A angiopatia amiloide cerebral (AAC) é uma condição caracterizada por depósitos de peptídeo beta-amiloide em vasos sanguíneos de pequeno-médio calibre em sistema nervoso central. Essa doença está relacionada a manifestações clínicas que vão além dessas hemorragias intracerebrais, como: eventos neurológicos transitórios (também conhecidos como “spells amiloides”) e comprometimento cognitivo.
Leia também: Inflamação relacionada à angiopatia amiloide cerebral (AAC)
Nessa conjuntura, o diagnóstico precoce e acurado dessa condição possibilita um manejo mais adequado assim como evita potenciais complicações que gerem incapacidade nos indivíduos acometidos.
O critério de Boston é utilizado ao redor do mundo como forma de diagnóstico in vivo de angiopatia amiloide cerebral, porém não havia sido atualizado desde 2010. A Lancet Neurology publicou, neste ano, o estudo realizado na atualização desses critérios.
Métodos
Este foi um estudo multicêntrico, retrospectivo, com avaliação de acurácia diagnóstica a partir de exames de ressonância magnética de encéfalo e estudos anatomopatológicos em pacientes com suspeita clínica de AAC.
Foram identificados pacientes acima de 50 anos de idade com apresentações clínicas potencialmente relacionadas a AAC (hemorragia intracerebral, comprometimento cognitivo ou episódios neurológicos focais transitórios) que apresentavam disponibilidade de estudos com ressonância magnética e acesso histopatológico.
Os critérios de Boston versão 2.0 foram elaborados a partir de características presentes na RM que pudessem otimizar a sensibilidade e especificidade desse exame a partir de uma coorte derivada (casos de Boston entre 1994-2010, n=159). Esses critérios posteriormente foram sendo externamente validados a partir de uma coorte de validação temporal (casos de Boston entre 2012-2018, n=59) e de uma coorte de validação geográfica (casos não presentes em Boston entre 2004-2018, n=123).
Assim, foi realizada comparação da acurácia entre os novos critérios em comparação àqueles declarados em 2010, utilizando acesso histopatológico como padrão-ouro.
Entre os 401 pacientes elegíveis presentes no Massachusetts General Hospital, 2018 foram elegíveis para análise; enquanto, por outro lado, dos 160 pacientes presentes em outros centros, 123 foram incluídos.
Resultados
Foi demonstrado que os critérios de Boston 2.0 para angiopatia amiloide cerebral provável apresentaram acurácia superior aos critérios até então utilizados previamente em 2010, com uma sensibilidade de 64.5%, especificidade de 95%, AUC 0.798, valor p = 0.005.
Mudanças nos critérios diagnósticos
CRITÉRIOS DE BOSTON VS 2.0 (2022) | CRITÉRIOS DE BOSTON VS 2.0 (2022) |
Angiopatia amiloide cerebral definitivo | |
▪ Hemorragia intracraniana espontânea, evento neurológico transitório ou comprometimento cognitivo. ▪ Exame post-mortem com presença de AAC grave com vasculopatia. ▪ Ausência de outro diagnóstico. | ▪ Hemorragia intracraniana espontânea, evento neurológico transitório ou comprometimento cognitivo. ▪ Exame post-mortem com presença de AAC grave com vasculopatia. ▪ Ausência de outro diagnóstico. |
Angiopatia amiloide cerebral provável com suporte patológico | |
▪ Hemorragia intracraniana espontânea, evento neurológico transitório ou comprometimento cognitivo. ▪ Alguma evidência patológica (por biópsia cortical em contexto de drenagem de hematoma) de angiopatia amiloide cerebral. ▪ Ausência de outro diagnóstico. | ▪ Hemorragia intracraniana espontânea, evento neurológico transitório ou comprometimento cognitivo. ▪ Alguma evidência patológica (por biópsia cortical em contexto de drenagem de hematoma) de angiopatia amiloide cerebral. ▪ Ausência de outro diagnóstico. |
Angiopatia amiloide cerebral provável | |
Avaliação clínica e com RM crânio evidenciando:
▪ Idade ≥ 50 anos Mais: | Avaliação clínica e com RM crânio evidenciando:
▪ Idade ≥ 55 anos Mais:
|
Angiopatia amiloide cerebral possível | |
Avaliação clínica e com RM crânio evidenciando:
▪ Idade ≥ 50 anos Mais: | Avaliação clínica e com RM crânio evidenciando:
▪ Idade ≥ 55 anos Mais:
|
Saiba mais: Glicocorticoide em pacientes com angiopatia amiloide cerebral
Mensagem prática
A versão 2.0 dos critérios de Boston atingiu maior acurácia diagnóstica ao incluir hemorragia subaracnoide convexa (HSAc), siderose superficial cortical como lesões hemorrágicas independentes. Ademais, a sensibilidade do critério apresentou melhora ao promover inclusão de biomarcadores não hemorrágicos em RM: presença de significativo número de espaços perivasculares em centro semioval (> 20 em 1 hemisfério) e hiperintensidades em substância branca cerebral em padrão multifocal (> 10 lesões ovais ou circulares hiperintensas em T2/FLAIR na substância branca cerebral bilateralmente).
Essas mudanças permitem com que o diagnóstico de angiopatia amiloide possa ser realizado em fases mais precoces.
Como você avalia este conteúdo?
Sua opinião ajudará outros médicos a encontrar conteúdos mais relevantes.