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Neurologia9 abril 2025

AAN 2025: Manejo em síndrome das pernas inquietas

Foram discutidos assuntos de distúrbios do movimento relacionados ao sono, como a síndrome das pernas inquietas. 
Por Danielle Calil

Os distúrbios de movimento relacionados ao sono podem ser perturbadores para o paciente, podendo ser responsáveis por insônia e sonolência diurna excessiva com impacto na qualidade de vida.  

Dentro desse grupo, a síndrome das pernas inquietas (SPI) é a mais comum. Trata-se de doença com prevalência em torno de 1.5 a 2.4% nos Estados Unidos, mais comum em mulheres.  

No Annual Meeting da American Academy of Neurology 2025 uma mesa foi reservada para assuntos de distúrbios do movimento relacionados ao sono, como a síndrome das pernas inquietas. 

pernas dormindo

Manifestações clínicas e diagnóstico

A síndrome das pernas inquietas é marcada por um desejo incontrolável de mover os membros, frequentemente acompanhado de sensações desagradáveis. Os sintomas tendem a piorar durante o repouso (como ao deitar-se ou ficar sentado por longos períodos) e são aliviados temporariamente com o movimento, o que leva o paciente a se levantar e caminhar para obter melhora. Além disso, os sintomas seguem um padrão circadiano, com piora predominante no período da noite ou à noite. Essas manifestações clínicas podem ser condensadas no mnemônico URGE (Urge to move the limbs; Rest worsens the sensation; Get up and Go is Good; Evening / nighttime worsening). 

A SPI associa-se a diversas comorbidades, como deficiência de ferro, gravidez, doença renal crônica e o uso de medicamentos (antihistamínicos e antidepressivos serotoninérgicos) também estão associadas ao desencadeamento ou piora da SPI. 

O diagnóstico é clínico e baseado nos critérios da ISCD-3 (International Classification of Sleep Disorders, Third Edition), que incluem o preenchimento dos aspectos de A até C: 

A) Necessidade de movimentar as pernas, frequentemente acompanhada de sensações desagradáveis em que (1) iniciam ou pioram com o repouso; (2) aliviam com o movimento; (3) ocorrem predominante à noite;

B) É fundamental descartar condições que mimetizam a SPI, como: cãibras, desconforto posicional, mialgia, estase venosa, artrite, edema de membros inferiores, entre outras.

C) Os sintomas geram alguma incapacidade funcional.

Opções terapêuticas usuais 

O tratamento da SPI envolve intervenções farmacológicas e não farmacológicas, além da correção de fatores contribuintes. 

Medidas não farmacológicas como redução de cafeína, redução de álcool/nicotina, incentivo a exercícios leves e realização de massagens devem ser incentivadas principalmente em casos leves e de forma adjuvante. 

Em casos de SPI associado à deficiência de ferro, é indicada suplementação quando ferritina sérica <75 ng/mL ou a saturação de transferrina <20% a 25%. O ferro oral (ex: sulfato ferroso 325 mg duas vezes ao dia com vitamina C) é primeira escolha. Se houver intolerância ou ineficácia, indica-se ferro venoso (ex: carboximaltose férrica 1000 mg IV). Os níveis de ferritina sérica e a saturação de transferrina devem ser reavaliados 12 semanas após o tratamento com ferro oral e entre 8 a 16 semanas após o tratamento com ferro intravenoso. 

Para controle de sintomas de SPI, há a classe de agonistas dopaminérgicos e a de ligantes α2δ (gabapentinoides). 

Entre os agonistas dopaminérgicos, há as drogas pramipexol, ropinirol e rotigotina (este último em formulação transdérmica). Em geral, são eficazes, apesar de ser recomendada cautela e monitorização diante do risco de augmentação (“augmentation”), uma exacerbação iatrogênica dos sintomas de SPI diante do uso prolongado dessas drogas. Pode ser manifestada por antecipação do início dos sintomas em relação ao horário original de aparecimento, necessidade de doses mais altas ou administração mais precoce do medicamento para obter alívio, intensificação da gravidade dos sintomas e, por vezes, propagação das sensações desconfortáveis para outras partes do corpo, como os braços. 

Outra classe potencial são os ligantes α2δ (gabapentinoides) como gabapentina, pregabalina, que são opções eficazes, com menor risco de augmentação. Seus efeitos colaterais incluem sedação, ganho ponderal e tontura.  

E em casos refratários ao tratamento de rotina? 

Em casos refratários, é possível a prescrição de opioides como codeína, oxicodona, metadona e buprenorfina/naloxona. Nesses casos de consideração dessa classe, é imprescindível a avaliação do risco de uso abusivo dessa medicação. 

Além disso, o palestrante informa que outra opção terapêutica para casos refratários de SPI moderada-grave é o Nidra NTX100 Tonic Motor Activation (TOMAC) System, um dispositivo médico aprovado pela FDA em 2023. Esse dispositivo consiste em dois dispositivos vestíveis posicionados abaixo dos joelhos, que fornecem estimulação elétrica de alta frequência e baixa intensidade ao nervo fibular bilateralmente. Essa estimulação provoca uma ativação tônica sustentada dos músculos das pernas, semelhante à ativação muscular durante a caminhada, visando suprimir os sintomas da SPI e melhorar a qualidade do sono.  

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Comentários finais 

A SPI é uma condição com grande impacto na qualidade de vida, frequentemente subdiagnosticada. O reconhecimento dos sintomas, a avaliação adequada das comorbidades e o tratamento personalizado são fundamentais para o manejo eficaz. Abordagens farmacológicas e não farmacológicas devem ser integradas com base na gravidade, tolerância e preferências do paciente. 

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Referências bibliográficas

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