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Abordar lesões corticais combinando suas características de topografia e intensidade de sinal na ressonância magnética com os achados de quadro clínico permite ao neurologista balizar seu diagnóstico de maneira refinada.
A proposta é entender o mecanismo de injúria celular causado por cada doença e assim entender mais facilmente o que se esperar na ressonância.
Que tipo de doença? | Epilepsia / crises epiléticas |
Como se apresenta na ressonância? | – Hiperintensidade em T2 e Flair, ocasionalmente com efeito massa. – Restrição na difusão da água pode ocorrer (sinal aumentado em DWI + sinal reduzido no mapa ADC).– Pode haver realce meníngeo em T1 com constraste de gadolíneo.– Ocasionalmente em T2/FLAIR/DWI as mesmas mudanças descritas podem ser vistas no cerebelo contralateral. |
Por quê? | – Alterações desta natureza não tem sua causa totalmente elucidada, porém parece ocorrer mais em situações como estados de mal epiléptico e em crises mais prolongadas.– Possibilidade de hiperatividade neuronal que se propaga por conexões da substância branca justificar lesões contralaterais também encontradas no cerebelo. |
Que tipo de doença? | Carcinomatose meníngea |
Como se apresenta na ressonância? | – Mais comumente com realce leptomeníngeo em imagens ponderadas em T1.– Raramente com hiperintensidade em T2/FLAIR corticais e subcorticais, com restrição na difusão da água. |
Por quê? | – Infiltração intracapilar de celulares tumorais que geram crises epilépticas e microinfartos. |
Que tipo de doença? | Esclerose Múltipla |
Como se apresenta na ressonância? | – Afeta primariamente a substância branca (hiperintensidades em T2 e FLAIR, com captação de contraste em imagens ponderadas em T1 quando na fase ativa).– Quando há lesões corticais, praticamente sempre haverá também as lesões em substância branca – útil no diagnóstico diferencial com as outras lesões corticais.– Podem ter 3 graus diferentes de acometimento: juxtacortical (extende até substância branca), cortical e subpial (quando acomete camadas um pouco mais superficiais do córtex). |
Por quê? | – Pela natureza desta específica doença inflamatória e seus mecanismos de anticorpos, a Esclerose Múltipla tem essa importante exclusividade de acometer também o córtex, diferentemente das doenças do espectro da neuromielite óptica, por exemplo, que costumeiramente não acometem o córtex. |
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Que tipo de doença? | Migrânea hemiplégica |
Como se apresenta na ressonância? | – Hiperintensidades em T2/FLAIR associada a edema, com difusão normal, aumentada ou diminuida em DWI. Achados tipicamente transitórios. |
Por quê? | – Depressão cortical alastrante; processo vasogênico; mudanças na perfusão cerebral e disfunção de canal iônico. |
Que tipo de doença? | Doença de Creutzfeldt-Jakob |
Como se apresenta na ressonância? | – Mudanças de sinal podem acometer o córtex em cada lobo cerebral, porém para diagnóstico considera-se critério apenas: * temporal; parietal; occipital.– Bilateral, assimétricas.– Há restrição à difusão da água no mapa ADC; mais comumente altera o sinal em DWI do que no FLAIR. |
Por quê? | – Fisiopatologia destes achados na ressonância não é compreendida, é discrepante com os achados da patologia (envolvimento simétrico e difuso). |
Que tipo de doença? | Hipoxemia-isquemia cerebral |
Como se apresenta na ressonância? | – Fase aguda: DWI com hiperintensidade e mapa ADC com hipodensidade – mais precoce do que alterações que aparecerão em T2/FLAIR posteriormente (hiperintensidades). – Subaguda: T1 com realce cortical pelo gadolíneo. Bilaterais e difusas.– Crônica: isquemia nas áreas de watershed ; nos núcleos da base (globo pálido geralmente com componente hemorrágico); na substância branca e/ou a área palidoreticular. |
Por quê? | – Estas lesões refletem as alterações celulares referentes ao processo de necrose laminar que ocorrem durante períodos de hipoxemia. |
Que tipo de doença? | Hipoglicemia |
Como se apresenta na ressonância? | – Em casos prolongados de hipoglicemia, as lesões são similares aquelas encontradas na hipoxemia-isquemia cerebral difusa.– Mais tipicamente envolvem bilateralmente o córtex, substância branca e o hipocampo.– Neste caso o envolvimento dos núcleos da base é menos frequente. |
Por quê? | – Fisiopatologia similar ao processo de injúria celular que ocorre na hipoxemia. |
Que tipo de doença? | Necrose laminar |
Como se apresenta na ressonância? | Hiperintensidade em T1 (sem contraste);– Tipicamente envolve o córtex (linear), raramente núcleos da base, tálamo e substância negra.– T2/FLAIR isointensidade a hiperintensidade. |
Por quê? | – Consequência de várias desordens que causam injúria cortical irreversível.– Citólise necrose edema reabsorção fagocitose do material necrótico macrófagos gordurosos geram depósito (explica a hiperintensidade em T1). – Córtex é especialmente mais vulnerável do que a substância branca, justificando seu maior acometimento em casos de necrose laminar. |
Que tipo de doença? | Encefalite |
Como se apresenta na ressonância? | – Quando a etiologia é herpética, geralmente há acometimento cortical mais importante e mais precocemente.– DWI vai mostrar hiperintensidades antes e melhor do que no FLAIR, comumente com baixos valores no ADC.– Na fase crônica, as estruturas envolvidas mostram atrofia subcortical e cortical. |
Por quê? | – Provavelmente por conta do vírus da herpes afetar primariamente neurônios. |
Que tipo de doença? | Síndrome da leucoencefalopatia posterior reversível (PRES) |
Como se apresenta na ressonância? | – Lesões em substância branca nos lobos occipital e posterior parietal, acomete também áreas de watershed. – Envolvimento do córtex é comum e também podem ser predominantes.– Lesões isointensas ou levemente hiperintensas em DWI;– Hiperintensas em T2, FLAIR e ADC, |
Por quê? | – Edema vasogênico é a maior característica nas imagens ponderadas na difusão (DWI).– Por conta da supressão do sinal do líquor subaracnoide, nas sequências ponderadas em FLAIR é melhor para detectar anormalidades corticais. |
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Referências:
- Renard D, et al. Cortical abnormalities on MRI: what a neurologist should know. Pract Neurol 2015;15:257–265.
- Abdel Razek A.A.K., Kandell A.Y., Elsorogy L.G.,. Elmongy A,. Basett A.A. Disorders of Cortical Formation: MR Imaging Features. American Journal of Neuroradiology Jan 2009, 30;1:4-11.
- A. Kangarlu, E.C. Bourekas, A. Ray-Chaudhury and K.W. Rammohan. Cerebral Cortical Lesions in Multiple Sclerosis Detected by MR Imaging at 8 Tesla. A. Kangarlu, E.C. Bourekas, A. Ray-Chaudhury and K.W. Rammohan
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