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Infectologia3 dezembro 2025

Peritonite fúngica na diálise peritoneal 

Estudo avaliou o curso clínico, os fatores de risco e os desfechos da peritonite fúngica em pacientes adultos em diálise peritoneal
Por Camila Rangel

A peritonite fúngica é uma complicação rara, porém de elevada gravidade, em pacientes submetidos à diálise peritoneal (DP). Embora represente uma fração menor dos episódios de peritonite, sua ocorrência está associada a altas taxas de hospitalização, falha da técnica dialítica e mobimortalidade. Os principais agentes envolvidos são espécies de Candida, especialmente Candida albicans e Candida parapsilosis. O estudo em questão, conduzido em Israel, buscou avaliar o curso clínico, fatores de risco e desfechos da peritonite fúngica em uma coorte nacional de pacientes adultos em DP. 

Metodologia 

Trata-se de um estudo retrospectivo multicêntrico, abrangendo todos os casos de peritonite fúngica associados à DP identificados nas 22 unidades de diálise do país ao longo de uma década. Foram coletados dados demográficos, clínicos, laboratoriais e terapêuticos, além dos desfechos relacionados à técnica dialítica e mortalidade. O grupo controle incluiu pacientes com peritonite bacteriana, diagnosticados durante o período do estudo. A análise estatística utilizou regressão logística para identificar variáveis associadas ao risco de peritonite fúngica. 

Resultados 

Foram identificados 40 casos de peritonite fúngica, correspondendo a 3,46% dos episódios de peritonite em DP. Perfil dos pacientes: idade mediana de 72,5 anos, predominância masculina (65%), comorbidades frequentes como hipertensão (82,5%) e diabetes (37,5%). Agentes etiológicos: Candida foi isolada em 82,5% dos casos, com destaque para as espécies C. parapsilosis e C. albicans. Houve também isolamento de AspergillusCryptococcus e Fusarium. Com relação aos desfechos clínicos, 95% necessitaram hospitalização, 90% precisaram remover o cateter Tenckhoff e 67,5% foram para hemodiálise. A mortalidade durante o episódio foi de 27,5%. 

Fatores de risco: 55% dos pacientes apresentaram peritonite bacteriana nos três meses anteriores, frequentemente polimicrobiana ou por Enterococcus. O uso de múltiplos antibióticos nesse período foi independentemente associado ao risco de peritonite fúngica (OR 1,94; p=0,001). Os casos de peritonite fúngica tiveram maior taxa de hospitalização (95% vs. 39,1%), remoção de cateter (90% vs. 9,4%) e mortalidade (27,5% vs. 10,8%). 

Peritonite fúngica na diálise peritoneal 

Mensagem prática 

O presente estudo mostrou que as manifestações clínicas mais frequentes foram dor abdominal e turvação do líquido peritoneal, tanto na etiologia fúngica quanto na bacteriana e que a peritonite fúngica está associada a desfechos mais graves. Embora incomum, a peritonite fúngica apresenta prognóstico desfavorável e exige intervenção rápida. Os achados reforçam alguns pontos-chave para a prática clínica. Necessidade de vigilância: episódios prévios de peritonite bacteriana, especialmente polimicrobianos ou de origem entérica, devem acender alerta para risco subsequente de infecção fúngica. Gerenciamento do uso de antimicrobianos: o uso de múltiplos antibióticos aumenta o risco de forma significativa, destacando a importância do uso racional de antimicrobianos. Plano terapêutico: a remoção precoce do cateter e início imediato de antifúngicos são medidas indispensáveis para reduzir mortalidade e falha da técnica. Profilaxia: embora controversa, pode ser considerada em cenários de alto risco, como uso prolongado de antibióticos ou peritonite complicada. 

Este estudo reforça que a peritonite fúngica é uma infecção grave, que deve ser encarada como uma emergência clínica na DP, demandando diagnóstico rápido, manejo agressivo e reflexão sobre estratégias preventivas em pacientes de maior risco, de acordo com as características de cada serviço.

Autoria

Foto de Camila Rangel

Camila Rangel

Médica graduada pela Universidade Federal de Juiz de Fora em 2018. Infectologista pelo Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais de 2019 a 2022. Mestra pela Faculdade de Medicina da UFMG em 2025. Infectologista do Controle de Infecção Hospitalar do HC-UFMG e Auditora Médica da Unimed Federação Minas.

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Referências bibliográficas

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