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Neurologia30 janeiro 2025

Indicação de uso dos biomarcadores plasmáticos em indivíduos com cognição normal?

Foi demonstrado que biomarcadores sanguíneos de amiloide e tau predizem a demência da doença de Alzheimer (DA).
Por Jesus Ventura

As doenças neurodegenerativas, como a doença de Alzheimer (DA), tem apresentado aumento crescente em incidência e prevalência. Tais condições ainda não possuem tratamento que modifique a história natural da doença e da neurodegeneração. Há enfoque progressivo no desenvolvimento de terapias modificadoras, onde potenciais intervenções em fases mais precoces da doença poderiam exercer efeito positivo na DA. Sendo assim, ganha espaço a possibilidade de realizar diagnósticos em fases precedentes à demência, como o comprometimento cognitivo leve (CCL), onde potenciais terapias modificadoras intervenham de forma anterior à instalação da demência, podendo modificar a evolução da doença. Como forma de realizar diagnóstico patológico, há disponibilidade de pesquisa com biomarcadores, sendo a dosagem no líquor mais utilizada clinicamente.  

Recentemente, os biomarcadores séricos para doença de Alzheimer começaram a ter seu uso na prática clínica. O artigo discute se há aplicabilidade dos biomarcadores séricos em predizer a conversão de um indivíduo cognitivamente normal para CCL, o que anteciparia o diagnóstico em fases inicias pré-demência, objetivando intervenções terapêuticas mais precoces. 

Descrição do estudo e resultados 

Foram coletadas amostras de sangue de indivíduos do estudo longitudinal BIOCARD, sendo realizadas dosagens de biomarcadores específicos para DA, como Aβ42/ Aβ40 e tau fosforilado (p-tau181), de neurodegeneração, como neurofilamentos leves (NfL) e proteína glial fibrilar ácida (GFAP) e marcadores inflamatórios, como YKL40 e sTREM2 (estes tendem a positivar devido reação inflamatória mediante a presença de neurodegeneração). Os indivíduos arrolados no estudo eram cognitivamente normais e foram seguidos durante determinado período, com definição de início dos sintomas de CCL através de avaliação cognitiva.  

Os biomarcadores específicos da DA apresentaram maior consistência em predizer a conversão de cognição normal para CCL (elevação de p-tau 181, baixos índices de beta amiloide plasmática). Por outro lado, biomarcadores inflamatórios apresentaram associação limitada em predizer a conversão, ficando positivos já em fases mais avançadas, onde a neurodegeneração já estaria instalada. Destaca-se também que níveis elevados de NfL e GFAP (marcadores de neurodegeneração, não específicos para DA) ao longo do seguimento aumentaram a chance de desenvolver CCL.   

Indicação de uso dos biomarcadores plasmáticos em indivíduos com cognição normal?

Discussão: biomarcadores plasmáticos em indivíduos com cognição normal 

Com o advento de drogas com potencial efeito de modificar a evolução da DA, ganha espaço a possibilidade de intervenções em fases pré demência, com o CCL. Os biomarcadores são sabidamente aliados no diagnóstico patológico de tal patologia. O artigo em questão evidencia que biomarcadores específicos de DA podem predizer a conversão de indivíduos cognitivamente normais para fases iniciais de CCL, sendo potenciais auxiliares nas definições patológicas e fases clínicas, com utilidade no recrutamento desses pacientes em pesquisas.  

Importante ressaltar que uma particularidade da coorte reside no fato de 75% da população envolvida ter parente de primeiro grau com demência, além disso a população foi composta majoritariamente por brancos. Outro fator importante é a alta escolaridade dos indivíduos estudados nessa coorte. Tais ponderações são importantes ao interpretar tais resultados e extrapolar conclusões para populações com diferentes perfis ao do estudo em questão. 

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Mensagens práticas 

  • Com o advento de potenciais intervenções modificadoras de doenças neurodegenerativas, fica cada vez mais clara a necessidade de diagnosticarmos indivíduos em estágios precoces de CCL; 
  • Entretanto, reforçamos que não há indicação rotineira de solicitação de biomarcadores séricos em indivíduos cognitivamente normais ou em fase de CCL; 
  • São necessários estudos com diferentes etnias, escolaridade e nível educacional, para garantir melhor análise de tais resultados nessas populações.   

Autoria

Foto de Jesus Ventura

Jesus Ventura

Médico graduado pela AFYA Faculdade de Ciências Médicas de Ipatinga em 2017. Neurologista formado no HCUFMG de 2018 a 2021. Neurologista assistente do IPSEMG. Professor na Faculdade Ciências Médicas de Minas Gerais.

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