Pesquisas do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP), conduzidas pelo professor Marcelo Urbano Ferreira, revelam um desafio crescente para o combate à malária: em regiões amazônicas com baixa transmissão, a maior parte das infecções por Plasmodium vivax ocorre de forma silenciosa, sem sintomas e fora do alcance dos exames de rotina. O fenômeno ameaça os planos de eliminação da doença no país.
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Os estudos sobre malária
Realizados em Mâncio Lima e Vila Assis Brasil, no Acre, os estudos mostram que, à medida que a transmissão diminui, a microscopia, principal método diagnóstico do SUS, perde sensibilidade, deixando escapar portadores assintomáticos que mantêm a circulação do parasita. Mais de 2.700 moradores foram acompanhados ao longo de vários anos. Quando comparados, os testes moleculares (PCR) detectaram até dez vezes mais infecções do que a microscopia, e mais de 90% delas não apresentavam sinais clínicos.
Para enfrentar esse cenário, o município testou a chamada busca ativa-reativa: equipes visitavam familiares e vizinhos de pessoas diagnosticadas, mesmo sem sintomas. A estratégia, recomendada pela Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), contribuiu para a redução dos casos notificados, embora outros fatores também tenham influenciado.
Resultados
Os pesquisadores observaram ainda que 20% da população concentra cerca de 80% das infecções, formando o grupo dos chamados “superdisseminadores”. Esses indivíduos, por características genéticas, imunológicas ou comportamentais, carregam o parasita sem desenvolver sintomas, mantendo a transmissão viva mesmo quando os casos clínicos caem.
Diante desse cenário, especialistas defendem ampliar o uso de métodos moleculares e reforçar a vigilância ativa voltada para populações vulneráveis e móveis, como trabalhadores rurais e moradores de áreas periurbanas. Para Marcelo Ferreira, alcançar a meta de eliminação da malária até 2035 só será possível com investimentos em diagnóstico mais sensível e estratégias que interrompam a transmissão silenciosa.
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*Este artigo foi revisado pela equipe médica do Portal Afya.
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