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Medicina de Família11 agosto 2025

VSR em idosos: o que mudou na prática, como indicar vacina e em que se aprofundar?

Avaliar risco, oferecer a vacina, coadministrar quando possível e acompanhar o paciente: saiba mais sobre como prevenir o VSR.
Por Marcelo Gobbo Jr

O vírus sincicial respiratório deixou de ser assunto exclusivo da pediatria. Em adultos mais velhos, especialmente com comorbidades, o VSR desponta como causa relevante de internação, necessidade de UTI e ventilação mecânica, com desfechos equiparáveis ou até piores que influenza em cenários hospitalares. Para quem está no consultório, no ambulatório de especialidade ou na enfermaria, a mensagem é direta: reconhecer o risco, testar quando pertinente e, principalmente, aproveitar a janela de prevenção com as vacinas hoje disponíveis. A literatura recente é consistente. Idade avançada, doença pulmonar ou cardíaca crônica, doença renal, diabetes e imunossupressão formam o pacote que mais concentra casos graves. Idosos institucionalizados e pessoas com multimorbidades somam risco adicional. Não é raro o VSR chegar com pneumonia, hipoxemia importante e evolução para insuficiência respiratória. O tempo de internação tende a ser mais longo, e a readmissão, frequente. Soma-se a isso as sequelas pós-agudas, como perda funcional sustentada, piora de condições crônicas e eventos cardiovasculares no seguimento. O impacto vai além da fase aguda.

Se antes a frustração era ter pouco a oferecer além de suporte e controle de comorbidades, hoje há um caminho preventivo claro. Ensaios de fase 3 mostraram eficácia alta das vacinas em adultos 60+, com proteção robusta contra doença do trato respiratório inferior e bom perfil de segurança. Estudos de mundo real começam a confirmar a redução de hospitalizações e atendimentos de emergência. Em linguagem prática: uma dose, benefício clínico relevante, justamente em quem mais precisamos – no paciente idoso com risco acumulado.

1) Segurança primeiro: imunogenicidade e eventos adversos em ≥60 anos

Vacinas contra VSR geram resposta imune robusta em idosos, inclusive com multimorbidades. O perfil de segurança é, em geral, favorável, com reações locais e sistêmicas leves a moderadas. Há sinal raro de síndrome de Guillain-Barré em farmacovigilância pós-comercialização. A orientação é discutir risco e benefício de forma transparente e seguir vigilância ativa – o balanço é favorável nos grupos-alvo.

Aprofunde segurança e imunogenicidade
Vacina contra vírus sincicial respiratório (VSR) em adultos e idosos é segura?

2) O ensaio pivotal que guiou a prática: 24.960 participantes

O estudo com 24.960 idosos reforça a efetividade clínica: 82,6% de eficácia global e 84,4% em ≥70 anos. Esses números explicam por que a recomendação foca em quem concentra maior risco absoluto de desfechos graves. É aqui que a vacina entrega mais valor.

Veja desenho, endpoints e subgrupos
Vacina contra VSR: o que você precisa saber

3) Brasil, aqui e agora: novas opções e PNI no radar

As vacinas já fazem parte da rotina do consultório. O comparativo entre plataformas e dados de efetividade no mundo real ajuda a personalizar a recomendação. A discussão sobre PNI evolui, mas a disponibilidade imediata costuma estar na rede privada. Oriente acesso, custo e a janela ideal antes do pico sazonal.

VSR e recomendações da SBIm
VSR em idosos: riscos, sintomas e quando tomar a vacina

4) VSR x influenza na UTI: por que não subestimar no adulto

No leito crítico, o VSR não fica atrás da influenza. Pneumonia viral, hipoxemia, necessidade de ventilação e DPOC exacerbada são frequentes. Em idosos, comorbidades e fragilidade impulsionam a gravidade. Isso justifica prevenção agressiva e vigilância diagnóstica ativa durante a sazonalidade.

