Seguindo a discussão em relação a bactérias Gram-negativas de interesse, o primeiro dia do 32º European Congress of Clinical Microbiology & Infectious Diseases (ECCMID 2022) discutiu também algumas características de outro organismo que é um potencial agente de doença em ambiente de unidade de terapia intensiva: Stenotrophomonas maltophilia.
Confira o que foi discutido:
Stenotrophomonas maltophilia
Stenotrophomonas maltophilia são bactérias ambientais, que podem ser encontradas em coleções de água, plantas, animais e alimentos. Considerados organismos pouco virulentos, eventualmente podem ser agentes patogênicos de infecções comunitárias ou hospitalares, estando associadas à alta mortalidade.
Em relação a processos infecciosos, S. maltophilia é geralmente agente de infecções de trato respiratório e de corrente sanguínea. A capacidade de formação de biofilmes – que podem ser resistentes a alguns desinfetantes comumente utilizados – permite sua persistência no ambiente, principalmente em dispositivos médicos, como cateteres venosos e circuitos de ventilação mecânica.
No ambiente hospitalar, pode ser uma doença de difícil tratamento devido à resistência a múltiplos antibióticos. A presença de diferentes bombas de efluxo confere resistência a betalactâmicos, quinolonas, macrolídeos, aminoglicosídeos, tetraciclinas, cotrimoxazol e cloranfenicol. Ao mesmo tempo, outros mecanismos estão relacionados a fatores de virulência, como a presença de flagelos – relacionados a fatores de aderência, formação de biofilme e imunogenicidade – e vesículas e proteínas de membrana externa – que, em estudos in vitro, estimulam inflamação em linhagens de células pulmonares. As vesículas de membrana externa podem, também, carrear beta-lactamases ativas e ter sua produção estimulada pela exposição a imipenem ou ciprofloxacino.
Outra característica que contribui para o potencial patogênico das linhagens de S. maltophilia é a capacidade de formar biofilmes, que formam um ambiente favorável para a transmissão horizontal de genes, inclusive de mecanismos de resistência. Além disso, genes relacionados à formação de biofilme também estão associados à indução de produção de beta-actamases.
Evidências mostram que S. maltophilia também pode se adaptar ao hospedeiro, sendo um potencial agente de infecções crônicas, como ocorre em indivíduos com fibrose cística. Adaptações à temperatura corporal e mesmo à presença de outras bactérias, como Pseudomonas aeruginosa, favorecem a diminuição do clearance bacteriano e a perpetuação de colonização e infecção no ambiente pulmonar.
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