Importância da identificação precoce de doença renal pra vida melhor e mais longa
Este conteúdo foi produzido pela Afya em parceria com AstraZeneca de acordo com a Política Editorial e de Publicidade do Portal Afya.
A doença renal crônica (DRC) é definida como alteração da estrutura ou função renal, presente por um período mínimo de três meses, com implicações para a saúde. O KDIGO, Kidney Diasease Improving Global Outcomes, definiu a DRC como a presença de marcadores de dano renal ou com taxa de filtração glomerular estimada (TFGe) inferior a 60 mL/min/1,73 m². A classificação da DRC é dividida em 5 estágios de TFG, do estágio 1 (função renal normal) ao estágio 5. Há dois estágios no 5, nem
sempre sendo ele dialítico: 5-ND (não dialítico) e terapia renal substitutiva (TRS), quando 5-D (dialítico). Além da TFG, a classificação inclui a concentração de albumina urinária e critério de cronicidade. Uma TFG estimada abaixo de 60 mL/min/1,73 m² e/ou uma relação albumina-creatinina urinária acima de 30 mg/g por mais de 3 meses indicam risco de DRC.1
Tabela 1 DRC Classificação e Estadiamento:
Por ser silenciosa, é necessária a realização de exame para se obter a taxa de creatinina, usada para estimar a função glomerular através da fórmula The Chronic Kidney Disease Epidemiology Collaboration Equation (CKD-EPI) e a pesquisa de albuminúria, que pode ser triada pela presença de proteína em exame de urina simples. O estudo Carga Global de Doenças, Lesões e Fatores de Risco (Global Burden of Disease Study – GBD) coleta dados sobre morte prematura e incapacidade de mais de 350 doenças e lesões em 204 países, segmentados por idade e sexo, desde 1990. A carga de uma doença é o impacto de um problema de saúde medido por meio de custos financeiros, mortalidade, morbidade ou outros indicadores. Esse dado é frequentemente expresso pelos anos de vida ajustados por incapacidade (DALYs), que combinam os anos de vida perdidos por motivo de doença e os anos vividos com incapacidade. A DRC é responsável pela perda de 35,8 milhões de DALYs e 1,2 milhões de morte; sendo o diabetes responsável por um terço de todos os DALYs por DRC.1,2,3
Em 2017, uma análise sistemática estimou que existam 697,5 milhões de casos de DRC em todos os estágios, resultando em uma prevalência global de 9,1%. Em 2021, várias sociedades de nefrologia indicaram que mais de 850 milhões de pessoas sofrem de alguma forma de doença renal, o que é aproximadamente o dobro do número de pessoas que vivem com diabetes (422 milhões), 20 vezes mais do que a prevalência global do câncer (42 milhões) ou do HIV/AIDS (36,7 milhões).3,4
Além disso, o estudo IMPACT CKD revelou que, em oito anos, a prevalência da doença renal crônica (DRC) pode chegar a 16,5% da população, com um aumento de quase 60% nos casos graves nesse período. Esse cenário pode ter um impacto econômico significativo, pois o custo da terapia de substituição renal, seja por diálise ou transplante, é extremamente alto.
Para problematizar ainda mais a questão, estima-se que apenas 6% da população com DRC em todo o mundo tenha consciência do seu problema, não sendo muito melhor em populações de alto risco, em que apenas 10% são cientes de sua condição.4
Apesar de entendermos o impacto da DRC, ainda há controvérsia sobre seu rastreamento global pela heterogeneidade de recursos ao redor do mundo. A política de saúde pública local tem um papel importante na identificação e abordagem dos fatores de risco da DRC, na detecção precoce da doença e no retardo de sua progressão e em suas complicações.1
Uma revisão sistemática sugeriu que o rastreamento para DRC é sempre benéfico em termos de custo-efetivo em pessoas com diabetes e hipertensão, as duas causas mais comuns de DRC no mundo.1 Agora, após a introdução dos inibidores de SGLT2, nos Estados Unidos, alguns estudos têm demonstrado os benefícios frente aos custos da investigação de albuminúria na população geral ao considerar a possiblidade de tratamento precoce e retardo da progressão da DRC e de desfechos cardiovasculares com tratamento otimizado.5 A cistatina-C é outra opção comercialmente disponível para medida da taxa de filtração glomerular, porém, por questões de custo e de metodologia, só costuma ser empregada na prática quando a creatinina sérica e a albuminúria deixam incertezas.1
A figura a seguir mostra o algoritmo sugerido pela diretriz de 2024 da KDIGO (Kidney Disease: Improving Global Outcomes).1
