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Neurologia1 abril 2025

Alucinações visuais na doença de Parkinson: papel da disfunção colinérgica 

Estudo avaliou o impacto que alterações na neurotransmissão colinérgica têm nos principais processos cognitivos relativos a experiências de alucinações visuais
Por Jesus Ventura

A doença de Parkinson (DP) é conhecida pelos sintomas motores, relacionados com disfunção dopaminérgica nigroestriatal. Tal degeneração dopaminérgica leva ao surgimento de sintomas motores como bradicinesia, rigidez, tremor de repouso e alteração de marcha. Entretanto, a DP apresenta gama de sintomas não motores, os quais geram incapacidades e piora de qualidade de vida. É o caso das alucinações visuais, presentes em fases mais avançadas da doença e relacionadas ao avanço da neurodegeneração, com piora clínica e de qualidade de vida.  

A fisiopatologia das alucinações visuais ainda é incerta, porém acredita-se que haja envolvimento direto do sistema colinérgico em sua gênese, como discutido no artigo em questão 

Quais são as estruturas colinérgicas envolvidas nas alucinações visuais na DP? 

O núcleo basal de Meynert é um núcleo com limites neuroanatômicos pouco precisos, porém sabe-se que é rico em neurônios colinérgicos, com conexões direcionadas a todo o córtex. Acredita-se que o acúmulo de corpos de Lewy em sua topografia favoreça o aparecimento de disfunções colinérgicas tanto em produção quanto no funcionamento correto das sinapses. Uma hipótese é de que os corpos de Lewy depositados levam a disfunção de enzimas necessárias para a produção de acetilcolina.  

Outro núcleo possivelmente envolvido é o pedúnculo pontino, o qual exerce função relacionada a conexões corticais e vias de auxílio na marcha, regulação de sono REM e aprendizado. Além disso, pode haver comprometimento da amígdala, importante no processamento e armazenamento de memória e processamento de atenção. O núcleo talâmico intralaminar também pode estar envolvido.  

As estruturas corticais responsáveis pelo processamento visual e interpretação costumam ser acometidas pela disfunção sináptica colinérgica, com redução de densidade de substância cinzenta occipital, parietal e temporal.  

Alucinações visuais na doença de Parkinson papel da disfunção colinérgica 

Imagem de freepik

Quais teorias são postuladas na gênese das alucinações visuais na DP? 

  • Excitação anormal cortical, levando a interpretação errônea de estímulos sensoriais, além de alterações em sono-vigília, com intrusão de imagens oníricas (provenientes do sono) em estado de consciência e flutuação de consciência;  
  • Processamento visual, o qual pode estar alterado mediante disfunção colinérgica, com perda de estímulo talâmico para vias de processamento visual; 
  • Memória comprometida, por disfunção hipocampal e frontal, alterando o armazenamento da memória visual de forma correta;    
  • Atenção prejudicada, a qual interfere no direcionamento do foco e formação correta da memória.  

Tais teorias apontam o papel da disfunção colinérgica nas estruturas de associação relacionadas ao ciclo sono-vigília, processamento de atenção e memória, interpretação sensorial e ativação cortical. A conjunção de tais alterações promove a formação, interpretação e armazenamento de um conteúdo visual distorcido, presente nas alucinações visuais. Um dado interessante do ponto de vista patológico é o fato de que maior patologia coincidente de Aβ (patologia presente na doença de Alzheimer) pode representar um fenótipo colinérgico de DP associado a um perfil sintomático cognitivo e neuropsiquiátrico mais grave, reforçando o papel da copatologia nessas doenças.  

Do ponto de vista terapêutico, há enfoque em restabelecer o equilíbrio colinérgico para melhora de tais sintomas, podendo ser utilizado inibidores da acetilcolinesterase, como a donepezila, por exemplo. 

Mensagens práticas 

  • A doença de Parkinson é condição neurodegenerativa cada vez mais comum na população. Sintomas motores e não motores comprometem a vida dos pacientes de forma significativa; 
  • Por ser uma doença complexa, envolve outros sistemas e neurotransmissores além da dopamina, sendo a acetilcolina e a via colinérgica crucial nesses processos;  
  • Do ponto de vista clínico, quando presente, as alucinações visuais impactam de forma negativa a vida do paciente, sendo o tratamento desses sintomas desafiador.

Saiba mais: Quando indicar o tratamento cirúrgico na doença de Parkinson?  

Autoria

Foto de Jesus Ventura

Jesus Ventura

Médico graduado pela AFYA Faculdade de Ciências Médicas de Ipatinga em 2017. Neurologista formado no HCUFMG de 2018 a 2021. Neurologista assistente do IPSEMG. Professor na Faculdade Ciências Médicas de Minas Gerais.

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