Neuromodulação não invasiva: uma nova ferramenta no tratamento da dor crônica
A neuromodulação é uma técnica empregada com o intuito reorganizar os caminhos dos neurôniose suas sinapses no sistema nervoso. Saiba mais.
Como o próprio nome diz, a neuromodulação é uma técnica empregada com o intuito reorganizar os caminhos (“modulação”) dos neurônios (“neuro”) e suas sinapses no sistema nervoso.
Dentre as técnicas de neuromodulação não invasiva, está a Estimulação Magnética Transcraniana (EMT (em portugês) ou TMS – Transcranial Magnetic Stimulation). Ela utiliza um aparelho capaz de produzir um campo eletromagnético, o qual atravessa o crânio e estimula uma área cortical próxima. Esse campo eletromagnético gera uma estimulação elétrica (sem eletrodos!) nos neurônios, fazendo com que haja uma movimentação de cargas através da membrana neuronal (lei de Faraday). Esse processo é indolor ao indivíduo.
Usos clínicos possíveis
- Transtornos neuropsiquiátricos (como depressão, alucinações);
- Doenças neurológicas (como doença de Parkinson, epilepsia)
- Distúrbios do movimento (como distonias, tiques, gagueira, zumbido)
- Reabilitação
- – Dor crônica (como fibromialgia)
- – Sequelas pós-AVC (como afasias, ataxias)
- – Disfagia
Os protocolos ainda não foram totalmente consolidados, sendo assim, os níveis de recomendação estão em fase experimental, mas em crescente evidência. Na prática, já são vistos bons resultados da neuromodulação, quando aplicada em conjunto com outras técnicas de tratamento.
Bases fisiológicas
As bases fisiológicas desse efeito ainda não são totalmente esclarecidas, mas acredita-se que haja duas formas de atuação: a primeira é de estimular a atividade (as sinapses) do hemisfério cerebral com a área lesada ou mal funcionante, e a segunda é de inibir a atividade do hemisfério cerebral normal, através de estimulação de baixa ou alta frequência na região cortical alvo.
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Neuromodulação na dor crônica
Na dor crônica geralmente ocorre uma disfunção das redes neurais do processamento da dor. As técnicas de neuromodulação não invasiva têm o objetivo de promover mudança no padrão cortical (“melhorar o caminho das sinapses neuronais”) e retorno da ativação normal desses centros da dor.
Estudos mostram eficácia nos tratamentos de fibromialgia. Nas dores neuropáticas e dores osteoarticulares crônicas (como cervicalgia ou lombalgia), os resultados ainda são variáveis.
O alívio prolongado da dor pode ser obtido por sessões repetidas ao longo de dias ou semanas.
Conclusão
A neuromodulação não invasiva parece ser uma boa ferramenta no arsenal de tratamento em reabilitação. O desenvolvimento das pesquisas e dos protocolos de tratamento específicos para cada patologia e respostas clínicas poderão dar maior respaldo à técnica.
Referências bibliográficas:
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