Traumatismos crânio-encefálicos (TCEs) são condições frequentes em serviços de pronto-atendimento. Sua classificação se baseia na escala de coma de Glasgow (ECG), sendo TCE leve (ECG 13-15), moderado (ECG 9-12) ou grave (3-8). Não há consenso em relação à realização de TC de crânio de controle em casos de TCE leve, sendo que alguns serviços adotam a realização de TC de crânio seriada, já outros realizam TC de crânio baseado em decisões clínicas.
Tal ponto é discutido em revisão sistemática recentemente publicada e discutida abaixo.
Sobre o estudo
Revisão sistemática e metanálise que reuniu 37 estudos, publicados entre 2006 e 2024, incluiu aproximadamente 17.000 pacientes, com mais de 18 anos com TCE leve. O principal desfecho discutido na revisão foi a necessidade de intervenção neurocirúrgica baseada nas alterações tomográficas subsequentes. Outras questões debatidas incluíram a progressão de lesões radiológicas, deterioração clínica e mortalidade. Um ponto importante debatido foi sobre haver diferença entre realizar TC de controle de forma padronizada e seriada ou baseado em indicação clínica.
O estudo apresentou grande variabilidade da amostra, com idades de 28 a 81 anos em média, grupos que recebiam anticoagulação oral ou não, diferentes localizações de sangramento (intraparenquimatoso, subdural, subaracnóideo), além de diferenças entre os protocolos de repetição de TC de crânio.
Resultados: TC de crânio em pacientes com TCE leve
A necessidade de intervenção neurocirúrgica foi semelhante nos dois grupos: 2,8% no grupo que realizou TC seriada e 3,2% no grupo que realizou TC através de seleção clínica, com IC 0.71-1.09 p=0.24 (ou seja, sem diferença estatística). Com relação às demais questões, também não houve diferença entre os grupos.
Percebeu-se, porém, alguns preditores clínicos relacionados à piora, com maior risco de intervenção cirúrgica, os quais podem se beneficiar de protocolo de TC seriada mais rígida. São estes: volume de hemorragia intracraniana > 10 mL (OR >20); múltiplas lesões intracranianas (OR 11) e contusão temporal (OR em torno de 5).
Assim, discute-se sobre um score que pode direcionar a solicitação de TC de crânio nesses casos:
- Score BRAIN-CT: atribui 3 pontos para cada item de maior risco e 2 pontos para risco intermediário. Baixo risco inclui pontuação 0-2, moderado risco 3-5 e alto risco 6 pontos ou mais, sendo mandatório repetir imagem nesse último grupo.
Mensagens práticas
- É fundamental o uso racional de recursos em saúde, evitando realização desnecessária de exames que não impactam na mudança de conduta;
- Ainda há necessidade de padronização de tempo e indicação na realização de TC de crânio seriada, porém o estudo apresentado mostra pontos que poderão ser úteis na tomada de decisão e em desenhos futuros de estudos acerca desse tema;
- Nesses casos, vigilância clínica, reavaliação e verificação de sinais de alarme são fundamentais.
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