A partir de maio de 2025, o Ministério da Saúde passou a incorporar a aplicação de vacina contra hepatite A no Sistema Público de Saúde (SUS) para usuários que fazem profilaxia pré-exposição de infecção pelo HIV (PrEP).
A hepatite A é uma doença aguda decorrente da infecção pelo vírus HAV. Embora possa ser oligo ou assintomática, pode também levar a quadros de hepatite aguda, com sinais e sintomas clássicos, como náuseas, vômitos, icterícia e colúria, ou mesmo de hepatite fulminante.
Panorama
O HAV é um vírus predominantemente de transmissão fecal-oral, tendo alimentos e água contaminados como fontes típicas. Entretanto, nos últimos anos, vêm-se observando um aumento significativo no número de casos em populações específicas, notadamente entre homens que fazem sexo com homens (HSH).
Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), houve aumento no número de casos de hepatite A nos anos de 2016 e 2017 em país considerados de baixa endemicidade, como Chile, EUA, Alemanha, Áustria, Bélgica, Dinamarca, Espanha, Finlândia, França, Irlanda, Noruega, Portugal, Reino Unido, entre outros, na população HSH. Nesses casos, a OMS recomenda a vacinação como estratégia principal de prevenção.
Contexto nacional
O Brasil também já vivenciou situações de surtos de hepatite A relacionados a práticas sexuais. Nos anos de 2017 e 2018, a cidade de São Paulo registrou um importante aumento de notificações de hepatite A, com uma incidência significativa entre homens jovens e com história prévia de contato sexual desprotegido.
A vacina contra hepatite A é uma vacina inativada, altamente eficaz, com taxas de soroconversão de 94 a 100%, e capaz de elicitar proteção duradoura. O esquema posológico é composto de 2 doses, com 6 meses de intervalo entre elas, mas alguns estudos mostram altas taxas de soroconversão após uma única dose.
Até o momento, a vacina estava disponível no SUS, como parte do Programa Nacional de Imunização (PNI), para crianças entre 15 meses e 4 anos, e nos Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais (CRIE) para indivíduos com condições de risco, tais como os com infecção por HBV ou HCV, hepatopatias, infecção pelo HIV/Aids, imunossupressão, doenças de depósito ou transplantes de órgãos sólidos ou de medula óssea.
A nova Nota Técnica de maio de 2025 amplia a disponibilização da vacina também para usuários de PrEP, com meta de imunizar 80% dessa população. A recomendação da vacinação é a seguinte:
- Usuários sem comprovação vacinal: 2 doses, conforme faixa etária, com intervalo mínimo de 6 meses entre as doses.
- Usuários com comprovação vacinal (duas doses): não vacinar.
- Usuários com comprovação vacinal (uma dose): vacinar com mais uma dose, conforme fixa etária.
- Usuários com comprovação sorológica (anti-HAV total ou anti-HAV IgG reagente): não vacinar.
Para a faixa etária entre 15 e 17 anos, deve-se utilizar a formulação pediátrica, com administração de 0,5mL por dose. Já para os com 18 anos ou mais, deve-se utilizar a vacina de uso adulto, com doses de 1,0mL. A vacina tem baixa reatogenicidade, sendo dor, eritema, edema, febre e fadiga os eventos adversos mais frequentes.
A administração da vacina contra hepatite A para os usuários de PrEP será realizada em todos os serviços integrados aos CRIE, sem necessidade de validação especializada, bastando a apresentação da receita de PrEP como forma de comprovação de indicação.
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