Entre as principais recomendações para retardar a progressão da DRC, estão mudança de estilo de vida com apoio de equipe multidisciplinar, que dará orientação sobre atividade física, dieta, redução do sódio em alimentação e cessação do tabagismo. Outros pontos relevantes são manter a pressão arterial sistólica abaixo de 120 mmHg, controle glicêmico, uso de inibidores do sistema renina-angiotensina e inibidores do cotransportador de sódio-glicose-2 (SGLT2i), uso de antagonista do receptor mineralocorticoide não esteroide em pacientes selecionados, bem como tratamento do diabetes, anemia, e doença mineral óssea associada.1
Apesar do desafio de detectar precocemente a DRC, por ser assintomática em seus estágios iniciais, testes simples podem identificar a doença e sua progressão. Mudança de estilo de vida (MEV) e tratamentos medicamentosos acessíveis para obesidade, hipertensão arterial e diabetes são as principais recomendações para a maioria dos pacientes. Os custos dos anti-hipertensivos, bloqueadores do sistema renina-angiotensina-aldosterona e estatinas caíram, e mesmo medicamentos mais recentes, como inibidores da proteína de transporte de sódio-glicose-2 (iSGLT2) têm preços acessíveis para boa parte da população, ou são financiados pelo Sistema Único de Saúde (SUS), em farmácias populares e de alto-custo.6,7
Tabela 2 Estratégias para redução do risco de progressão da DRC:
Intervenção ou fator de risco |
O que fazer |
Dieta saudável | Orientações gerais:
1- Redução no consumo sódio < 2 g/dia 2- Redução no consumo de proteínas < 0,8 g/kg nos estágios G3-G5 |
Modificações do estilo de vida | Orientações gerais:
1- 150 minutos de atividade física por semana 2- Manutenção do peso dentro do IMC ideal 3- Cessação do tabagismo |
Dislipidemia | As estatinas são as drogas de primeira linha, e o ezetimibe pode ser usado em associação quando LDL permanecer elevado e/ou houver intolerância à dose máxima da estatina.
Indicações: 1- Pacientes com idade ≥ 50 anos e que não estejam ainda em diálise 2- Pacientes com idade 18-49 anos com um ou mais dos seguintes fatores: doença coronariana, diabetes mellitus, doença cerebrovascular, estimativa de risco cardiovascular > 10% em 10 anos |
Controle glicêmico | Em pacientes com diabetes mellitus, um alvo de hemoglobina glicada < 7% está associado com menor risco de progressão da lesão renal |
Pressão arterial | A meta ideal é PA sistólica < 120 mmHg, se tolerado sem sintomas de hipotensão. A droga de primeira linha são os iECA ou os BRA |
iECA ou BRA | Nunca usar em combinação
No caso de proteinúria moderada a grave, havendo ou não DM associado (categoria A2 e A3 da classificação KDIGO1)* |
iSGLT2
(Ex.: empaglifozina, dapaglifozina) | Indicações;
1- Diabetes mellitus 2- Relação albumina:creatinina: 200 mg/g 3- Insuficiência cardíaca 4- Doença renal crônica |
Antagonistas do receptor mineralocorticoide
(Ex.: espironolactona, finerenona e eplerenona) | Indicações:
1- Pacientes com diabetes mellitus e albuminúria, apesar da dose máxima tolerada de iECA ou BRA, cujo nível sérico de potássio esteja normal |
BRA: bloqueador do receptor de angiotensina; iECA: inibidor da enzima conversora de angiotensina; iSGLT2: inibidores do receptor SGLT2; LDL: colesterol ruim (do inglês low density lipoprotein); PA: pressão arterial. * A terapia citada é uma prática clínica utilizada há anos e presente em guidelines de tratamento. A classe terapêutica não tem aprovação regulatória local para essa indicação e não é utilizada para fins de promoção. Caráter meramente informativo.
O diagnóstico precoce da DRC com rastreio da população de risco e seu pronto tratamento são essenciais para diminuirmos os pacientes em doença terminal e com necessidade de terapia renal substitutiva, além de reduzirmos os riscos cardiovasculares e de morte ao tratar o paciente de forma integral. Os médicos, em especial os generalistas, que são os que costumam lidar com maior frequência com pacientes de alto risco, devem estar sempre atentos e solicitar avaliação da função renal o mais breve possível. Pensar a longo prazo é melhorar significativamente a qualidade de vida com impactos duradouros a curto e longo prazo.8
Material destinado exclusivamente a profissionais de saúde habilitados a prescrever e/ou dispensar medicamentos. BR-33544. Outubro/2024.
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