Resumo do ISICEM 2022 com foco em terapia intensiva
Infecção grave por VSR em adultos x influenza (ISICEM 2022)

5) Calendário do adulto: onde o VSR entra na prática

As vacinas VSR para ≥60 anos já aparecem nas discussões de calendário do adulto. A oferta tende a ocorrer na rede privada, com foco em idosos e subgrupos de maior risco. Coadministração com influenza e COVID ajuda a aumentar cobertura e reduzir perdas de oportunidade. Se o paciente veio, atualize tudo no mesmo encontro.

Atualize o calendário e a coadministração
Vacinação contra VSR: estratégias e reflexões para todas as especialidades

7) Sinal epidemiológico: SRAG em alta 

Boletins mostram que o VSR sustenta parte importante da SRAG em semanas sazonais, com impacto maior em idosos e em quem vive com doenças crônicas. Na prática, teste mais quando houver suspeita, reforce medidas não farmacológicas nos picos e antecipe a vacinação dos elegíveis.

Acompanhe o cenário e ajuste seu threshold clínico
Infecção por vírus sincicial respiratório (VSR) mantém casos de SRAG em alta

8) Estratégia materna: proteger o bebê começa na gestação

Para gestantes até 36 semanas, reduz doença grave por VSR nos primeiros meses de vida. Para avós e cuidadores, vacinar adultos vulneráveis também reduz circulação domiciliar. Na pediatria do recém-nascido, alinhe a escolha entre imunização materna e anticorpo monoclonal – evite redundância quando não houver indicação.

Fluxos práticos na obstetrícia e na família
Vacina contra o vírus sincicial respiratório

Como isso chega à sua rotina

As recomendações convergem para vacinar idosos e pessoas com risco aumentado. Em linhas gerais, adultos com 75+ entram como prioridade, e pacientes 60 a 74 anos com comorbidades se beneficiam claramente. A aplicação é simples – dose única – e pode ser coadministrada com influenza e COVID no mesmo encontro. Explique o que esperar: dor local, febre baixa e mialgia são comuns e autolimitadas. Registre no prontuário e notifique eventos adversos quando necessário.

Comparar VSR com influenza e COVID ajuda a dimensionar a prioridade. No idoso hospitalizado, o VSR não fica atrás. A diferença é que já incorporamos a cultura da vacinação contra influenza e construímos estrutura para COVID, o que tende a reduzir a gravidade desses dois agentes na população vacinada. Levar o VSR para a mesma prateleira mental de prevenção é o passo que faltava.

Do ponto de vista de sistema, a conta fecha. Modelagens mostram custo-efetividade em idosos e subgrupos de maior risco, com queda de hospitalizações, uso de UTI e outros recursos. O benefício econômico cresce quando a proteção se estende além de uma estação. Para o gestor, menos leitos ocupados por pneumonias evitáveis. Para o médico, menos descompensações desnecessárias em pessoas frágeis.

No consultório, o hábito que muda o jogo é simples: estratifique risco em segundos – idade, pulmão, coração, rim, estado imune, institucionalização. Se está no grupo-alvo, ofereça a vacina ali mesmo, junto com influenza e COVID se estiverem pendentes. Deixe claro que é uma dose única por ora, com proteção duradoura, e que reforços podem ser atualizados conforme os dados de efetividade e segurança se acumularem. Em IRA de idoso, lembre o teste para VSR na sazonalidade – identificar o agente calibra suporte, proteção de contatos e expectativa de evolução.

Geriatras, clínicos, cardiologistas e pneumologistas lidam com os desfechos mais pesados e podem ancorar a recomendação. Infectologistas e emergencistas quebram o ciclo de subdiagnóstico ao incluir o VSR no diferencial das IRAs. Obstetras têm papel chave na estratégia materna. O roteiro é único: avaliar risco, oferecer a vacina, coadministrar quando possível, orientar, registrar e acompanhar.

Em comunicação com o paciente, fale simples e direto. O VSR é comum, pode ser grave depois dos 60 e hoje há vacina que reduz hospitalizações. É uma decisão preventiva com impacto real. Quando transformamos essa conversa em prática, o que vemos é um inverno menos pesado para os mais vulneráveis e um serviço menos sobrecarregado com casos graves evitáveis.

 

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Referências bibliográficas

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