O chumbo é um metal de ocorrência natural e muito utilizado na indústria. O envenenamento por chumbo é considerado a doença ambiental mais prevalente em todo o mundo. Pode ser encontrado em tintas antigas (uso de chumbo em tintas foi banido há algumas décadas), cerâmica, materiais de vidro (copos e pratos), cinza e fumaça de madeira pintada, baterias de automóveis, encanamentos, projéteis de armas de fogo, mineração, destilados clandestinos, indústria petrolífera, soldagem e alimentos contaminados.
Pode haver intoxicação crônica de chumbo pela presença de balas e estilhaços retidos no corpo humano, geralmente manifestada cerca de 10 anos após o acidente.
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Crianças são mais vulneráveis aos efeitos do chumbo. Atualmente no Brasil, os desabamentos criminosos de barragens por descaso de mineradoras, com contaminação de rios e plantações aumentou muito a carga corporal total de metais pesados em populações próximas às regiões, e até o momento não se sabe a repercussão a médio-longo prazo desses acontecimentos.
Mecanismo da intoxicação:
- Inalação (forma elementar e orgânica): operários que trabalham em fundições, fábricas de bateria e mineração, poeira de chumbo em galerias de tiro ao alvo;
- Ingestão ou contato cutâneo (forma inorgânica e orgânica): contaminação de água e alimentos, ingestão de tintas de paredes, berços antigos e vernizes acidentalmente por crianças, ingestão de alimentos acondicionados em vasilhames de chumbo;
- Intoxicação crônica: por balas e estilhaços retidos no corpo humano.
Principais vias de absorção: trato gastrointestinal e respiratório. O chumbo inorgânico se distribui em tecidos moles e com o tempo sofre redistribuição e se deposita em ossos, dentes e cabelos. 95% do chumbo do corpo humano encontra-se nos ossos.
Meia-vida: a meia-vida no sangue é de 1 a 2 meses, a taxa de excreção é muito baixa. Eliminação por via urinária e fecal.
O chumbo acumula-se nos rins e no cérebro, levando a sintomatologia aguda e crônica nesses locais. Além de efeitos hematológicos.
Apresentação clínica da intoxicação por chumbo
Quadro clínico agudo:
- Intoxicação rara, geralmente inicia-se com sintomas gastrointestinais: náuseas, vômitos, dor abdominal e diarreia;
- Encefalopatia aguda é mais comum em crianças: letargia, palidez, ataxia e anorexia, convulsões e coma. Pode ter sequelas permanentes;
- Em níveis mais elevados de exposição, ocorrem efeitos no SNC e no sistema nervoso periférico, bem como anemia microcítica e disfunção tubular renal (acidose tubular renal do tipo II);
- A complicação mais temida é a evolução para um quadro de encefalopatia, seguido de convulsões, coma e morte.
Quadro clínico crônico:
- Manifestações gastrointestinais: cólica saturnina (dor abdominal intensa, excruciante e paroxística), constipação, diarreia e anorexia;
- Neuromusculares: paralisia saturnina (raramente encontrada atualmente), fraqueza muscular, pulso caído, pé caído, encefalopatia (comum em crianças);
- Hematológicas: anemia microcítica e hipocrômico, pontilhado basófilo e aumento de reticulócitos;
- Renais: pode ocorrer nefropatia reversível e irreversível;
- Em crianças: quadro de retardo mental, déficit da linguagem, alterações da função motora, equilíbrio, comportamento e acusia, a encefalopatia pode simular a lesão craniana expansiva, com vômitos em jato e hipertensão intracraniana (HIC), podem ocorrer distúrbios cinéticos;
- Em adultos: quadro de anemia, hipertensão, redução do número de espermatozoides, neuropatia periférica desmielinizante comprometendo principalmente o componente motor;
- Um sinal clássico do exame físico é a “linha de chumbo”, com aspecto amarelado e localizado na borda dos dentes junto à gengiva. É conhecida como linha de Burton.
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