Em 31 de dezembro de 2019, o escritório da Organização Mundial da Saúde (OMS) na China foi comunicado pela Comissão Municipal de Saúde da cidade de Wuhan, província de Hubei, sobre o aparecimento de casos de pneumonia de etiologia desconhecida. Logo no início de janeiro de 2020, autoridades chinesas confirmaram a descoberta do agente causal desses quadros, o novo coronavírus (à época denominado de 2019-nCoV, posteriormente de SARS-CoV-2).
Na segunda semana do mesmo ano, a sequência do genoma viral foi disponibilizada em uma plataforma internacional. Já no dia 13 de janeiro, a OMS publicou o primeiro protocolo de RT-PCR (reação em cadeia da polimerase via transcriptase reversa) em tempo real, para o diagnóstico laboratorial da infecção.
Nas semanas seguintes, em tempo recorde, a indústria diagnóstica (em parceria e cooperação com universidades, cientistas e pesquisadores) foi capaz de desenvolver novos protocolos e kits comerciais de ensaios moleculares, bem como diversas metodologias para a detecção de anticorpos (ex.: testes rápidos, ensaios quantitativos) e de antígenos, cada qual com aplicabilidades e limitações específicas.
O auxílio do do setor laboratorial no controle da pandemia
De um modo geral, para que uma doença possa ser devidamente controlada, necessitamos dispor de uma forma segura e eficaz de preveni-la (ex.: vacina), aliada a capacidade de diagnosticar os pacientes enfermos e de tratá-los com uma droga específica.
No início da pandemia, sabíamos que por características inerentes ao seu desenvolvimento e aprovação, as vacinas ainda demandariam algum tempo para serem amplamente disponibilizadas à população, o que se tornou uma realidade recentemente. Além disso, até hoje, estudos clínicos de alto impacto para avaliar a eficácia de medicamentos (profiláticos e/ou terapêuticos), ainda encontram-se em andamento.
Nesse vácuo de vacinas e medicamentos específicos, os exames laboratoriais para o diagnóstico da Covid-19, notadamente a RT-PCR, tornaram-se imprescindíveis para o controle da pandemia. Os bons resultados que alguns países obtiveram ao se testar o maior número de pessoas, isolando os casos positivos e os seus contactantes próximos, é uma prova da sua importância.
Os exames sorológicos, que podem indicar se o paciente já teve em algum momento contato prévio com o SARS-CoV-2, também possuem um papel importante na formulação de políticas de saúde pública. Outros exames laboratoriais inespecíficos, como hemograma, desidrogenase lática (LDH), marcadores inflamatórios, D-dímeros, entre outros, também são utilizados com frequência no monitoramento dos pacientes acometidos.
Conclusão
Grandes desafios ainda se impõem ao setor, como a melhoria do desempenho analítico de alguns tipos de testes. Na medida em que novas variantes vão aparecendo ao longo do mundo, a depender da mutação e do ensaio utilizado, resultados falso-negativos podem ocorrer, o que vêm gerando preocupação à comunidade médica.
A pronta resposta dada pela indústria diagnóstica laboratorial, ao desenvolver e aperfeiçoar diversos tipos de metodologias e exames específicos para a Covid-19, poucas semanas após o primeiro alerta, fez com que grande atenção fosse voltada aos laboratórios clínicos, demonstrando assim toda a sua força e importância no cuidado à saúde.
Referências Bibliográficas:
- Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Nota Técnica No 1/2021/SEI/GEVIT/GGTPS/DIRE3/ANVISA. Disponível em: https://www.gov.br/anvisa/pt-br/assuntos/noticias-anvisa/2020/nt-da-anvisa-deteccao-de-nova-variante-de-covid-19-por-testes
- Corman VM, et al. Detection of 2019 novel coronavirus (2019-nCoV) by real-time RT-PCR. Euro Surveill. 2020;25(3):pii=2000045. Disponível em: https://doi.org/10.2807/1560-7917.ES.2020.25.3.2000045
- Favaloro EJ, Lippi G. Recommendations for Minimal Laboratory Testing Panels in Patients with COVID-19: Potential for Prognostic Monitoring. Semin Thromb Hemost. Abr 2020; 46(3):379-382.
- Magro G. COVID-19: Review on latest available drugs and therapies against SARS-CoV-2. Coagulation and inflammation cross-talking. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0168170220304639?via%3Dihub
- Oliveira W.K et.al. Como o Brasil pode deter a COVID-19. Epidemiol. Serv. Saúde 29 (2) 27 Abr 2020.
- Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial. Métodos Laboratoriais para Diagnóstico da Infecção pelo SARS-CoV-2 [Internet]. Recomendações da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial (SBPC/ML).
- World Health Organization (WHO). Coronavirus. Geneva: WHO; 2020. Disponível em: https://www.who.int/emergencies/diseases/novel-coronavirus-2019/interactive-timeline#event-0
- Zhang Y-Z. Novel 2019 coronavirus genome. Virological. Disponível em: https://virological.org/t/novel-2019-coronavirus-genome/319
Como você avalia este conteúdo?
Sua opinião ajudará outros médicos a encontrar conteúdos mais relevantes.