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As manifestações gastrointestinais como disfagia; diarreia, gastroparesia, obstipação entre outras, são comuns nas doenças neurológicas de uma forma geral. Com certeza você já presenciou casos destas alterações secundárias às doenças cerebrovasculares; doença de Parkinson; esclerose múltipla ou lesões medulares, por exemplo.
O inverso também é importante e o médico deve estar atento às manifestações neurológicas das doenças gastrointestinais. Em alguns casos, estas antecedem o aparecimento do quadro intestinal típico da doença. Podem ser primárias, onde as manifestações neurológicas fazem parte do quadro clínico, ou secundárias a uma síndrome de má absorção causada pela doença de base. Dois grandes exemplos são: doença de Whipple e a doença celíaca.
Manifestações neurológicas na Doença de Whipple
A doença de Whipple é multissistêmica, causada pelo Tropheryma whipplei, caracterizado por sintomas articulares, diarreia crônica, má absorção e perda de peso. O envolvimento isolado de outros órgãos, principalmente o sistema nervoso central (SNC) e as válvulas cardíacas, podem ocorrer na ausência dos achados clássicos da doença de Whipple.
Normalmente, o envolvimento do SNC é assintomático e diagnosticado apenas pela detecção de PCR de T. whipplei no líquido cefalorraquidiano (LCR). Entre os pacientes com envolvimento sintomático do SNC, a disfunção cognitiva, incluindo demência, é a anormalidade mais comum.
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Dois achados, dos quais pelo menos um está presente em aproximadamente 20% desses pacientes, são considerados patognomônicos para a doença de Whipple: miorritmia oculomastigatória (movimentos rítmicos contínuos de convergência ocular com contrações concomitantes dos músculos mastigatórios) e miorritmia oculo-facial-esquelética. Essas anormalidades são quase sempre acompanhadas por paralisia do olhar vertical.
O envolvimento neurológico isolado é raro e de difícil diagnóstico, porém, uma variedade de achados neurológicos foram descritos em séries de casos, incluindo ataxia, mioclonia; hemiparesia; neuropatia periférica; convulsões e disfunção hipotalâmica.
Manifestações neurológicas na doença Celíaca
A doença celíaca, que classicamente é definida como uma enteropatia sensível ao glúten, apresenta as seguintes características: atrofia das vilosidades; sintomas de má absorção, como esteatorreia; perda de peso ou outros sinais de deficiência de nutrientes e/ou vitaminas. Uma importante ferramenta diagnóstica é a presença do anticorpo contra a transglutaminase tecidual.
Vários estudos descrevem uma associação entre doença celíaca e sintomas neurológicos ou psiquiátricos, como: cefaleia; neuropatia periférica; ataxia; depressão; distimia; ansiedade e epilepsia. As neuropatias periféricas, caracterizadas por queimação, formigamento e dormência nas mãos e pés, são bem descritas nos pacientes com doença celíaca e podem preceder seu diagnóstico.
Em pacientes com doença celíaca, as neuropatias também podem estar associadas a linfoma e deficiências de vitaminas B1 (tiamina), B2 (riboflavina), B3 (niacina), B6 (piridoxina), B12 (cobalamina) e E.
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Referências:
- Ronald F. Pfeiffer. Gastroenterology and Neurology. Neurology of Systemic disease p. 744-761. June 2017, Vol.23,No3.
- Bally JF, Méneret A, Roze E, et al. Systematic review of movement disorders and oculomotor abnormalities in Whipple’s disease. Mov Disord 2018; 33:1700.
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