Crise de enxaqueca: qual o papel do valproato?

Seja no ambulatório, pronto-socorro, enfermaria ou até em leito de UTI, a enxaqueca é um dos principais diagnósticos diferenciais a se considerar em casos de cefaléia. Caracterizada por cefaleia intensa, duradoura e repleta de efeitos colaterais, a síndrome é considerada importante causadora de abstenções no trabalho, podendo se tornar quase incapacitante nos casos mais graves e de tratamento difícil.

Não raramente, pacientes em crise procuram atendimento médico de emergência para controle da dor, em especial quando as medicações de uso domiciliar não são suficientes. 

Leia também: Manejo de cefaleias trigeminoautonômicas: uma revisão

Opções terapêuticas para tratamento das crises 

Várias medicações podem ser usadas para resolução das crises e a lista inclui desde antiinflamatórios e analgésicos comuns, até anticonvulsivantes e tratamentos mais específicos como os triptanos. Qual medicação escolher depende da experiência profissional e do paciente, além de contraindicações que podem impedir o uso de alguma das drogas. 

O valproato de sódio já é bem estabelecido como medicamento para enxaqueca, porém principalmente como medicação profilática. O uso eventual para interrupção de crises já tinha se mostrado eficaz na experiência de muitos profissionais, o que desencadeou uma série de pesquisas comparando essa e outras drogas de uso mais consolidado. 

Uso do valproato nas crises agudas de enxaqueca 

Um estudo recente publicado no The American Journal of Emergency Medicine comparou a eficácia do valproato de sódio com a do ibuprofeno intravenoso. Os resultados evidenciaram que a eficácia do anticonvulsivante foi superior à do antiinflamatório, com um NNT (número necessário para tratar) significativamente menor e com significância estatística.  

Estudos comparando o valproato com outros medicamentos também existem, mas seus resultados são conflitantes. Alguns estudos comparando o valproato à metoclopramida e ao sumatriptano mostraram melhor efeito do valproato. No entanto, outros trabalhos não observaram estes achados. Um estudo iraniano comparando a medicação versus dexametasona mostrou efeito semelhante das duas drogas para enxaqueca sem aura, porém o efeito do valproato foi superior na enxaqueca com aura.

Leia também: Estudo analisa riscos de danos cerebrais causados pela covid-19

Conclusão 

É importante lembrar que as pesquisas, até o momento, têm usado o valproato de sódio intravenoso. Apesar de ser possível o uso da formulação via oral, poucos estudos compararam sua eficácia em relação a outras drogas, especialmente às intravenosas.  

Assim, não é possível garantir os efeitos da medicação por via oral na prática clínica. Diversos trabalhos estão em andamento para ampliar os conhecimentos nessa área e estabelecer, ou não, o valproato como medicação indicada na crise de enxaqueca.