O teste de triagem neonatal, mais conhecido como teste do pezinho (ou teste de Guthrie), faz parte de um importante programa de saúde pública no Brasil, o Programa Nacional de Triagem Neonatal (PNTN) do Sistema Único de Saúde (SUS).
Incluído em todo o país por meio de uma portaria ministerial no ano de 2001, esse programa tem a finalidade de auxiliar o diagnóstico de algumas doenças e distúrbios do metabolismo, permitindo o início precoce do tratamento e manejo específico.
Teste do pezinho
O teste do pezinho é um exame obrigatório para todos os recém-nascidos, fornecido gratuitamente pelo SUS em todo o território nacional. Embora existam testes disponíveis na rede privada que sejam capazes de detectar mais de 60 doenças, o teste de triagem neonatal básico do SUS abrange seis doenças: hipotireoidismo congênito (HC), hiperplasia adrenal congênita (HAC), fenilcetonúria (PKU), doença falciforme e outras hemoglobinopatias clinicamente significantes (Hb), fibrose cística (FC) e deficiência da biotinidase (DB).
Fatores que podem interferir na interpretação
Existem condições maternas e dos recém-nascidos que podem comprometer a correta interpretação dos resultados obtidos. Dentre os fatores maternos, podemos destacar o uso de esteroides (dexametasona, betametasona e prednisona), esteatose hepática da gravidez, hipotireoidismo, fenilcetonúria, hiperplasia congênita da adrenal, hemotransfusão, deficiência de vitamina B12 (cobalamina) e nutrição parenteral.
Já as condições atinentes ao recém-nato, ressaltam-se o uso de dopamina e esteroides, hipotireoidismo, prematuridade, hemotransfusão, imaturidade das enzimas hepáticas e do eixo hipotálamo-hipófise, nutrição parenteral e hipóxia.
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Você sabe realizar ou orientar a sua equipe para a correta coleta do material?
A coleta é uma das etapas pré-analíticas mais importantes de qualquer exame. A obtenção do material para o teste do pezinho deve ser tecnicamente impecável, afim de evitar complicações para o recém-nascido (osteomielite) e recoletas desnecessárias (atrasando um possível diagnóstico). Deve ser realizado, idealmente, entre o terceiro e sétimo dia de vida do recém-nascido, após o início da alimentação proteica.
Passo-a-passo:
- Preencher corretamente os campos para a identificação, sem tocar ou contaminar os círculos (alguns kits possuem um lacre de proteção do papel filtro, que deverá ser removido);
- Posição de coleta: em pé, um responsável deverá segurar a criança na posição de “arroto” ou de “mamada”, com o coletador sentado em uma posição de frente para quem está segurando a criança (desse modo o pé da criança ficará na altura dos olhos do coletador);
- Identificar o local da punção (face interna ou externa da região plantar do calcanhar);
- Fazer a antissepsia da região com álcool 70%, massageando o local afim de ativar a circulação;
- Esperar o álcool secar completamente;
- Segurar o calcanhar e realizar a punção com uma lanceta apropriada descartável (não utilizar agulha);
- Remover a primeira gota com o auxílio de um algodão ou gaze, e então proceder o preenchimento completo dos círculos do papel filtro. Deve-se encostar suavemente, com movimentos circulares, o papel na gota (não apertar ou ordenhar o calcanhar, deixando o fluxo sanguíneo fluir naturalmente, e certificar que o verso do cartão foi embebido pelo sangue);
- A camada de sangue deve ser uniforme e fina, sem falhas ou manchas (não saturar excessivamente);
- Pressionar suavemente o local da punção e realizar um curativo;
- Deixe o cartão secar completamente em temperatura ambiente, na posição horizontal, por cerca de 2 a 3 horas;
- Acondicionar o papel em um envelope plástico com vedação, protegido da luz, e submetê-lo à refrigeração para o transporte do material até o seu destino final.
O teste de triagem neonatal é uma conquista e um benefício para toda a sociedade, embora deva ser melhor divulgado, discutido e esclarecido, tanto para os pais e familiares, quanto para os profissionais de saúde em geral.
Referências bibliográficas:
- ARDUINI, G. A. O. et al. Knowledge of Puerperal Mothers about the Guthrie Test. Revista paulista de pediatria, v.35, n.2, p.151-157, 2017.
- Hermes Pardini. Manual de Exames. Edição 2013/2014. Editora Hermes Pardini. Disponível em <www.hermespardini.com.br> Acesso em: 11 de dezembro de 2019.
- Jacobs DS, Demott WR, Oxley DK. Jacobs & demott laboratory test handbook with key word index, 5th ed. Hudson, OH: Lexi-Comp, Inc; 2001.
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- RODRIGUES, L. P. et al. Teste do pezinho: condições materno-fetais que podem interferir no exame em recém-nascidos atendidos na unidade de terapia intensiva. Rev Bras Ter Intensiva, 2019.
- SBPC/ML. Recomendações da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial (SBPC/ML): coleta e preparo da amostra biológica. Barueri: Minha Editora; 2014.
- SOCIEDADE BRASILEIRA DE PATOLOGIA CLÍNICA. Teste do pezinho ajuda a diagnosticar doenças raras. 2016. Disponível em <http://www.sbpc.org.br/wp-content/uploads/2017/04/labornews_mar2016_2.pdf> Acesso em: 11 de dezembro de 2019.
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