À medida que a pandemia avança no tempo, estudos em relação à necessidade de uma terceira dose de vacina e ao melhor esquema vacinal vão tendo seus resultados publicados.
Apesar de estudos iniciais demonstrarem aumento nos níveis de anticorpos neutralizantes, o benefício de uma dose extra de imunizante na vida real não é ainda conhecido. Um dos países pioneiros em conseguir ampla cobertura vacinal de sua população, Israel iniciou a vacinação com a terceira dose em julho de 2021, inicialmente para indivíduos considerados de alto risco e posteriormente para todos os com 60 anos de idade ou mais. Recentemente, dados que procuraram avaliar o impacto dessa dose adicional nos casos de Covid-19 no país foram publicados na The New England Journal of Medicine.
Materiais e métodos
Os dados foram extraídos do sistema do Ministério da Saúde de Israel e incluíram datas de vacinação, informações em relação a resultados de PCR, datas de hospitalização por Covid-19, variáveis demográficas e status clínico (doença leve ou grave).
Para estimar a redução nas taxas de infecção confirmada e de doença grave, foram analisados os dados dessas duas taxas entre pacientes com dose booster e entre pacientes com duas doses. As taxas foram calculadas na forma de casos confirmados e de doença grave por pessoas-dias sob risco. A vacinação foi feita com a BNT162b2 (Pfizer). As análises foram ajustadas por idade, sexo, grupo demográfico e data da segunda dose.
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Resultados
O grupo que recebeu uma dose booster incluiu aproximadamente 10,6 milhões de pessoas-dias sob risco (6,3 milhões para a análise de casos graves), com 934 casos de infecção confirmados e 29 casos de doença grave. O grupo que recebeu as duas doses de vacina, sem dose adicional, inclui cerca de 5,2 milhões de pessoas-dias sob risco (4,6 milhões para a análise de casos graves), com 4439 casos confirmados e 294 casos de doença grave.
A taxa de infecções confirmadas foi menor no grupo que recebeu a terceira dose por um fator de 11,3 (IC 95% = 10,4 – 12,3). A diferença absoluta na taxa de casos confirmados entre os grupos foi de 86,6 infecções a cada 100.000 pessoas-dia. A taxa de infecções graves também foi menor no grupo que recebeu uma dose booster em relação ao grupo de duas doses por um fator de 19,5 (IC 95% = 12,9 – 29,5). A diferença absoluta das taxas entre os grupos foi de 7,5 casos a cada 100.000 pessoas-dia. Em análise secundária, a taxa de infecção após pelo menos 12 dias após a administração da dose da vacina foi menor do que a mensurada com 4 e 6 dias.
Os autores destacam que alguns vieses podem não ter sido bem controlados no estudo e podem ter influenciado os resultados, como diferenças de comportamento entre indivíduos que procuraram administração de uma terceira dose e os que não o fizeram e a tendência a menor frequência de testagem diagnóstica nos primeiros dias após vacinação.
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Mensagens práticas
- A administração de uma terceira dose de vacina em indivíduos com 60 anos ou mais esteve associada a uma menor taxa de infecção e de doença grave por SARS-CoV-2 em relação a indivíduos com duas doses.
- Pela política de vacinação de Israel, a terceira dose foi administrada no mínimo 5 meses após o término do esquema usual de duas doses. Somente o imunizante da Pfizer foi avaliado.
- Os autores supõem que a introdução e circulação da variante Delta seja o motivo do aumento do número de casos no país mesmo após ampla cobertura vacinal. Imunossenescência e redução nos níveis de anticorpos são outros fatores que podem ter contribuído para esse fenômeno. O estudo não avaliou o impacto que diferentes variantes podem ter sobre a vacinação, mas os resultados sugerem uma boa eficácia contra a variante Delta, predominante no país no momento de sua realização.
Referências bibliográficas:
- Bar-On, YM, Goldberg, Y, Mandel, M, Bodenheimer, O, Freedman, L, Kalkstein, N, Mizrahi, B, Alroy-Preis, S, Ash, N, Milo, R, Huppert, A. Protection of BNT162b2 Vaccine Booster against Covid-19 in Israel. September 15, 2021. doi: 10.1056/NEJMoa2114255
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