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Não é raro o médico infectologista atender no consultório uma gestante angustiada, em razão de um resultado de IgM positivo para citomegalovírus (CMV). Na toxoplasmose, por exemplo, a solicitação da avidez da IgG tem por finalidade ajudar a diferenciar infecção antiga (alta avidez) de infecção recente (baixa avidez), quando a IgM é confirmadamente positiva. Pode ajudar a definir conduta, pois é possível utilizar a espiramicina na tentativa de evitar a transmissão para o feto.
Mas e o CMV? Existe algum tratamento para a gestante que possa prevenir a infecção fetal? Até existe. Estudos que utilizaram imunoglobulina parecem promissores, mas são pequenos ou inconsistentes. Os antivirais, em modelos animais, apresentam toxicidade e tem potencial efeito teratogênico, razão pela qual devem ser evitados.
A paciente que já entrou em contato com o vírus (IgG positiva) também tem risco de reativação, ainda que muito menor. Mas se imaginarmos que cerca de 90% da população pode já ter entrado contato com o CMV, qual seria a vantagem do rastreio?
Leia mais: Infecção materna por citomegalovírus: o que é e como investigar?
Além do que, vimos que até o momento não há droga específica aprovada com bom nível de evidência para tratamento dos casos com evidência de soroconversão recente. Além de onerar o sistema, poderiam ser realizados exames discutíveis com risco maior que o benefício. Sem falar na preocupação para a gestante, ocasionada pelos resultados das sorologias.
O Ministério da Saúde, nas suas recomendações para acompanhamento pré-natal de gestação de alto risco, coloca como desnecessária a triagem de rotina para gestantes, corroborando com as recomendações mundiais. A FEBRASGO e o CDC também não a recomendam.
Desta forma, até que tenhamos estudos mais esclarecedores, principalmente em relação à imunoglobulina, não é recomendável o rastreio sistemático de citomegalovírus na gestação. Alguns especialistas, entretanto, defendem que a triagem pode ajudar na pediatria, no acompanhamento dos sintomas e sequelas tardias de bebês potencialmente infectados.
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Referências:
- http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/gestacao_alto_risco.pdf
- RASTREIO DO CITOMEGALOVIRUS NA GRAVIDEZ – SIM OU NÃO? Revisão Bibliográfica |Dissertação de Mestrado Integrado em Medicina SARA MARINA DA SILVA SANTOS PORTO, 2017
- Screening, diagnosis and management of cytomegalovirus in pregnancy, Yinon I, et al Obstet Gynecol Surv 2010
- http://files.bvs.br/upload/S/0100-7254/2012/v40n1/a3075.pdf
- http://www.atlasdasaude.pt/publico/content/devia-haver-um-rastreio-pre-natal-sistematico-do-virus-citomegalico-humano
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