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Neurologia7 abril 2025

AAN 2025: Sequelas cognitivas após covid-19

Uma mesa teve o objetivo de explorar os principais e os recentes estudos nas sequelas neurológicas, principalmente cognitivas, atribuídas à covid-19.
Por Danielle Calil

A pandemia da covid-19 levou a repercussão de sequelas em alguns indivíduos acometidos com a infecção pelo SARS-CoV-2. Entre os sintomas potenciais, destaca-se o brain fog (ou névoa cerebral), um termo que engloba queixas como esquecimento, desatenção, dificuldade em concentração, distratibilidade, dificuldade no encontro de palavras e excesso de esforço cognitivo 

No Annual Meeting da American Academy of Neurology 2025, uma mesa teve o objetivo de explorar os principais e os recentes estudos nas sequelas neurológicas, principalmente cognitivas, atribuídas à covid-19.

Atualizações em comprometimento cognitivo pós-covid-19 e estratégias terapêuticas

A primeira palestra foi conduzida pela Dra Jennifer Frontera, pesquisadora nessa área com atuação profissional na New York University. 

Em estudos epidemiológicos, 1% de todos os adultos nos Estados Unidos apresentaram impacto significativo diante da covid longa; enquanto, ao olhar sob a perspectiva dos adultos norte-americanos que tiveram a infecção pelo SARS-CoV-2, 24% entre os infectados persistem com covid longa e grau significativo de incapacidade. 

Claramente, a palestrante menciona um dos artigos pivotais nessa área, isto é, o paper da NEJM em 2024 sobre avaliação cognitiva pós-covid-19 em uma grande amostra de comunidade no Reino Unido. Nesse estudo, os participantes (n=112,964) acometidos pelo SARS-CoV-2 foram submetidos à acesso cognitivo online, assim como os controles (indivíduos presumidamente sem histórico da infecção).

Para casos de indivíduos infectados com covid-19, que conseguiram recuperação clínica da infecção em 4-12 semanas, a função cognitiva foi similar aos controles. Por outro lado, para pacientes com covid-19 longa, ao comparar com controles, houve uma persistência das queixas cognitivas, sendo essa persistência atrelada a fatores clínicos como àqueles acometidos com as variantes iniciais como o sorotipo original, alpha e B1.1.7 (comparados à delta, omicron) e àqueles hospitalizados (comparados aos não hospitalizados). Os domínios cognitivos mais comprometidos observados foram memória, função executiva e raciocínio.  

A palestrante demonstra alguns dados de sua pesquisa prospectiva observacional em pacientes com covid longa e uso de biomarcadores, ainda não publicado. Nesse estudo, foram incluídos adultos ≥ 18 anos que foram segmentados em 3 diferentes grupos: (1): covid-19 positivo com critérios para covid-19 longa (persistência de sintomas ≥ 3 meses); (2) covid-19 positivo sem critérios para covid longa e (3) covid negativo (sem sintomas respiratórios e sorologia IgG negativa durante o acesso).

Todos os grupos foram testados e realizado diagnóstico por consenso de especialistas segundo critério NACC (National Alzheimer’s Coordinating Center), além da coleta de biomarcadores. Uma análise preliminar da pesquisa evidenciou um total de 279 participantes, sendo 122 participantes do grupo (1), 107 do grupo (2) e 50 do grupo (3). Foi observado que a prevalência de comprometimento cognitivo leve teve maior associação com o grupo covid-19 longa ao comparar com os outros. Enquanto, por outro lado, os participantes cognitivamente normais foram mais prevalentes no grupo covid negativo. 

Por ora, não há terapias para covid-19 longa aprovados pelo FDA. Há alguns potenciais candidatos que estão sendo investigados através de ensaios clínicos randomizados como baixa dose de naltrexone e fluvoxamina (sendo registrados no clinicaltrials.org). 

Insights sobre a iniciativa RECOVER 

A Iniciativa RECOVER (Researching COVID to Enhance Recovery) é um programa de pesquisa liderado pelo National Institute of Health (NIH), estabelecido em 2021 com um financiamento inicial de US$ 1,15 bilhão.  

O objetivo da RECOVER é compreender, tratar e prevenir os efeitos da covid-longa. Trata-se de iniciativa que fomenta pesquisa justamente nessa área. Mais de 1000 manuscritos já foram publicados, sendo alguns em revistas de alto impacto. Atualmente, a RECOVER apresenta estudos em andamento de diversos desenhos, como estudos observacionais e ensaios clínicos (esse último é possível ser avaliado através do site: trials.recovercovid.org). 

Entre esses estudos em desenvolvimento, a palestrante Dra Jacqueline Becker cita o estudo RECOVER-NEURO, um ensaio clínico de fase 2 que avalia três abordagens para tratar disfunção cognitiva em pacientes com covid longa: um programa de treino cognitivo (BrainHQ), uma intervenção baseada em reabilitação e atenção plena (PASC-CoRE) e estimulação transcraniana por corrente contínua (tDCS). Os participantes são randomizados para diferentes combinações dessas terapias, com duração de 10 semanas. O objetivo é identificar intervenções eficazes e escaláveis para melhorar sintomas cognitivos em pacientes com PASC (Post-Acute Sequelae of SARS-CoV-2 infection). Trata-se de um dos principais esforços clínicos atuais para responder à demanda crescente por tratamentos nesse assunto. O estudo, no momento, está em fase de análise dos dados. 

Comentários finais 

As sequelas cognitivas da covid longa afetam a autonomia e produtividade de muitos pacientes. Estudos específicos nessa população são essenciais para entender a causa desses sintomas e possibilitar o direcionamento adequado do seu tratamento.

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Referências bibliográficas

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