Cada vez mais tem se observado a presença de sintomas persistentes em pessoas que se recuperaram de Covid-19. Estudos prévios já demonstraram que, mesmo após 2 meses do início dos sintomas, uma proporção significativa de pacientes com Covid-19 permanece com sintomas, sendo a fadiga um dos mais frequentes.
Outro estudo, publicado recentemente na PLoS ONE, avaliou a persistência de fadiga em pacientes com Covid-19 e encontrou resultados demonstrando que a presença desse sintoma é não só frequente, mas também independe da gravidade do quadro inicial.
Leia também: Covid-19: Perda de olfato foi sintoma mais frequente apontado por estudo europeu
Materiais e métodos
Os participantes do estudo foram recrutados a partir de uma clínica de referência para seguimento de pacientes que se recuperaram de infecções por SARS-CoV-2 laboratorialmente confirmadas localizada em Dublin, Irlanda. Participantes foram considerados aptos à participação no estudo se estivessem no mínimo com 6 semanas após o último sintoma de doença aguda para os casos de Covid-19 manejados ambulatorialmente ou após alta hospitalar para os casos que necessitaram de internação.
Os voluntários incluídos foram avaliados em relação à presença ou não de fadiga como sintoma persistente a partir de uma escala (Chalder Fatigue Scale; CFQ-11). Parâmetros laboratoriais, como leucograma, marcadores inflamatórios e dosagem de citocinas, também foram avaliados. Além disso, características demográficas e histórico de comorbidades também foram recuperados a partir dos registros em prontuário e de lista de medicamentos de uso regular.
Resultados
Foram incluídos 128 participantes, dos quais 71 (55,5%) tiveram um quadro de Covid-19 que necessitou de internação hospitalar. A média de tempo decorrido entre a alta hospitalar ou o início dos sintomas e a avaliação do estudo foi de 72 dias. Nenhum paciente tratado ambulatorialmente recebeu terapia específica para Covid-19, enquanto 35 dos 71 pacientes que foram internados receberam hidroxicloroquina, dos quais 6 também receberam prednisolona.
Dos participantes incluídos, 54 (42,2%) reportaram sentirem que sua saúde tinha voltado completamente ao normal. Antes de adoecerem, a maioria (82%) estavam empregados, dos quais 31% ainda não haviam retornado ao trabalho no momento da avaliação do estudo. Pela avaliação de acordo com a escala CFQ-11, 52,3% dos participantes preenchiam critérios para presença de fadiga. Na análise univariada, o grupo de pessoas com fadiga grave continha mais mulheres e mais participantes com história de ansiedade e/ou depressão ou com uso de antidepressivos. Não houve associação entre o trabalho como profissional de saúde — que compunham 51,6% da amostra — e a presença de fadiga.
Não houve associação entre as características da Covid-19 e a presença ou intensidade da fadiga, tanto na análise não ajustada quanto nos modelos ajustados por idade e sexo. Também não houve associação entre a contagem de leucócitos, neutrófilos e linfócitos, proteína C reativa, LDH, taxa de neutrófilos/linfócitos, IL-6 ou CD25 solúvel entre os que apresentavam ou não fadiga.
Saiba mais: O peso dos sinais e sintomas pós-Covid-19
Mensagens práticas
- Fadiga foi um sintoma comum entre pacientes com Covid-19, estando presente em mais da metade dos voluntários após uma média de 10 semanas do início da doença.
- Nesse tempo, aproximadamente 1/3 dos participantes ainda não havia conseguido retornar ao trabalho.
- A presença de fadiga ocorreu de forma independente de idade, sexo ou gravidade da doença. Também não houve associação entre marcadores inflamatórios e a presença ou não de fadiga.
- Houve uma preponderância de fadiga entre mulheres e pessoas com história de depressão e/ou ansiedade.
- Pacientes com Covid-19 devem ser acompanhados mesmo após recuperação da fase aguda da doença para avaliar a presença de sintomas persistentes e seu impacto na qualidade de vida.
Referências bibliográficas:
- Carfi A, Bernabei R, Landi F. Persistent Symptoms in Patients After Acute COVID-19. JAMA. 2020 July 9. doi:10.1001/jama.2020.12603
- Townsend L, Dyer AH, Jones K, Dunne J, Mooney A, Gaffney F, et al. Persistent fatigue following SARS-CoV-2 infection is common and independent of severity of initial infection. PLoS ONE. 2020;15(11): e0240784. doi: 10.1371/journal.pone.0240784
Como você avalia este conteúdo?
Sua opinião ajudará outros médicos a encontrar conteúdos mais relevantes.