A cetamina é um anestésico potente muito usado para procedimentos sob sedação e alívio da dor momentânea, e muitas vezes utilizada de forma off-label para tratamento da dor crônica principalmente relacionada a fibromialgia, dores de origem neural e síndromes dolorosas complexas.
É uma medicação que age como um antagonista de receptores N-metil-D-Aspartato (NMDA), bloqueando receptores centrais envolvidos na sinalização dolorosa.
Esse estudo realizado por pesquisadores da UNSW Sydney, na Austrália, e pela Brunel University de Londres com a análise de 67 casos envolvendo mais de 2.300 pacientes adultos comparando a eficácia de cinco medicações antagonistas de receptor NMDA: cetamina, memantina, dextrometorfano, cloridrato de amantadina e magnésio, demonstrou que não há uma evidência clara de benefício do uso de cetamina para tratamento da dor crônica em nenhuma dose ou estratégia, com um risco aumentado de efeitos adversos como delírios, paranoia, náuseas e vômitos.
Estudo
O estudo foi realizado com o objetivo de avaliar os benefícios e prejuízos do uso de cetamina e outros antagonistas NDMA comparado a placebo, ou cuidados normais ou outras medicações em pacientes adultos com dor crônica não oncológica.
Analisou-se 67 estudos com o total de 2.309 participantes. A maioria dos pacientes eram de países de alta renda. Em relação as medicações estudadas, 39 estudos eram sobre cetamina, 10 sobre memantina, 9 sobre dextrometorfano, 3 sobre cloridrato de amantadina e 8 sobre magnésio. Sessenta e dois estudos utilizaram placebo como método comparador.
Resultados do estudo sobre cetamina
Cetamina venosa x placebo
Não houve evidências claras que a cetamina intravenosa reduzisse a intensidade da dor de forma imediata, dentro de 48 horas a uma semana (MD-15,79, IC 95%-32,09 a 0,51; 3 estudos, 173 participantes; certeza muito baixa), nem a curto prazo de até 3 meses (MD-5,32, IC 95%-15,51 a 4,87; 4 estudos 114 participantes; baixa certeza), ou a médio prazo de 3 a 6 meses (MD-8,70, IC 95%-31,05 a 13,65; 1 estudo, 19 participantes; certeza muito baixa)
Além disso demonstrou que a cetamina intravenosa poderia aumentar os riscos de efeitos adversos (RR 3,26, IC 95% 1,05 a 10,09; 4 estudos,140 participantes; baixa certeza).
Cetamina oral x placebo
Não houve evidências claras de que a cetamina oral reduza a intensidade da dor no prazo imediato (MD-2,64, IC 95%-13,42 a 8,14; 2 estudos, 46 participantes; baixa certeza).
Nessa comparação, nenhum estudo relatou eventos adversos totais.
Cetamina tópica X placebo
Não houve evidências claras que a cetamina usada de forma tópica reduzisse a intensidade da dor no prazo imediato (MD 1,90, IC 95%-18,73 a 22,53; 1 estudo, 47 participantes; certeza muito baixa) ou a curto prazo (MD 2,82, IC 95%-14,49 a 20,12; 2 estudos, 64 participantes; baixa certeza).
Em relação aos efeitos adversos, da mesma forma, também não houve evidências claras de que a cetamina por essa via aumente os riscos de ocorrência destes (RR 1,14, IC 95% 0,47 a 2,73; 1 estudo, 47 participantes; baixa certeza).
Outros Antagonistas NMDA
Também não houve evidências claras de que as outras medicações analisadas no estudo como a memantina oral ou a dextrometorfano ou magnésio oral ou venoso reduzissem a intensidade da dor em comparação com o placebo, apresentando evidências incertas sobre os efeitos colaterais.
Conclusão
Ainda não está claro que a administração de cetamina seja por via venosa, oral ou tópica reduza a intensidade da dor em pacientes com dor crônica não oncológica, porém há um aumento da ocorrência de efeitos adversos não desejados, como delírios, paranoia, náuseas e vômitos quando administrada de forma venosa.
Também ainda não se estabeleceu evidências claras, se os outros antagonistas NMDA reduzam a intensidade da dor nesses pacientes ou se têm aumento da incidência de efeitos indesejados.
Maiores estudos são necessários para determinar com precisão os benefícios e danos que a cetamina e outros antagonistas NMDA possam causar em pacientes portadores de dor crônica não oncológica.
Autoria

Gabriela Queiroz
Pós-Graduação em Anestesiologia pelo Ministério da Educação (MEC) ⦁ Pós-Graduação em Anestesiologia pelo Centro de Especialização e Treinamento da Sociedade Brasileira de Anestesiologia (CET/SBA) ⦁ Graduação em Medicina pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) ⦁ Membro da Sociedade Brasileira de Anestesiologia (SBA) ⦁ Membro da American Academy of Pain Medicine ⦁ Ênfase em cirurgias de trauma e emergência, obstetrícia, plástica estética reconstrutiva e reparadora e procedimentos endoscópicos ⦁ Experiência em trauma e cirurgias de emergência de grande porte, como ortopedia, vascular e neurocirurgia ⦁ Experiência em treinamento acadêmico e liderança de grupos em ambiente cirúrgico hospitalar ⦁ Orientadora acadêmica junto à classe de residentes em Anestesiologia ⦁ Orientadora e auxiliar em palestras regionais e internacionais na área de Anestesiologia.
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