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Neurologia26 novembro 2024

Ataxias: do que todo médico precisa saber?

Saiba mais sobre as ataxias, que são desordens neurológicas caracterizadas por falhas na coordenação muscular.

Este conteúdo foi produzido pela Afya em parceria com Biogen de acordo com a Política Editorial e de Publicidade do Portal Afya.

A Ataxia de Friedreich (AF) é uma condição neurodegenerativa hereditária que representa a forma mais comum de ataxia genética em populações de origem europeia. Embora rara, a doença possui impactos significativos na vida dos pacientes, afetando não apenas a função motora, mas também sistemas multissistêmicos, como o cardíaco e o endócrino.1-3

Todo médico que atenda a pacientes com sintomas neurológicos de ataxia ou suspeita de desordem hereditária deve estar ciente dos principais aspectos clínicos, genéticos e terapêuticos dessa condição, que será abordada em profundidade a seguir.

Definição e epidemiologia das ataxias

As ataxias são um grupo de desordens neurológicas caracterizadas por falhas na coordenação muscular, afetando o controle dos movimentos voluntários. Essa descoordenação pode comprometer a marcha, o equilíbrio, a fala (deixando-a disártrica) e a coordenação dos membros. A AF é, especificamente, uma ataxia espinocerebelar progressiva de herança autossômica recessiva, afetando cerca de uma em cada 29 mil pessoas de origem caucasiana.1 As taxas de prevalência variam consideravelmente, sendo a condição mais comum no sudoeste da Europa (Espanha e França) e com ocorrência mais baixa na Escandinávia e na Ásia.2,3

Genética e mecanismos moleculares das ataxias

A AF é causada por uma mutação no gene FXN, localizado no cromossomo 9, que leva a uma expansão do trinucleotídeo GAA no primeiro íntron do gene em cerca de 98% dos casos. Essa expansão reduz a produção de frataxina, uma proteína essencial para a função mitocondrial, causando acúmulo de ferro mitocondrial e estresse oxidativo que danifica células neuronais e miocárdicas.4,5

Características clínicas da Ataxia de Friedreich

A AF geralmente se manifesta na infância ou na adolescência, com sintomas iniciais entre os 10 e 15 anos de idade. Os sintomas principais incluem ataxia progressiva de marcha, disartria, arreflexia nos membros inferiores e perda de propriocepção. Com o avanço da doença, é comum a presença de deformidades ósseas, como escoliose e pés cavos, além de disfunções sistêmicas, como cardiomiopatia hipertrófica, presente em 60 a 80% dos casos, e diabetes mellitus, observada em até 30% dos pacientes.6 A progressão é inevitável, com a maioria dos pacientes tendo graves limitações de mobilidade de 10 a 15 anos após o início dos sintomas.5

Outras ataxias genéticas

As ataxias genéticas podem ser classificadas segundo os mecanismos de herança e as características clínicas. Além da AF, as ataxias espinocerebelares (SCAs) representam um grupo de desordens herdadas de forma autossômica dominante, com sintomas sobreponíveis aos da AF, mas que tendem a ter início mais tardio e uma progressão mais lenta. Outras ataxias incluem a ataxia-telangiectasia, que é autossômica recessiva e caracterizada por ataxia progressiva, imunodeficiência e risco aumentado de neoplasias, e a ataxia com deficiência de vitamina E, uma condição semelhante à AF, mas tratável com suplementação dessa vitamina.1,5

Diagnóstico diferencial das ataxias

O diagnóstico diferencial da AF inclui outras condições genéticas e adquiridas que compartilham características de descoordenação motora e neuropatia. Entre as ataxias hereditárias, é essencial diferenciar a AF da ataxia com apraxia oculomotora (AOA1 e AOA2), da ataxia espinocerebelar e da ataxia-telangiectasia. A AOA1 e a AOA2, por exemplo, são condições autossômicas recessivas com características clínicas distintas, como apraxia oculomotora e polineuropatia, que as diferenciam da AF.5

Além das ataxias genéticas, as ataxias adquiridas podem simular a AF e incluem as neuropatias inflamatórias, carenciais (deficiência de vitamina E), autoimunes e tóxicas. Uma história clínica detalhada, combinada com exames de imagem, estudos eletrofisiológicos e testes genéticos, é fundamental para excluir outras causas, garantindo um diagnóstico preciso.7

Conclusão

Para os profissionais de saúde, o conhecimento aprofundado sobre a AF é crucial para um manejo eficaz e orientado, com foco no diagnóstico diferencial e na identificação de complicações sistêmicas. A identificação precoce e o aconselhamento genético são aspectos fundamentais, principalmente em famílias com histórico da condição. Apesar de ainda não existirem terapias que modifiquem o curso da AF, os avanços em pesquisa oferecem perspectivas promissoras para novas abordagens terapêuticas, incluindo a terapia gênica e o uso de inibidores epigenéticos para modular a expressão de frataxina. Esses esforços destacam a importância de um acompanhamento clínico multidisciplinar para a otimização da qualidade de vida dos pacientes e o manejo de suas comorbidades.2,4,6

 

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Referências bibliográficas

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