Caminhar pode reduzir o risco de demências, indica estudo
Estudo britânico de coorte prospectivo analisou o impacto de passos diários na redução da incidência de demências em idosos. Conheça!
Optar por dar um maior número de passos diariamente está relacionado a redução de risco de mortalidade cardiovascular e redução na incidência de diabetes. A atividade física, a partir da contagem de passos ao longo de um dia, tem sido uma abordagem popular para prover alvos em saúde para a população em geral.
A JAMA Neurology publicou recentemente um artigo que se propõe a estudar a associação de dose-resposta entre contagem de passos diários e de sua intensidade com a incidência de causas de demência em uma grande amostra de adultos no Reino Unido que utilizaram acelerômetros em punho.
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Como foi o estudo?
Ele tinha como objetivo examinar a associação de dose-resposta entre contagem de passos diários e de sua intensidade com a incidência de causas de demência entre adultos do Reino Unido.
Métodos
Estudo de coorte prospectivo baseado em população proveniente do UK Biobank. A população estudada foi avaliada através de dados do UK Biobank entre fevereiro 2013 e dezembro 2015. Foram obtidos 236.519 participantes elegíveis que proveram endereço telefônico válido.
Ao todo, 103.684 participantes aceitaram o convite à pesquisa e instruídos a utilizar o acelerômetro Axivity AX3 no punho dominante 24 horas por dia e sete dias por semana para aferir a atividade física. O uso desse dispositivo possibilitou contagem de passos incidentais (< 40 passos por minuto), passos propositais (> 40 passos por minuto) e pico de cadência em 30 minutos.
Um total de 78.430 participantes, entre 40 e 79 anos, com pelo menos três dias válidos (mais de 16 horas de uso), com dados completos de variáveis e que não apresentavam morbidades no baseline de doenças cardiovasculares, neoplasias e demência foram incluídos na análise.
Tais participantes foram monitorados a partir de outubro de 2021 com avaliação de incidência de demência (fatal ou não) obtida através de registros de atenção básica, internação hospitalar ou certificações de óbito. A análise estatística para avaliar associações de dose resposta foi realizada através de regressão de Cox.
Resultados
Entre os 78.430 participantes analisados no estudo, a idade mediana foi entre 61,1 anos, sendo 44,7% homens e 55,3% mulheres. O tempo mediano de follow up foi em torno de 6,9 anos, sendo que 866 participantes desenvolveram demência, com idade em torno de 68,3 anos e 55,4% homens e 54,6% mulheres.
Foi observado que indivíduos mais jovens, saudáveis (considerados como baixas taxas de consumo de álcool e tabaco e maior consumo de frutas/vegetais) apresentaram maior número de passos na amostra desse estudo.
A análise revelou associações não-lineares de passos diários com o desfecho de incidência de demência. A dose considerada como “ótima” girou em torno de 9826 passos (HR 0.49, IC95% 0.39-0.62) enquanto a dose mínima ficou em torno de 3826 passos (HR 0.75, IC95% 0.67-0.83).
Discussão
O resultado desse estudo apresenta implicações para saúde pública. Os achados dessa publicação sugerem que 9.800 passos diários são considerados como a “dose ótima” para reduzir o risco de demência.
A dose mínima de passos diários apresentou resultado interessante para a prática clínica diária. A dose mínima de 3.800 passos diários apresentou associação com redução de 25% na incidência de demência.
Um ponto positivo para esse estudo é o seu tamanho amostral. Por outro lado, um dado limitante é que foi um estudo observacional com baixa taxa de resposta dos participantes do UK Biobank (em torno de 5,5%) o que poderia indicar uma baixa representatividade – embora estudos prévios já demonstraram que essa baixa taxa de resposta não necessariamente influencie em associações entre atividade física e desfechos em saúde.
Mensagem prática
A contagem de passos apresentou associação com redução na incidência de demência. É uma recomendação de fácil comunicação e interpretação para os pacientes na prática clínica.
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