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Infectologia26 julho 2024

IAS 2024: lenacapavir na prevenção de infecção pelo HIV em mulheres cisgênero 

Estudo apresentado no IAS 2024 teve como objetivo avaliar a eficácia e segurança de lenacapavir (LEN) na prevenção de infecção pelo HIV em mulheres cis 

Uma das sessões mais esperadas no IAS 2024 foi a apresentação dos resultados da análise interina do estudo PURPOSE 1, que avaliou a eficácia de lenacapavir como profilaxia pré-exposição (PrEP) em mulheres cis. 

O lenacapavir é um antirretroviral de alta potência, inibidor de capsídeo do HIV-1, que apresenta uma longa meia-vida, tornando possível sua administração na forma de aplicações subcutâneas a cada 6 meses. Estudos prévios já demonstraram sua eficácia no tratamento de indivíduos multiexperimentados em falha virológica. 

Ao mesmo tempo, cada vez mais estudos mostram a eficácia da PrEP como forma de prevenir novas infecções pelo HIV, sendo o uso de TAF/FTC uma possibilidade com eficácia e segurança demonstrada em homens cisgênero e mulheres transgênero que fazem sexo com homens. 

A adesão a um regime diário de medicação oral, contudo, é um importante fator limitante na efetividade da PrEP e outros esquemas continuam sendo investigados. Nesse cenário, a população de mulheres cisgênero configura-se uma população-alvo, em que os esquemas usuais de PrEP oral têm consistentemente se mostrado menos efetivos. 

IAS 2024: lenacapavir na prevenção de infecção pelo HIV em mulheres cisgênero 

Imagem de prostooleh/Freepik

Lenacapavir na prevenção de infecção pelo HIV

O estudo PURPOSE 1 teve como objetivo avaliar a eficácia e segurança de lenacapavir (LEN) SC em dose semestral em comparação com TAF/FTC oral diário na prevenção de infecção pelo HIV em mulheres cis. 

Trata-se um estudo clínico randomizado, de fase 3, duplo-cego, com um grupo de controle ativo. Mulheres cisgênero, entre 16 e 25 anos, com vida sexual ativa, na África do Sul e em Uganda foram rastreadas pelo HIV e as com teste negativo foram randomizadas na proporção de 2:2:1 para receber LEN SC a cada 26 semanas, TAF/FTC oral diário ou TDF/FTC oral diário. O último braço serviu como controle interno ativo para o estudo, permitindo avaliar a eficácia de LEN SC e de TAF/FTC. 

Foram incluídas 2.134 mulheres no grupo de LEN SC, 2.136 no grupo de TAF/FTC e 1.068 no grupo de TDF/FTC. As características clínicas e demográficas foram semelhantes em todos os grupos, com uma mediana de idade de 21 anos. A análise interina apresentada foi feita após pelo menos 50% da coorte ter alcançado 52 semanas de seguimento. 

Achados

Os resultados mostraram uma eficácia de 100% no grupo de LEN SC, com uma incidência de 0 casos/100 pessoas-ano (0 infecções/1.939 pessoas-ano). A incidência de HIV na população foi estimada em 2,41 casos/100 pessoas-ano. Entre as mulheres que estavam no grupo do TAF/FTC, a incidência foi de 2,01/100 pessoas-ano (39 infecções/1.932 pessoas-ano) e, entre as que estavam no grupo do TDF/FTC, foi de 1,69 (16 infecções/949 pessoas-ano). 

Esses dados demonstram que, em comparação com a incidência basal de HIV, LEN mostrou-se eficaz na prevenção de novas infecções, enquanto o uso de TAF/FTC não apresentou diferença. Já em comparação com TDF/FTC, LEN mostrou-se superior na prevenção de HIV, enquanto TAF/FTC não apresentou diferença numérica. 

O estudo também avaliou a adesão ao tratamento em cada grupo. Para o LEN, adesão foi definida como administração da injeção SC no tempo certo de acordo com o protocolo, a cada 26 semanas. Já para os grupos de PrEP oral, a adesão foi determinada de acordo com os níveis de tenofovir em hemácias. A adesão ao LEN foi elevada (91,5% na semana 26 e 92,8% na semana 52), enquanto a adesão foi considerada como baixa (< 2 doses/semana) na maioria dos participantes nos grupos de TDF e TAF. Além disso, em ambos os grupos de PrEP oral, a adesão diminuiu com o tempo. Como em outros estudos, a chance de infecção pelo HIV foi significativamente menor em participantes do grupo de TAF/FTC com adesão moderada a alta. 

Tanto LEN quanto TAF/FTC foram seguros e bem tolerados. O evento adverso mais comum no grupo de LEN foram reações no local da injeção, mas esses reduziram nas doses subsequentes, o que também foi observado nos estudos que avaliaram LEN para o tratamento de HIV. 

O uso de um método contraceptivo não foi critério para participação no PURPOSE 1 e 487 gestações foram confirmadas durante o período avaliado (184 no grupo de LEN, 208 no grupo de TAF/FTC e 95 no grupo de TDF/FTC). Não houve diferença na taxa de aborto espontâneo no grupo do LEN em relação ao esperado na população. Para as gestações em que a informação esteve disponível, os desfechos das gestações foram semelhantes ao esperado. 

Conclusão

A grande conclusão do estudo foi de que LEN, em um regime de injeções SC a cada 6 meses, mostrou-se seguro, bem tolerado e eficaz na prevenção de novas infecções por HIV em mulheres cisgênero, mostrando-se uma opção promissora de PrEP. 

Confira todos os destaques do congresso aqui!  

Autoria

Foto de Isabel Cristina Melo Mendes

Isabel Cristina Melo Mendes

Infectologista pelo Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (UFRJ) ⦁ Graduação em Medicina na Universidade Federal do Rio de Janeiro

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