Ataxias: do que todo médico precisa saber?
Este conteúdo foi produzido pela Afya em parceria com Biogen de acordo com a Política Editorial e de Publicidade do Portal Afya.
A Ataxia de Friedreich (AF) é uma condição neurodegenerativa hereditária que representa a forma mais comum de ataxia genética em populações de origem europeia. Embora rara, a doença possui impactos significativos na vida dos pacientes, afetando não apenas a função motora, mas também sistemas multissistêmicos, como o cardíaco e o endócrino.1-3
Todo médico que atenda a pacientes com sintomas neurológicos de ataxia ou suspeita de desordem hereditária deve estar ciente dos principais aspectos clínicos, genéticos e terapêuticos dessa condição, que será abordada em profundidade a seguir.
Definição e epidemiologia das ataxias
As ataxias são um grupo de desordens neurológicas caracterizadas por falhas na coordenação muscular, afetando o controle dos movimentos voluntários. Essa descoordenação pode comprometer a marcha, o equilíbrio, a fala (deixando-a disártrica) e a coordenação dos membros. A AF é, especificamente, uma ataxia espinocerebelar progressiva de herança autossômica recessiva, afetando cerca de uma em cada 29 mil pessoas de origem caucasiana.1 As taxas de prevalência variam consideravelmente, sendo a condição mais comum no sudoeste da Europa (Espanha e França) e com ocorrência mais baixa na Escandinávia e na Ásia.2,3
Genética e mecanismos moleculares das ataxias
A AF é causada por uma mutação no gene FXN, localizado no cromossomo 9, que leva a uma expansão do trinucleotídeo GAA no primeiro íntron do gene em cerca de 98% dos casos. Essa expansão reduz a produção de frataxina, uma proteína essencial para a função mitocondrial, causando acúmulo de ferro mitocondrial e estresse oxidativo que danifica células neuronais e miocárdicas.4,5
Características clínicas da Ataxia de Friedreich
A AF geralmente se manifesta na infância ou na adolescência, com sintomas iniciais entre os 10 e 15 anos de idade. Os sintomas principais incluem ataxia progressiva de marcha, disartria, arreflexia nos membros inferiores e perda de propriocepção. Com o avanço da doença, é comum a presença de deformidades ósseas, como escoliose e pés cavos, além de disfunções sistêmicas, como cardiomiopatia hipertrófica, presente em 60 a 80% dos casos, e diabetes mellitus, observada em até 30% dos pacientes.6 A progressão é inevitável, com a maioria dos pacientes tendo graves limitações de mobilidade de 10 a 15 anos após o início dos sintomas.5
Outras ataxias genéticas
As ataxias genéticas podem ser classificadas segundo os mecanismos de herança e as características clínicas. Além da AF, as ataxias espinocerebelares (SCAs) representam um grupo de desordens herdadas de forma autossômica dominante, com sintomas sobreponíveis aos da AF, mas que tendem a ter início mais tardio e uma progressão mais lenta. Outras ataxias incluem a ataxia-telangiectasia, que é autossômica recessiva e caracterizada por ataxia progressiva, imunodeficiência e risco aumentado de neoplasias, e a ataxia com deficiência de vitamina E, uma condição semelhante à AF, mas tratável com suplementação dessa vitamina.1,5
Diagnóstico diferencial das ataxias
O diagnóstico diferencial da AF inclui outras condições genéticas e adquiridas que compartilham características de descoordenação motora e neuropatia. Entre as ataxias hereditárias, é essencial diferenciar a AF da ataxia com apraxia oculomotora (AOA1 e AOA2), da ataxia espinocerebelar e da ataxia-telangiectasia. A AOA1 e a AOA2, por exemplo, são condições autossômicas recessivas com características clínicas distintas, como apraxia oculomotora e polineuropatia, que as diferenciam da AF.5
Além das ataxias genéticas, as ataxias adquiridas podem simular a AF e incluem as neuropatias inflamatórias, carenciais (deficiência de vitamina E), autoimunes e tóxicas. Uma história clínica detalhada, combinada com exames de imagem, estudos eletrofisiológicos e testes genéticos, é fundamental para excluir outras causas, garantindo um diagnóstico preciso.7
Conclusão
Para os profissionais de saúde, o conhecimento aprofundado sobre a AF é crucial para um manejo eficaz e orientado, com foco no diagnóstico diferencial e na identificação de complicações sistêmicas. A identificação precoce e o aconselhamento genético são aspectos fundamentais, principalmente em famílias com histórico da condição. Apesar de ainda não existirem terapias que modifiquem o curso da AF, os avanços em pesquisa oferecem perspectivas promissoras para novas abordagens terapêuticas, incluindo a terapia gênica e o uso de inibidores epigenéticos para modular a expressão de frataxina. Esses esforços destacam a importância de um acompanhamento clínico multidisciplinar para a otimização da qualidade de vida dos pacientes e o manejo de suas comorbidades.2,4,6
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