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Neurologia14 dezembro 2016

Doença de Alzheimer: testes genéticos em pessoas com fator de risco podem ajudar?

A incidência da Doença de Alzheimer depende diretamente da idade e, apesar dos avanços científicos, a influência genética não é completamente compreendida.

Por Rodrigo Buksman

A Doença de Alzheimer (DA) é o tipo mais comum de demência na atualidade e acomete cerca de 4.7% da população mundial com 60 anos ou mais. Sua incidência depende diretamente da idade e estima-se que dobre a cada dez anos após os 60. Apesar dos avanços científicos das últimas décadas, a influência genética como fator de risco ao desenvolvimento da doença não é completamente compreendida, mas nos casos de DA precoce do tipo familiar esse elo torna-se mais evidente. Sabe-se que pouco mais de 1% dos pacientes com DA tem o quadro clínico iniciado muito antes do esperado, entre 30 e 60 anos de idade. Quando surgem casos assim, é comum a ocorrência da doença em outros parentes próximos. Nesse cenário, foram estudadas famílias com padrão de DA por herança do tipo autossômica dominante, e em seguida identificadas mutações em três genes: présenilina 1 (PSEN1) localizado no cromossoma 14q, présenilina 2 (PSEN2) no cromossoma 1q e precursor da proteína amiloide (APP), no cromossoma 21. Desse modo, essas alterações estariam presentes em menos de 1% de todos os casos de DA, mas em 60-70% dos casos de DA precoce.

Por outro lado, pacientes com DA típica ou de início tardio possuem influências genéticas e ambientais mais complexas. O fator de risco genético estabelecido de forma mais consistente nesses casos diz respeito a alterações no gene da apolipoproteína E (APOE), mapeado no braço longo do cromossoma 19. Esse gene existe em três alelos (formas alternativas do mesmo gene), épsilon 2, 3 e 4. O alelo épsilon 4 da apolipoproteína E, também conhecido como APOE4 confere aumento significativo do risco de surgimento de DA de início tardio, e em alguns estudos correlaciona-se também com formas mais graves da doença. Pode-se dizer que o gene da APOE interfere apenas no aumento da suscetibilidade, não sendo nem absolutamente necessário nem suficiente para o desenvolvimento da doença. Consequentemente, outros fatores ambientais e até genéticos estariam envolvidos. Desse modo, a identificação através de genotipagem de indivíduos homozigotos para APOE4 confere aumento do risco de desenvolver a doença aproximadamente 9 vezes maior que indivíduos homozigotos para APOE3 (neutro), enquanto que o alelo E2 ofereceria papel protetor. Por outro lado, até 40% dos indivíduos portadores de DA desenvolvem a doença mesmo na ausência do alelo E4.

Um aspecto que não pode ser esquecido nesse contexto é o impacto psicológico provocado pelo resultado de um exame capaz de ajudar a definir com anos de antecedência o risco potencial do desenvolvimento de uma doença tão dramática e incapacitante. Visando mensurar as consequências desse impacto, um trabalho publicado na renomada revista médica New England Journal of Medicine analisou as diferentes reações de 162 voluntários submetidos a genotipagem para APOE4, todos filhos de pacientes portadores de DA. O resultado foi surpreendente pois aqueles com a comprovação do risco maior de doença através do resultado do teste não apresentaram mais estresse, ansiedade ou depressão que os participantes que não souberam o resultado. Além disso, no grupo com risco menor da doença comprovado pelo exame através da ausência do alelo E4, houve diminuição do estresse devido a sensação de alívio oriundo do bom resultado.

Veja também: ‘Depressão nos idosos. Como identificar?’

Em suma, pode-se dizer de uma forma geral que a história familiar de demência é um fator de risco para a Doença de Alzheimer. Indivíduos com parentes próximos (pais, filhos, irmãos) tem um risco 10 a 30% maior que a população em geral de desenvolver a doença. As perguntas do público com relação a necessidade e importância dos exames de genotipagem são cada vez mais frequentes, uma vez que esses testes tornaram-se bastante acessíveis. O uso em larga escala de testes genéticos para pacientes assintomáticos ainda não é recomendado por entidades médicas reconhecidas no âmbito internacional, e um dos motivos dessa posição é a ausência de estratégias terapêuticas que beneficiassem eventuais futuros portadores de demência. No entanto, quando o foco é a prevenção, a decisão de fazer ou não esse tipo de exame obtido através de uma simples coleta de sangue, permanece sendo uma opção individual que exige aconselhamento e acompanhamento médico especializado.

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Autoria

Foto de Rodrigo Buksman

Rodrigo Buksman

Rodrigo Barros Buksman, concluiu a faculdade de Medicina em 2005. Completou seu treinamento como Clínico Geral na tradicional Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro, seguido de mais um programa de residência médica no Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE) / Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) onde tornou-se Geriatra. Após processo seletivo, passou por um período de treinamento intensivo no Departamento de Geriatria e Cuidados Paliativos do Hospital Mount Sinai (EUA) vinculado à Universidade de Nova Iorque (NYU). Retornou ao Brasil em 2010, ano em que obteve o Título de Especialista em Geriatria pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG/AMB). Aprovado em concurso público federal, passou a fazer parte do corpo clínico do Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (INTO), onde acompanha pacientes em pré e pós operatório. Em meados de 2007 passou a fazer parte da rotina de Clínica Médica de um hospital privado de grande porte e tornou-se Chefe de Equipe. Nesse cenário ao longo de 8 anos especializou-se na condução e supervisão de casos clínicos de alta complexidade. Médico do Beep Saúde - Health Care On Demand.

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