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Neurologia19 janeiro 2021

Papel da eletroneuromiografia na Covid-19

As complicações neuromusculares nos indivíduos com Covid-19 podem chegar até a 16%, a eletroneuromiografia pode ajudar no diagnóstico.

Por Carmen Orrú

As complicações neuromusculares nos indivíduos com Covid-19 podem chegar até a 16%, segundo a literatura atual. Espera-se que os pacientes sobreviventes da forma grave da doença, submetidos a cuidados de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) e ventilação mecânica (necessidade de respirador mecânico) desenvolvam uma fraqueza global associada a perda de massa muscular (sarcopenia) e polineuromiopatia do doente crítico. No entanto, tem-se relatado outros quadros neurológicos relacionados ao Covid-19.

Ouça também: Covid-19 e vacinas: o que sabemos até o momento? [podcast]

No artigo Mononeuritis multiplex: an unexpectedly frequent feature of severe Covid‐19, E. Needham descreve os achados de uma afecção chamada de Mononeuropatia Múltipla (lesão assimétrica de nervos periféricos, sem obedecer a padrões), quadro pouco visto após internações em UTI.

Viu-se que as neuropatias foram adquiridas durante a fase de internação em UTI (pacientes não tinham sintomas antes da UTI e depois houve estabilização ou melhora do quadro). Além da fraqueza muscular simétrica moderada decorrente da sarcopenia, alguns pacientes tiveram déficits assimétricos e nenhum teve sinal de Miopatia ou de Polirradiculoneuropatia.

Nestes pacientes, quando se aplicou os Critérios da Federação de Sociedades Neurológicas para Polirraculopatias Desmielinizantes Inflamatórias Crônicas, não foram encontrados sinais de desmielinização. Contudo, todos apresentaram evidências de perda axonal focal de fibras sensoriais e motoras com desnervação muscular. Esse acometimento neuronal foi assimétrico, afetando mais alguns nervos em relação a outros, bem como fascículos (fibras dos nervos que vão para músculos especificos).

As mononeuropatias (lesão de apenas um nervo) são complicações comuns nos pacientes submetidos a anestesia ou UTI, mas nos casos de Covid-19, o número de nervos afetados foi igual ou superior a 3. Os nervos mais comumente afetados foram: ulnar, mediano, ciático e fibular comum, que, por vezes, mostraram-se espessados pelo ultrassom neuromuscular.

Eletroneuromiografia no diagnóstico de complicações da Covid-19

Tempestade de citocinas

Na fase aguda da doença, todos os pacientes tiveram aumento das substâncias inflamatórias (PCR, interleucina-6, D-dímero). Assim, a hipótese aventada é que as neuropatias sejam de origem Vasculítica (lesões nos vasos que mandam sangue para os nervos e consequentemente lesionando esses nervos também). Estudos post-mortem confirmaram vasculites, com endoteliopatias ou microtrombos em uma variedade de tecidos, causados possivelmente pela tempestade de citocinas inflamatórias.

Outros relatos de casos

A literatura científica também descreve outros relatos de casos de alterações neurológicas pós-infecção por Covid-19 independente da gravidade. São eles:

  • Miopatia difusa simétrica;
  • Guillain-barré e variantes (Neuropatia Axonal Motora Aguda – AMAN; associado a Paresia facial bilateral, associado a Disautonomia);
  • Mielite Necrotizante Transversa;
  • Neuralgia Amiotrófica (Síndrome de Parsonage-Turner);
  • Mononeuropatia Múltipla.

Leia mais: Como estamos no uso de plasma convalescente em idosos com Covid-19?

Portanto, é recomendado análise neurológica detalhada de pacientes sobreviventes de Covid-19, a eletroneuromiografia é um exame diagnóstico que se mostra interessante para documentar as possíveis lesões nos nervos ou músculos, avaliar temporalidade, gravidade e ajudar a pensar no prognóstico e otimizar o plano de reabilitação.

Referências bibliográficas:

  • Needham E, Newcombe V, Michell A, Thornton R, Grainger A, Anwar F, Warburton E, Menon D, Trivedi M, Sawcer S. (2020). Mononeuritis multiplex: an unexpectedly frequent feature of severe Covid-19. Journal of Neurology. doi: 10.1007/s00415-020-10321-8
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