,04–1,41) 

Já a obesidade foi significativamente associada aos seguintes sintomas neurológicos e neuropsiquiátricos da PCC: 

  • Cefaleia (OR = 1,45; IC95%: 1,37–1,53) 
  • Parestesias (RR = 1,61; IC95%: 1,46–1,78) 
  • Distúrbios olfativos (OR = 1,16; IC95%: 1,11–1,22) 
  • Distúrbios gustativos (OR = 1,22; IC95%: 1,08–1,38) 
  • Vertigem (RR = 1,44; IC95%: 1,5–1,53) 

A qualidade da evidência variou de moderada a muito baixa, principalmente devido ao viés de aferição de exposição diante dos dados de sete, entre os 18 estudos, serem autorrelatados pelos participantes.  

Pós-covid-19: Associação de risco entre excesso de peso e sintomas neurológicos 

Discussão: relação dos sintomas neurológicos da covid-19e excesso de peso

Os achados indicam que indivíduos com excesso de peso estão associados a maior risco para desenvolver sintomas neurológicos e neuropsiquiátricos prolongados após infecção por covid-19.  

Essa revisão sistemática e metanálise é oportuna à medida que fazemos a transição para o período pós-pandemia, enfrentando os desafios da gestão da coocorrência de outras doenças prevalentes, como: excesso de peso/obesidade, problemas de saúde mental e o fardo do PCC. 

O estudo apresenta algumas limitações que merecem ser ressaltadas para melhor interpretação de seus resultados. A maioria dos estudos incluídos foram estudos transversais, o que limita a capacidade de determinar relações de causa e efeito. Além disso, a inconsistência na nomenclatura dos sintomas da PCC resultou em número relativamente baixo de estudos com descrição do mesmo sintoma, impedindo a realização de comparações de subgrupos (ex. populações hospitalizadas e ambulatoriais).   

Mensagem prática 

Este estudo destaca a importância de considerar o excesso de peso como fator de risco relevante para manifestações neurológicas e neuropsiquiátricas persistentes após a covid-19. Estratégias de cuidado personalizado e reabilitação multidisciplinar devem ser priorizadas, com foco na saúde metabólica e mental de sobreviventes da covid-19.  

A detecção precoce e o acompanhamento contínuo de indivíduos com sobrepeso ou obesidade podem contribuir para minimizar o impacto da PCC sobre a qualidade de vida e reduzir a sobrecarga nos sistemas de saúde.

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Referências bibliográficas

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