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Neurologia18 agosto 2025

Gepants e Ditans: os novos horizontes no tratamento da enxaqueca 

A enxaqueca é uma das doenças neurológicas mais prevalentes e incapacitantes do mundo, afetando mais de 1 bilhão de pessoas globalmente, segundo a Organização Mundial da Saúde.
Por Victor Fiorini

Embora triptanos, anti-inflamatórios e profiláticos tradicionais ainda sejam amplamente utilizados, uma nova era no tratamento da enxaqueca vem sendo desenhada com o surgimento de terapias alvo-específicas, mais eficazes e com menos efeitos colaterais. Entre essas inovações, destacam-se os gepants e os ditans, duas novas classes de medicamentos com ação seletiva nos mecanismos fisiopatológicos da crise migranosa.  

A revolução do CGRP 

A descoberta do papel central do peptídeo relacionado ao gene da calcitonina (CGRP) na fisiopatologia da enxaqueca foi um divisor de águas. O CGRP é um potente vasodilatador liberado pelos neurônios trigeminais durante a crise de enxaqueca, contribuindo para a sensibilização periférica e central, além da dor pulsátil característica. Os gepants e ditans agem em diferentes pontos dessa cascata, com o objetivo de bloquear a transmissão do estímulo doloroso de forma mais específica e segura.  

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Gepants: antagonistas do receptor de CGRP  

Os gepants são pequenas moléculas que atuam como antagonistas do receptor de CGRP, impedindo a ligação do neuropeptídeo e bloqueando sua ação pró-inflamatória e vasodilatadora. Diferente dos triptanos, eles não causam vasoconstrição, sendo seguros para pacientes com histórico cardiovascular. 

Atualmente, alguns dos principais representantes dessa classe incluem: 

  • Ubrogepant 
  • Rimegepant 
  • Atogepant 
  • Zavegepant (forma intranasal) 

O ubrogepant e o rimegepant são utilizados para o tratamento agudo da enxaqueca, sendo administrados na fase inicial da crise, com eficácia comparável à dos triptanos na redução da dor e dos sintomas associados em até 2 horas. Já o atogepant e o rimegepant (também aprovado com regime de uso contínuo) têm se destacado na profilaxia, com redução significativa na frequência das crises mensais e melhora funcional global. 

O perfil de efeitos adversos é leve, geralmente limitado a náuseas, sonolência ou tontura. A segurança cardiovascular, a ausência de rebote de uso excessivo e a possibilidade de uso concomitante com outras classes favorecem a adesão em pacientes refratários ou com comorbidades.  

Ditans: agonistas seletivos do receptor 5-HT1F 

Os ditans, por sua vez, pertencem a uma classe distinta. O lasmiditan é o primeiro agonista seletivo do receptor serotoninérgico 5-HT1F, envolvido na inibição da transmissão nociceptiva no sistema trigeminovascular. Assim como os gepants, os ditans também não causam vasoconstrição, o que os torna uma alternativa importante para pacientes com contraindicação ao uso de triptanos. 

O lasmiditan é aprovado para o tratamento agudo da enxaqueca, com início de ação rápido e benefício clínico consistente na melhora da dor e sintomas como fonofobia, fotofobia e náuseas. Seu principal efeito adverso é a sedação, podendo causar sonolência intensa, tontura e, por isso, exige que o paciente evite dirigir ou operar máquinas por pelo menos 8 horas após a administração.  

Gepants e Ditans: os novos horizontes no tratamento da enxaqueca 

Quando considerar o uso de gepants ou ditans? 

Essas novas classes são especialmente úteis em situações clínicas onde os tratamentos tradicionais falham ou são mal tolerados. Entre as principais indicações práticas estão: 

  • Pacientes com enxaqueca refratária aos triptanos ou que apresentam efeitos adversos intoleráveis 
  • Indivíduos com contraindicações cardiovasculares, como doença arterial coronariana ou hipertensão não controlada 
  • Pacientes com uso frequente de triptanos, com risco de cefaleia por uso excessivo de medicação 
  • Necessidade de profilaxia com maior especificidade e tolerabilidade, especialmente em pacientes jovens ou com comorbidades psiquiátricas

E no Brasil? 

Até o momento, os gepants e ditans ainda não estão amplamente disponíveis no mercado brasileiro, embora alguns deles estejam em processo de avaliação regulatória pela ANVISA ou possam ser adquiridos por importação. No entanto, a incorporação dessas classes nos protocolos clínicos deve ser apenas uma questão de tempo, dado o crescente número de evidências de eficácia e segurança, além do impacto positivo na funcionalidade e qualidade de vida dos pacientes com enxaqueca.  

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Conclusão: tratamento da enxaqueca  

Os gepants e os ditans representam uma mudança significativa na abordagem terapêutica da enxaqueca, ao oferecerem mecanismos de ação mais específicos, melhor perfil de segurança e novas opções tanto para tratamento agudo quanto para prevenção. Ainda que o custo e a disponibilidade sejam fatores limitantes no momento, essas novas drogas expandem as possibilidades de manejo para pacientes com formas refratárias, contraindicações ou intolerância aos tratamentos tradicionais. À medida que se tornam mais acessíveis, espera-se que transformem o cuidado da enxaqueca crônica e episódica, com maior personalização terapêutica.

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Referências bibliográficas

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