Logotipo Afya
Anúncio
Neurologia2 outubro 2025

Desmielinização aguda do sistema nervoso central: Desvendando a causa em crianças 

Quais são as principais condições responsáveis para desmielinização aguda do sistema nervoso central em pediatria?  

Quando uma criança apresenta um quadro neurológico súbito com lesões desmielinizantes no sistema nervoso central, o desafio diagnóstico é grande. A desmielinização significa que a mielina — a capa protetora dos neurônios — sofre agressão, e isso pode se manifestar de diferentes formas. Mas quais são as principais condições responsáveis por esse processo em pediatria?  

  1. ADEM: um clássico pós-infecção

encefalomielite aguda disseminada (ADEM) costuma surgir após uma virose ou até uma vacinação. O quadro clínico é marcado por sintomas multifocais, febre, cefaleia, rigidez de nuca e, principalmente, alteração do nível de consciência. A ressonância magnética mostra múltiplas lesões de substância branca e cinzenta, geralmente assimétricas. 

Embora geralmente seja monopásica, em alguns casos pode ocorrer uma forma recorrente (ADEM multipásica), exigindo acompanhamento atento.  

  1. Esclerose múltipla na infância

Apesar de rara em crianças, a esclerose múltipla (EM) também pode ser o diagnóstico por trás de uma desmielinização aguda. Estima-se uma incidência de 2,5/100.000 na população pediátrica. 

A forma mais comum é a remitente-recorrente, semelhante à do adulto. Mas alguns detalhes diferenciam a apresentação em jovens: neurite óptica isolada, síndrome de tronco cerebral ou até sintomas “encefalíticos”, como crises epilépticas e alterações de consciência.  

  1. Síndrome clinicamente isolada (CIS)

Às vezes, a criança tem apenas um primeiro episódio de desmielinização — chamado de síndrome clinicamente isolada. Pode se manifestar como neurite óptica, mielite ou um quadro cerebelar/encefálico. O dilema é saber: será um evento único ou o início de uma doença crônica como a EM?  

  1. Neurite óptica

A inflamação do nervo óptico pode ocorrer de forma isolada ou associada a outras condições desmielinizantes. Em crianças pequenas, muitas vezes é bilateral, diferentemente dos adultos. Além da perda visual subaguda, pode haver dor ocular, defeito pupilar aferente e edema de papila. Embora a maioria recupere bem a visão, a presença de lesões no encéfalo na ressonância aumenta o risco futuro de EM.  

  1. Mielite transversa

mielite transversa se instala de forma abrupta, com fraqueza, alterações sensitivas e disfunção esfincteriana. Em crianças, costuma ter relação autoimune, muitas vezes precedida de febre ou vacinação. A ressonância revela lesão inflamatória medular extensa, e até 40% dos pacientes podem manter alguma sequela.  

  1. NMOSD: mais que “a doença deDevic”

espectro da neuromielite óptica (NMOSD) é marcado por episódios graves de neurite óptica e mielite, geralmente com curso recorrente. O anticorpo anti-aquaporina-4 (AQP4-IgG) ajuda no diagnóstico e diferencia de outras condições. Em crianças, além dos olhos e medula, podem surgir sintomas como vômitos intratáveis, crises epilépticas ou alterações endócrinas.  

  1. MOGAD: a “nova estrela” daneuroimunologia

 doença associada ao anticorpo contra a glicoproteína da mielina do oligodendrócito (MOGAD) ganhou destaque nos últimos anos. Pode imitar ADEM, neurite óptica, mielite ou até encefalite cortical. A boa notícia é que, na maioria dos casos, responde bem ao corticoide e tem menor chance de evoluir para incapacidade crônica quando comparada à EM ou NMOSD.  

  1. Outras causas importantes

Além das condições imunomediadas, devemos lembrar: 

  • Doenças autoimunes sistêmicas, como lúpus e neurossarcoidose.
  • Vasculite primária do SNC, rara mas possível em crianças. 
  • Mimetizadores não inflamatórios, como leucodistrofias, doenças mitocondriais e até tumores.

Conclusão: desmielinização aguda do sistema nervoso central 

O diagnóstico da desmielinização aguda em crianças exige olhar clínico apurado, uso criterioso da ressonância magnética e, quando disponível, testes de anticorpos específicos. O seguimento longitudinal é essencial, já que algumas condições são autolimitadas, enquanto outras marcam o início de doenças crônicas.

Autoria

Foto de Thiago Nascimento

Thiago Nascimento

Formado em Medicina pela Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF) em 2015. Residência Médica em Neurologia no Hospital Geral Roberto Santos (HGRS) Salvador - Bahia (2016-2019). Membro titular da Academia Brasileira de Neurologia (ABN). Mestrando em Ciências da Saúde pela UFBA (PPGCs - UFBA). Preceptor da Residência de Neurologia do HU- UFS - (Ebserh - Aracaju- SE). Médico Neurologista - Membro do Ambulatório de Neuroimunologia do HU- UFS - (Ebserh - Aracaju- SE). Professor na Afya Educação Médica.

Como você avalia este conteúdo?

Sua opinião ajudará outros médicos a encontrar conteúdos mais relevantes.

Compartilhar artigo

Referências bibliográficas

Newsletter

Aproveite o benefício de manter-se atualizado sem esforço.

Anúncio

Leia também em Pediatria