Desde a detecção dos primeiros casos, em 2019, muito vem sendo descoberto em relação à fisiopatologia, às características clínicas e ao tratamento de covid-19. Entretanto, muitos aspectos da doença ainda são desconhecidos e alterações de conduta são frequentes, à medida que novas descobertas vão sendo feitas.
Ao longo do ano de 2022, baseados nos resultados de diversos estudos, novas modalidades de terapia e de prevenção foram incorporadas. Com o recrudescimento do número de casos, é importante manter-se atualizado nas opções terapêuticas disponíveis. Os principais aprovados no Brasil para uso na covid-19 podem ser conferidos a seguir.
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Remdesivir
O remdesivir é um antiviral, cujo propósito foi revisitado durante a pandemia de Covid-19. Os resultados do estudo ACTT-1 mostraram benefício do uso do remdesivir, em comparação a placebo, em redução de tempo para melhora clínica e redução de tempo de internação, mas sem diferença em mortalidade por todas as causas em 29 dias.
Baseados nesses e outros resultados, o uso de remdesivir já havia sido aprovado no Brasil para o tratamento de indivíduos com infecção pelo SARS-CoV-2 em adultos e adolescentes com 12 anos de idade ou mais e com pelo menos 40kg com pneumonia que requerem oxigenoterapia suplementar e em adultos sem necessidade de administração de oxigênio, mas que apresentem maior risco de progressão para Covid-19 grave.
Em 2022, a Anvisa aprovou a ampliação do uso do remdesivir para a população pediátrica, após revisão de evidências que mostraram manutenção dos benefícios do uso do antiviral, sem preocupações adicionais de segurança. Com a ampliação, o uso de remdesivir agora está aprovado, além dos grupos anteriormente descritos, para:
– Bebês e crianças a partir de 28 dias e peso ≥ 3kg, com pneumonia necessitando de administração de oxigênio suplementar;
– Crianças com ≥ 40kg sem necessidade de oxigenoterapia e que apresentem risco aumentado de Covid-19 grave.
Baracitinibe
O baracitinibe é um imunomodulador que, semelhante a outras drogas, como o tocilizumabe, possui propriedades anti-inflamatórias por sua ação contra IL-6. O estudo RECOVERY mostrou benefício de seu uso, de forma adicional ao de dexametasona e tocilizumabe, no tratamento de pacientes com Covid-19 com necessidade de oxigênio, com redução de mortalidade em comparação ao tratamento padrão.
Baracitinibe foi incorporado no Brasil em 2022 como opção terapêutica para pacientes hospitalizados com Covid-19 e que necessitem de oxigênio por máscara ou cateter nasal, ou de oxigenoterapia de alto fluxo, ou de ventilação mecânica não invasiva. Houve doação única por parte do Ministério da Saúde para as Secretarias Estaduais de Saúde.
Nirmatrelvir/ritonavir
Outro medicamento oral que foi recentemente incorporado no SUS foi o nirmatrelvir/ritonavir (Paxlovid®). Trata-se da combinação dos antivirais nirmatelvir e ritonavir, usado como booster, aprovado para ser usado como terapia por 5 dias.
Os estudos que forneceram as evidências de benefício do Paxlovid® mostraram redução significativa na proporção de pacientes com hospitalização ou óbito relacionados ao Covid-19 até o dia 28.
Para o SUS, a medicação está aprovada exclusivamente para o tratamento de pessoas com diagnóstico confirmado de Covid-19 e que apresentem sintomas leves a moderados, sem necessidade de oxigênio, e com presença de fatores de risco para doença grave, a saber, imunocomprometidos com ≥ 18 anos de idade (conforme critérios utilizados para priorização de vacinação) ou pessoas com ≥ 65 anos. O tratamento deve ser iniciado até o 5º dia do início dos sintomas.
A combinação de nirmatrelvir/ritonavir também foi aprovada para comercialização em farmácias e para uso em hospitais privados do país. As indicações seguem as mesmas previamente citadas e a venda será somente mediante prescrição médica.
Importante lembrar que o Paxlovid® não está autorizado para uso em pacientes com sintomas graves, como profilaxia pré ou pós exposição, em gestantes ou em pacientes com insuficiência renal grave.
Vacinas em crianças e bivalentes
A vacinação é uma das estratégias mais eficazes para o controle da pandemia, reduzindo tanto o número de novas infecções quanto a progressão para formas graves. Mesmo com a aprovação de mais de uma plataforma vacinal no país, a faixa etária de crianças ainda se mostra como população vulnerável. Ao mesmo tempo, com a manutenção da circulação do SARS-CoV-2, há o risco de escape vacinal e necessidade de atualização constante da vacina utilizada.
Em relação à população pediátrica, a Anvisa aprovou a administração da vacina produzida pela Pfizer em crianças de 6 meses a 4 anos. A vacina para essa faixa etária tem dosagem e composição próprias e esquema de administração em 3 doses, com intervalo de 3 semanas entre a 1ª e a 2ª doses e de no mínimo 8 semanas entre a 2ª e a 3ª. A vacina já estava aprovada para uso em indivíduos a partir de 5 anos de idade.
Outra novidade foi a aprovação do uso de vacinas bivalentes como dose de reforço em pessoas ≥ 12 anos. As vacinas bivalentes conferem proteção contra a cepa original e contra subvariantes da Ômicron, que é a principal em circulação no país no momento. As vacinas aprovadas contêm as seguintes cepas:
– Bivalente BA1 – variante original e variante Ômicron BA1
– Bivalente BA4/BA5 – variante original e variante Ômicron BA4/BA5
As novas vacinas devem ser aplicadas como doses de reforço, com intervalo de no mínimo 3 meses após finalização do esquema primário ou da última dose de reforço.
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