Logotipo Afya
Anúncio
Infectologia1 abril 2024

Dosagem de IFN vs. Xpert Ultra no diagnóstico de pericardite tuberculosa 

Estudo avaliou a acurácia do GeneXpert MTB/RIF Ultra em comparação com a dosagem não estimulada de IFNγ (IRISA-TB) no diagnóstico de TB e de serosite tuberculosa. 
A tuberculose ainda é uma das principais doenças infecciosas transmissíveis com importância na saúde global. Estima-se que, em 2022, tenham ocorrido aproximadamente 11 milhões de novos casos no mundo, dos quais cerca de 15 a 20% sejam de casos extrapulmonares. Dentre as formas de TB extrapulmonar, serosite é a principal, com a maior parte dos casos sendo de TB pleural. Pericardite tuberculosa é outra forma de apresentação da doença, que, embora menos frequente, tem uma alta taxa de óbitos em seis meses associada, da ordem de 20 a 40%.  Apesar de sua importância clínica, o diagnóstico de pericardite tuberculosa é difícil. O método clássico por meio de baciloscopia com BAAR e cultura tem uma sensibilidade de somente 5% e uma especificidade de 50%. Outros métodos, como a dosagem de ADA, uso de scores clínicos e técnicas moleculares, como o GeneXpert MTB/RIF, também apresentam performance inadequada. Para o último, estudos comparando-o com cultura e biópsia de pericárdio mostraram uma sensibilidade < 60%.  

Estudo 

Com o desenvolvimento e aperfeiçoamento de outras técnicas, espera-se que seja possível alcançar outras ferramentas diagnósticas que possuam maior acurácia e que possam ser aplicadas, de forma simples, para identificar TB como etiologia de casos de pericardite. Um estudo publicado na Open Forum Infectious Diseases avaliou a acurácia do GeneXpert MTB/RIF Ultra (uma nova geração de método molecular, com maior sensibilidade) em comparação com a dosagem não estimulada de IFNγ (IRISA-TB), um biomarcador que vem sendo estudado para o diagnóstico de TB e de serosite tuberculosa. 

Materiais e métodos 

O estudo recrutou pacientes com suspeita de pericardite tuberculosa que se apresentaram em um hospital na Cidade do Cabo, na África do Sul. Foram considerados como casos suspeitos os indivíduos com derrame pericárdico grande, definido como um espaço > 1 cm ao redor do coração sob visualização em ECO-TT.  Os voluntários incluídos foram submetidos à pericardiocentese guiada por ultrassom e o líquido pericárdico foi submetido à análise bioquímica, citológica, microscopia, cultura para Mycobacterium tuberculosis, Xpert Ultra e IRISA-TB.  Os participantes foram classificados como tendo TB definida, TB provável ou sem TB. 
  • TB definida: Um resultado de cultura para M. tuberculosis (líquido pericárdico, material de biópsia e/ou escarro) e/ou presença de granuloma caseoso sugestivo de TB na histopatologia e com melhora clínica com tratamento contra TB. 
  • TB provável: Pacientes que não preenchem critério microbiológico ou histopatológico para TB definida, mas com indicadores clínicos sugestivos de TB e que receberam tratamento específico. 
  • Sem TB: Pacientes que não preenchem critério para TB definida e nem para TB provável, sem evidência microbiológica ou histológica de TB e/ou que apresentaram um diagnóstico alternativo. 

Resultados 

Foram recrutados 99 pacientes: 39 com TB definida, 35 com TB provável e 23 foram classificados como não tendo TB. As causas para pericardite desses últimos incluíram linfoma, adenocarcinoma, pericardite bacteriana e hipotireoidismo. Dois pacientes não puderam ser classificados e foram excluídos da análise.  Os participantes com TB definida e provável apresentaram maiores taxas de infecção pelo HIV e maior classificação de NYHA quando comparados com os indivíduos sem TB, além de menores contagens de leucócitos, creatinina e pressão diastólica.  A análise dos níveis não estimulados de IFNγ por meio do IRISA-TB foi realizada com amostras de 53 participantes. Os valores foram significativamente maiores nos grupos de TB definida em comparação com os sem TB (mediana de 93,7 pg/mL vs. 0,0 pg/mL, respectivamente; p < 0,0001). Baseado nesses dois grupos, o melhor ponto de corte para o teste foi calculado em 10 pg/mL.   O ensaio apresentou uma sensibilidade de 88,6% (IC 95% = 74,1 – 95,5%), uma especificidade de 94,5% (IC 95% = 74,3 – 99,1%), um VPP de 96,9% (IC 95% = 84,3 – 99,5%) e um VPN de 81,0% (IC 95% = 60,0 – 92,4%). Na comparação entre os 3 grupos, a sensibilidade encontrada foi de 77,3% (IC 95% = 65,9 – 85,8%), a especificidade foi de 94,5% (IC 95% = 74,3 – 99,1%), o VPP foi de 98,1% (IC 95% = 89,9 – 99,7%) e o VPN foi de 53,2% (IC 95% = 36,5 – 69,2%).   O teste GeneXpert Ultra apresentou uma sensibilidade de 71,5% (IC 95% = 55,0 – 83,7%), uma especificidade de 100,0% (IC 95% = 82,5 – 100,0%), um VPP de 100,0% (IC 95% = 86,7 – 100,0%) e um VPN de 64,3% (IC 95% = 45,9 – 79,3%), na comparação de indivíduos classificados como tendo TB definida com os sem TB. Quando os 3 grupos foram comparados, a sensibilidade foi de 37,9% (IC 95% = 27,2 – 50,0%), a especificidade foi de 100,0% (IC 95% = 82,5% - 100,0%), o VPP foi de 100,0% (IC 95% = 86,7 – 100,0%) e o VPN foi de 30,6% (IC 95% = 20,3 – 43,2%).  Comparando-se os dois métodos, IRISA-TB apresentou maior sensibilidade que o Xpert Ultra em indivíduos sem infecção pelo HIV (100% vs. 60%; p = 0,0293) quando se comparou os grupos com TB definida vs. os sem TB. Na avaliação dos 3 grupos, a sensibilidade do IRISA-TB foi maior tanto em indivíduos com infecção pelo HIV (73,5% vs. 38,8%; p = 0,0006) quanto nos sem infecção pelo vírus (88,3% vs. 35,3%; p = 0,0017). O VPN do IRISA-TB também foi maior na análise dos 3 grupos (53,2% vs. 30,6%; p = 0,0431), o que também ocorreu quando se avaliou somente o subgrupo de pessoas sem HIV (86,7% vs. 54,2%; p = 0,0386). 

Mensagens práticas 

  • Neste estudo, a performance de um ensaio de dosagem de níveis de IFNγ foi superior à do GeneXpert Ultra para o diagnóstico de pericardite tuberculosa. 
  • A diferença entre os testes se deu, principalmente, no subgrupo de pessoas sem infecção pelo HIV. 
  • Importante destacar que mesmo as técnicas padronizadas como padrão-ouro para o diagnóstico de pericardite tuberculosa apresentam performance subótima, o que limita a avaliação de novas metodologias. 
  • O teste IRISA-TB é diferente do ensaio de IGRA, mais conhecido e já em utilização no Brasil.
Anúncio

Assine nossa newsletter

Aproveite o benefício de manter-se atualizado sem esforço.

Ao assinar a newsletter, você está de acordo com a Política de Privacidade.

Como você avalia este conteúdo?

Sua opinião ajudará outros médicos a encontrar conteúdos mais relevantes.

Referências bibliográficas

Compartilhar artigo