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Neurologia12 abril 2024

Perda auditiva aos 70 anos prediz atrofia cerebral ou alterações cognitivas? 

Estudo avaliou se a perda auditiva pode influenciar a performance cognitiva. 
Por Danielle Calil

Hipoacuidade auditiva é considerada um dos fatores de risco modificáveis para demência. Contudo, os mecanismos envolvidos no processo de perda auditiva que talvez influenciem processo de declínio cognitivo são incertos.  

Em análise transversal, a habilidade auditiva periférica (medida por audiometria de tom puro) não apresentou associação com deposição de beta-amiloide ou volume de hiperintensidade em substância branca cerebral (WMHV) em indivíduos de 70 anos nascidos na mesma semana em 1946. Considerando essa pesquisa, foi publicada na Journal of Neurology Neurosurgery and Psychiatry um estudo com desenho longitudinal dessa mesma coorte, com objetivo de avaliar se a acuidade auditiva pode influenciar deposição de beta-amiloide ou presença de WMHV ou volume cerebral, assim como influenciar em performance cognitiva. 

Perda auditiva aos 70 anos

Imagem de freepik

Métodos 

A coorte é constituída por indivíduos com 70 anos que nasceram na mesma semana de 1946 que foram submetidos a avaliação cognitiva e de neuroimagem em dois momentos diferentes com intervalo médio entre esses acessos em 2,4 anos. Foram excluídos da amostra original (n=502) pacientes sem neuroimagem no baseline, imagem no baseline de baixa qualidade, diagnóstico prévio de comprometimento cognitivo ou demência, doença otológica concomitante, audiometria indisponível, falta de genotipagem APOE e sem coleta longitudinal. 

A avaliação auditiva foi realizada através de equipamento de audiometria para ambos os ouvidos, sendo definido hipoacuidade auditiva para àqueles com média de tons puros (PTA) ≥ 25 dB HL. 

O protocolo de neuroimagem consistiu em realização de PET-florbetavir e ressonância magnética de crânio (RMc) 3-Tesla. Através do exame de PET-Florbetavir no baseline do estudo, foi definido como status beta-amiloide positivo ou negativo. A quantificação de volume de hiperintensidade de substância branca (WMHV) foi estimado através de BaMoS. Na análise de RMc, foi estimado volume cerebral total, volume ventricular e volume hipocampal. 

Avaliação cognitiva consistiu na versão adaptada do Preclinical Alzheimer’s Cognitive Composite (PACC). 

Leia também: Cilostazol e mononitrato de isossorbida para prevenir declínio cognitivo após AVCi

Resultados 

Entre os 287 participantes, 111 (38.6%) apresentaram evidência de comprometimento auditivo enquanto 176 (61.4%) apresentaram acuidade auditiva normal. O status beta-amiloide positivo foi encontrado em 22/176 com acuidade auditiva normal e em 26/111 daqueles com comprometimento auditivo.  

Comparando com os participantes com audição preservada, os pacientes com perda auditiva apresentaram taxas mais rápidas para atrofia encefálica global (p = 0,031). Além disso, participantes com maior PTA (indicando pior audição) também predisseram taxas mais rápidas para atrofia hipocampal (p = 0,023). Por outro lado, a acuidade auditiva não pode predizer alterações na avaliação cognitiva do PACC e esses efeitos permaneceram mesmo após ajuste para status beta-amiloide e de WMHV.  

Ainda assim, foi notada evidência de interação entre comprometimento auditivo e relação com atrofia encefálica global e alteração cognitiva (p = 0,031). Enquanto não houve associação entre atrofia cerebral e comprometimento cognitivo em participantes com audição preservada (p = 0,68), naqueles participantes com perda auditiva houve maior taxa de atrofia cortical encefálica que predisse acerca de maiores comprometimentos cognitivos (p = 0,004). Importante enfatizar que essas associações foram independentes do status beta-amiloide e de alterações na substância branca cerebral. 

Discussão 

Nesse estudo longitudinal, foi demonstrado que o comprometimento auditivo teve relação com taxas mais rápidas de atrofia encefálica ao comparar com indivíduos idosos com audição preservada. Nesse estudo, esses achados foram independentes de status beta-amiloide e de WMHV, sugerindo que as relações entre perda auditiva e neurodegeneração possam ter outros caminhos além de Doença de Alzheimer ou doença cerebrovascular. 

Embora a acuidade auditiva não tenha sido preditor de alterações cognitivas, taxas mais rápidas de atrofia encefálica global predisseram pior performance cognitiva em pacientes com comprometimento auditivo.  

Limitações do estudo envolveram o fato de alguns testes cognitivos apresentarem componente auditivo, baixo número amostral e curta duração de follow-up. 

Mensagem final: perda auditiva e cognição

Foi encontrada associação entre comprometimento cognitivo com atrofia encefálica global em idosos, sugerindo um potencial relação entre perda auditiva e neurodegeneração através de mecanismos distintos de doença de Alzheimer e doença cerebrovascular ─ visto que tal associação foi independentes do status beta-amiloide e de alterações de substância branca cerebral desses participantes. 

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