Como individualizar o atendimento ao idoso na UTI?
A idade não é o único fator na admissão do paciente idoso na UTI, sendo necessário um atendimento objetivo e individualizado.
No Brasil, a população idosa compreende indivíduos com idade igual ou superior a 60 anos. Estima-se que até 2050, devido à dinâmica demográfica atual, o contingente de idosos no país seja de aproximadamente 25%.
Com o aumento desse contingente, aumentam-se também as demandas por cuidados críticos à medida que a população envelhece. Sabe-se que idosos acima de 80 anos já constituem 15% a 20% das internações em Unidades de Terapia Intensiva (UTI) em países desenvolvidos.
Contudo, o atendimento desses pacientes ainda constitui um desafio para o profissional médico, sobretudo devido à heterogeneidade quanto ao estado de saúde dessa população, o que torna difícil identificar, de maneira precoce — entre pacientes da mesma idade — aqueles que mais se beneficiariam de cuidados intensivos.
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O manejo das complicações relacionadas ao envelhecimento — fragilidade, deterioração cognitiva, perda da capacidade funcional, polifarmácia —, em especial em pacientes idosos críticos com comprometimento de múltiplos sistemas orgânicos ainda é complexo. Por isso, é importante entender que a idade não é o único fator decisório na admissão do paciente idoso na UTI, sendo necessário instituir um atendimento objetivo e individualizado a essa parcela.
Individualizando os cuidados
Para entender a individualização dos cuidados do idoso, é importante compreender que a heterogeneidade entre o “envelhecimento fisiológico” e o “envelhecimento biológico” é essencial no momento de decidir qual paciente terá benefício na internação em uma UTI e qual não se beneficiará de cuidados intensivos.
Sistemas tradicionais de predição de prognóstico como o Sequential Organ Failure Assessment (SOFA) e o Simplified Acute Physiology Score (SAPS) não se mostram tão eficazes ao classificar a real gravidade da doença em pacientes mais idosos.
Com o intuito de avaliar esses fatores, um estudo europeu desenvolvido em 22 países da Europa analisou a mortalidade em 30 dias de pacientes idosos admitidos em UTI com idade igual ou superior a 80 anos, os quais foram divididos em 7 subgrupos (clusters) que levaram em consideração aspectos demográficos, quantidade de filhos, motivo da admissão na UTI e SOFA admissional.
O estudo, apesar de realizado apenas em um continente, trouxe dados importantes acerca da mortalidade de idosos que confrontam o senso comum de que pacientes idosos frágeis com uma pontuação elevada no SOFA teriam um pior desfecho que idosos frágeis de mesma idade com menor pontuação na mesma escala.
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Conclusão
Diferentes fenótipos demandam diferentes cuidados quando se trata do manejo do idoso na UTI. A individualização por meio de clusters se mostrou promissora no manejo dessa parcela, demonstrando que ainda existem falhas nos cuidados intensivos com o idoso, sobretudo devido à heterogeneidade da população em questão.
Entretanto, novos estudos ainda se fazem necessários para uma melhor avaliação do desfecho desses pacientes no que tange à qualidade de vida e capacidade funcional após a internação.
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