Infecções respiratórias: faringoamigdalite e covid-19
Embora a maioria das infecções respiratórias seja autolimitada e não necessite de tratamento específico, podem ser causa de mal-estar e desconforto significativos. As infecções respiratórias mais frequentes comumente cursam clinicamente com sintomas inespecíficos, o que muitas vezes dificulta a determinação de um diagnóstico etiológico preciso. Felizmente, na maioria dos casos, isso não é necessário. Entretanto, em algumas situações, fazer o diagnóstico diferencial é importante, pois algumas condições estão relacionadas com condutas e orientações específicas.
Duas dessas infecções respiratórias que merecem destaque são as faringoamigdalites e a covid-19. Vamos acompanhar os principais aspectos de cada uma.
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Faringoamigdalites agudas
As faringoamigdalites agudas infecciosas são infecções que acometem as regiões da faringe e das tonsilas palatinas. São infecções muito frequentes, tanto na população pediátrica quanto adulta.
A maior parte das faringoamigdalites têm origem viral, mas infecções bacterianas também podem ser responsáveis pelo quadro e necessitar de tratamento específico com antibióticos, sendo Streptococcus pyogenes o principal agente nesses casos.
Os sintomas principais são inespecíficos, mas, quando há comprometimento das tonsilas palatinas, dor de garganta costuma estar presente de forma significativa, podendo inclusive comprometer alimentação. Febre, astenia e cefaleia também podem estar presentes. Alguns sinais e sintomas podem ser mais sugestivos de etiologia viral ou bacteriana, mas nenhum é considerado como patognomônico de uma ou outra causa.
Sinais e sintomas mais relacionados às etiologias viral ou bacteriana
Viral | Bacteriana (S. pyogenes) |
Conjuntivite | Febre |
Coriza | Exsudato tonsilar |
Rinorreia | Petéquias em palato |
Tosse | Linfonodomegalia cervical dolorosa |
Diarreia | Cefaleia |
Rouquidão | Náuseas/vômitos |
Úlceras/vesículas orais | Dor abdominal |
Alguns escores clínicos propõem-se a auxiliar na diferenciação entre infecções virais e bacterianas, incluindo os escores de Centor modificado por McIsaac e o FeverPAIN. Contudo, o valor preditivo positivo de ambos não é alto o suficiente para permitir uma confirmação diagnóstica.
Escores de Centor modificado por McIsaac | FeverPAIN | ||
Características clínicas | Pontuação | Características clínicas | Pontuação |
Temperatura > 38 °C | 1 | Febre nas últimas 24h | 1 |
Linfonodomegalia cervical anterior dolorosa | 1 | Purulência (exsudato tonsilar) | 1 |
Edema ou exsudato tonsilar | 1 | Procura por atendimento em até 3 dias de sintomas devido à sua intensidade | 1 |
Ausência de tosse | 1 | Tonsilas inflamadas (vermelhidão e edema significativos) | 1 |
Idade 5 – 14 anos | 1 | Ausência de tosse ou coriza | 1 |
Idade 15 – 44 anos | 0 | ||
Idade ≥ 45 anos | -1 |
Covid-19
A covid-19, por sua vez, é uma infecção causada pelo vírus SARS-CoV-2, descoberto em 2019. Apesar do controle da pandemia nos últimos anos, a doença continua circulando e o número de novos diagnósticos vêm aumentando.
Apesar de apresentar sintomas mais característicos, como ageusia e anosmia, a covid-19 pode cursar com sintomas inespecíficos e discretos, o que faz com que, muitas vezes, o diagnóstico específico não seja feito. Considerando o quadro clínico, os casos podem ser classificados em:
- Caso assintomático: teste laboratorial para SARS-CoV-2 positivo e ausência de sintomas.
- Caso leve: presença de sintomas inespecíficos, como febre, dor de garganta ou coriza, seguidos ou não de anosmia, ageusia, diarreia, dor abdominal, febre, calafrios, mialgia, fadiga e/ou cefaleia.
- Caso moderado: os sintomas podem incluir desde sinais leves, como tosse persistente e febre persistente diária, até sinais de progressão de outros sintomas relacionados à covid-19, como adinamia, prostração, hiporexia ou diarreia, além da presença de pneumonia sem sinais de gravidade.
- Caso grave: presença de síndrome respiratória aguda grave (SRAG), caracterizada por quadro de síndrome gripal com dispneia/desconforto respiratório ou dor/pressão torácica persistente ou sO2 < 95% em ar ambiente ou cianose central. Crianças podem apresentar taquipneia, hipoxemia, desconforto respiratório, alteração de consciência, desidratação, dificuldade para se alimentar, lesão miocárdica, elevação de transaminases, coagulopatia, rabdomiólise, cianose central ou sO2 < 90-92% em repouso e em ar ambiente, letargia, convulsões, dificuldade de alimentação/recusa alimentar.
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Na suspeita de covid-19, é recomendada fazer a testagem para confirmação diagnóstica e orientar adequadamente o período de isolamento. Atualmente, recomenda-se isolamento por um período de 7 dias após o início dos sintomas se eles estiverem em melhora e o paciente estiver afebril há pelo menos 24h. Sem a realização de novo teste, recomenda-se uso de máscara facial até o 10º dia.
Atualmente, há opções de tratamentos disponíveis, como corticoides, remdesivir e a combinação nirmatrelvir/ritonavir, com indicações dependendo da gravidade, presença de fatores de risco e tempo de sintomas.
É importante lembrar que a vacinação, embora eficaz, não exclui por completo a possibilidade de infecção. Sendo assim, deve-se manter a suspeição da doença mesmo em indivíduos que estejam totalmente vacinados.
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