O PURPOSE 2 — um grande estudo randomizado de fase 3 que avaliou a eficácia das injeções semestrais de lenacapavir para a prevenção do HIV em homens cisgêneros e pessoas de gênero diverso — revelou que a incidência de infecção pelo HIV entre pessoas que receberam lenacapavir foi 89% menor que a incidência entre pessoas que receberam emtricitabina-tenofovir disoproxil fumarato oral (a PrEP oral diária).
Essas descobertas seguiram os resultados do estudo PURPOSE 1, que mostrou que o lenacapavir duas vezes por ano forneceu proteção completa contra a infecção pelo HIV em mulheres cisgênero.
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A descoberta de uma opção altamente eficaz para a profilaxia pré-exposição ao HIV (PrEP), que requer apenas administração semestral, levou ao questinamento: uma vacina ainda é necessária para acabar com a epidemia global de HIV?
Discussão: vacina contra o HIV e PrEP
O lenacapavir semestral compartilha características importantes com uma vacina ideal contra o HIV: é seguro e altamente eficaz para prevenir o HIV. A eficácia observada nos ensaios PURPOSE é semelhante, se não maior, à de muitas vacinas convencionais disponíveis. O lenacapavir também é termoestável e pode ser enviado e armazenado em temperatura ambiente, uma vantagem importante sobre a maioria das vacinas candidatas contra o HIV. A vantagem mais óbvia do lenacapavir para a PrEP é que ele não é hipotético — ele já está disponível.
No entanto, uma estratégia de prevenção do HIV que dependesse exclusivamente do lenacapavir teria várias limitações. Os pacientes precisam ter acesso estável ao sistema de saúde, pois se perderem o acesso devido a fatores como dificuldades econômicas, guerra ou desastre ambiental, ficarão desprotegidos. As respostas imunes duráveis são uma das principais vantagens das vacinas.
Outra diferença importante entre as vacinas e a PrEP semestral é que as vacinas são normalmente administradas universalmente, enquanto os serviços de PrEP são focados em grupos de maior risco para infecção pelo HIV. A administração universal da PrEP, embora teoricamente possível, não foi buscada em nenhum país, dadas as barreiras substanciais relacionadas ao custo, adesão e implementação.
Outras preocupações
Em algumas populações, a estigmatização do uso da PrEP teve implicações para a iniciação e o uso contínuo. Ter uma escolha de método de prevenção do HIV é importante, pois nem todo mundo escolherá uma injeção subcutânea. Intervenções que podem ser implementadas independentemente do risco autopercebido são essenciais (embora não necessariamente suficientes) para prevenir todos os novos casos de HIV e não apenas alguns deles.
Vale ressaltar também que muitos ambientes de baixa e média renda carecem da infraestrutura robusta de saúde pública necessária para administrar a PrEP injetável. A implementação eficaz de programas de PrEP injetável em escala exigirá investimentos substanciais, incluindo treinamento na administração de injeções subcutâneas, o que pode ser doloroso se não for administrado de acordo com o protocolo. Em comparação, todos os países têm experiência com imunização de rotina, ainda que sejam imperfeitos.
O lenacapavir tem interação medicamentosa relevante com indutores de CYP3A, o que pode levar a concentrações plasmáticas mais baixas, reduzindo a eficácia do lenacapavir. Assim, o uso simultâneo com alguns medicamentos como anticonvulsivantes, antibióticos e glicocorticóides foram proibidos no PURPOSE.
A resistência ao lenacapavir é outra área de preocupação. No estudo PURPOSE 2, houve dois casos de infecção por HIV no grupo que fazia uso do lenacapavir. Ambos os participantes tinham a mutação de resistência ao inibidor do capsídeo N74D no diagnóstico, o que sugere que a monoterapia com lenacapavir durante o estudo levou ao surgimento de resistência. As concentrações de lenacapavir em ambos os participantes estavam na faixa terapêutica esperada para o estudo.
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Também não se sabe se a exposição de baixo nível ao lenacapavir após a descontinuação — resultado da longa meia-vida da droga — pode levar ao surgimento de resistência em algumas pessoas que param de receber injeções. O surgimento de cepas de HIV resistentes ao lenacapavir tornaria ineficazes os programas de prevenção do HIV que dependem exclusivamente do lenacapavir para a PrEP.
Considerações finais
Os pesquisadores acreditam, portanto, que o desenvolvimento de uma vacina contra o HIV ainda é um componente essencial da estratégia para frear a epidemia de HIV.
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