Cannabis para dor neuropática
A dor neuropática é difícil de tratar e as opções farmacêuticas são limitadas, mas pesquisas demonstraram a eficácia da cannabis medicinal.
A dor neuropática é definida como uma dor causada pela lesão ou doença do sistema nervoso somatosensitivo. Seu tratamento continua sendo um desafio para especialistas, já que os agentes farmacológicos conhecidos e utilizados apresentam ineficiência analgésica, fenômeno de tolerância ou contraindicações devido a comorbidades do paciente.
A lesão inicial no sistema nervoso central ou periférico que leva à dor neuropática pode ser causada por vários insultos, incluindo trauma (hérnia de disco, compressão por tumor), exposição a toxinas (quimioterapia, álcool), infecção (HIV, herpes zoster), anormalidades metabólicas (diabetes, deficiências de vitaminas) e ativação anormal do sistema imunológico (esclerose múltipla).
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A inflamação que ocorre após a lesão, expõe o nervo a diversas citocinas inflamatórias, que através da maior expressão de canais de Na e Ca, levam a uma diminuição do limiar de excitabilidade, fazendo com que o nervo dispare estímulos dolorosos mesmo na ausência de um estímulo conhecido, promovendo sensibilização periférica. Ao mesmo tempo, a lesão nervosa periférica e a inflamação ativam células da glia dentro da medula espinhal, promovendo sensibilização central, inibindo a via modulatória descendente e contribuindo para a manutenção da dor.
Cannabis medicinal
O uso da cannabis para fins medicinais datam há mais de 5.000 anos. O sistema canabinoide, descoberto na última metade do século XX foi palco de diversos estudos que sugerem benefício do uso da cannabis, inclusive com NNT (número necessário para tratar) semelhante aos fármacos convencionais e com menos efeitos adversos, para o tratamento da dor neuropática. O sistema canabinoide é composto basicamente de receptores CB1 – localizados no SNC, SNP e órgãos – e receptores CB2, com maior ação no sistema imune.
Alguns desses estudos foram realizados com a cannabis inalada, seja através de cigarros ou através de um novo dispositivo que vaporiza a planta. Esse dispositivo aquece o material a uma temperatura que libera os canabinoides ativos sem produzir compostos prejudiciais associados com a combustão do carbono.
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Outros estudos, realizados na Europa comparando os extratos de THC (delta-9 tetrahidrocanabinol), CBD (canabidiol) e THC: CBD (1: 1) com placebo demonstraram reduções significativas nos escores médios de gravidade da dor e melhora nas medidas do sono em pacientes com dor neuropática devido a várias etiologias, incluindo esclerose múltipla, lesão de medula espinhal, lesão de plexo braquial, neuralgia pós-herpética e síndrome de dor complexa regional. Os efeitos adversos mais comuns foram problemas gastrointestinais e tonturas, autolimitados e resolvidos com a descontinuação da medicação.
Cannabis e dor neuropática
A dor neuropática é difícil de tratar e os efeitos adversos costumam limitar muitas opções farmacêuticas. Pesquisas conduzidas nas últimas duas décadas demonstraram eficácia da cannabis medicinal comparável às terapias atuais para o tratamento da dor neuropática. Esses dados são limitados por pequenos tamanhos de amostra e estudos de curta duração, mas parecem apoiar a segurança e a tolerabilidade da vaporização da cannabis e da distribuição pela mucosa oral. Mais estudos são necessários para avaliar os resultados funcionais, além de escores de dor, tolerabilidade a longo prazo, dosagem ideal e vias alternativas de administração e fornecer educação e orientação para médicos.
Referências bibliográficas:
- Lee G, Grovey B, Furnish T, Wallace M. Medical Cannabis for Neuropathic Pain. Curr Pain Headache Rep. 2018 Feb 1;22(1):8. doi: 10.1007/s11916-018-0658-8.
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