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Neurologia6 novembro 2025

Personalidade e recuperação pós-AVC: o que essa revisão sistemática nos ensina? 

Revisão se debruçou sobre a associação entre traços de personalidade do paciente e sua recuperação funcional pós-AVC

A recuperação funcional após um AVC depende de múltiplos fatores — idade, gravidade, localização da lesão e qualidade da reabilitação. Mas e se traços de personalidade também influenciassem o desfecho? 

Uma revisão sistemática recém-publicada na BMJ Neurology Open (2025) explorou exatamente essa questão, reunindo evidências sobre como o perfil de personalidade pode afetar o grau de recuperação funcional após o AVC.  

Principais achados do estudo: Personalidade e recuperação pós-AVC

A revisão incluiu cinco estudos (n = 424) conduzidos em países como Coreia do Sul, Itália, Suécia e Nigéria. Todos avaliaram pacientes adultos com AVC utilizando escalas validadas de personalidade (como o Eysenck Personality Questionnaire, o Big Five Inventory e a Type D Personality Scale), correlacionando-as com medidas funcionais como Barthel Index, Rankin modificada e Functional Ambulation Category.  

Traços positivos associados à melhor recuperação:  

  • Extroversãoabertura e tendência à veracidade (lie-tendency) correlacionaram-se com melhor desempenho em atividades de vida diária e maior ganho funcional ao longo do tempo. 
  • Pacientes mais extrovertidos apresentaram maior engajamento e estratégias de coping ativas, o que se traduziu em ganhos de independência funcional. 

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Traço negativo associado a pior evolução:  

  • personalidade tipo D (marcada por afeto negativo e inibição social) foi associada a piores desfechos funcionais, incluindo maior escore na escala de Rankin aos 3 meses.  

Interpretação possível:  

  • A personalidade parece modular o grau de adesão e motivação à reabilitação. Indivíduos com traços mais abertos ou sociáveis tendem a participar mais ativamente das terapias, enquanto perfis mais retraídos ou ansiosos podem ter menor engajamento.

Personalidade e recuperação pós-AVC: o que essa revisão sistemática nos ensina? 

Por que este artigo é importante? 

A revisão amplia a compreensão de que a recuperação pós-AVC não é apenas neurológica — é também comportamental. 

Embora o número de estudos ainda seja pequeno e heterogêneo, a evidência sugere que avaliar o perfil de personalidade pode ajudar a personalizar a reabilitação e prever quem pode precisar de suporte psicológico adicional. 

Além disso, a identificação precoce de perfis de risco — como o tipo D — pode orientar intervenções mais intensivas e integradas com neuropsicologia e psiquiatria.  

Conclusão 

A personalidade, muitas vezes negligenciada nas avaliações pós-AVC, pode ser um determinante sutil, mas relevante, da recuperação funcional. 

Incluir esse aspecto na prática clínica pode representar um passo importante rumo à reabilitação verdadeiramente individualizada, onde o cérebro e o comportamento são vistos como aliados — e não como domínios separados.

Autoria

Foto de Thiago Nascimento

Thiago Nascimento

Formado em Medicina pela Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF) em 2015. Residência Médica em Neurologia no Hospital Geral Roberto Santos (HGRS) Salvador - Bahia (2016-2019). Membro titular da Academia Brasileira de Neurologia (ABN). Mestrando em Ciências da Saúde pela UFBA (PPGCs - UFBA). Preceptor da Residência de Neurologia do HU- UFS - (Ebserh - Aracaju- SE). Médico Neurologista - Membro do Ambulatório de Neuroimunologia do HU- UFS - (Ebserh - Aracaju- SE). Professor na Afya Educação Médica.

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