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Infectologia31 agosto 2022

Anticorpo monoclonal para prevenir a infecção por malária

A malária é uma parasitose cujo vetor é um mosquito e que só em 2020 afetou 241 milhões de pessoas no mundo e, dessas, 627 mil morreram.

Por Raissa Moraes

Em outubro de 2021, a OMS recomendou o uso da vacina Mosquirix como medida preventiva contra infecção, porém, ela oferece proteção parcial com eficácia estimada em 36,3% após 4 anos de seguimento. Ainda que tenha havido um grande desenvolvimento em termos de vacinação para malária, outras estratégias são necessárias para reduzir a incidência global da doença e sua alta mortalidade, a África subsaariana é a região mais afetada pela doença e estima-se que lá 80% das mortes sejam em crianças menores de 5 anos.

Leia também: Malária na gestação: quais são as particularidades?

Dessa forma, um ensaio clínico aberto de fase 1 foi realizado nos Estados Unidos para avaliar o uso de um anticorpo monoclonal (L9LS) na proteção contra malária. Os anticorpos monoclonais têm se mostrado eficazes em prevenir a doença por agirem na fase pré-eritrocítica, neutralizando os esporozoítos. Essa abordagem difere das vacinas pois não é influenciada por algumas variáveis, como exposição prévia à malária, idade e imunodeficiência. O L9LS faz parte da nova geração de anticorpos monoclonais contra malária, sendo três vezes mais potente que a geração anterior nos ensaios pré-clínicos.

Anticorpo monoclonal para prevenir a infecção por malária

Métodos

Assim, esse ensaio de fase 1 objetivou primariamente avaliar eficácia e segurança da medicação e, em segundo lugar, avaliar as propriedades farmacocinéticas e efeito protetivo após duas a seis semanas da exposição controlada à malária. Um total de 27 participantes adultos (entre 18-50 anos), saudáveis, que não tiveram a doença ou foram vacinados, foi selecionado, 18 receberam o L9LS da seguinte forma:

  • 5 pacientes receberam 1 mg/kg endovenoso;
  • 4 pacientes receberam 5 mg/kg endovenoso;
  • 5 receberam 5 mg/kg subcutâneo;
  • 4 receberam 20 mg/kg endovenoso;
  • Os demais participantes foram controle.

Os participantes foram expostos ao mosquito Anopheles stephensi infectados pelo P. falciparum (cepa 3D7) e a parasitemia foi definida como um resultado de PCR positivo. Os participantes foram considerados protegidos se não desenvolveram parasitemia após 21 dias.

Resultados do ensaio sobre prevenção da malária

Com relação à segurança da medicação testada, todos os sintomas associados ao local de aplicação foram leves à moderados e autolimitados, não havendo diferença significativa no modo de administração (endovenoso ou subcutâneo). Não houve relato de reação infusional e apenas um paciente desenvolveu adenopatia local que foi relacionada à medicação e com resolução espontânea em 29 dias.

Com relação à farmacocinética, a concentração sérica maior foi obtida com a dose de 20 mg/kg endovenosa e a menor com 1 mg/kg endovenosa. Dos 18 participantes que receberam o anticorpo monoclonal, um perdeu o seguimento, e 15 (88%) foram protegidos de infecção. Não houve infecção em nenhum dos pacientes que receberam as doses de 5 ou 20 mg/kg endovenoso. Dois participantes dos 10 que receberam as doses de 1 mg/kg endovenoso ou 5 mg/kg subcutâneo e todos os controles desenvolveram parasitemia. A eficácia da medicação foi vista em concentrações séricas a partir de 9,2 µg/ml e o tempo de meia vida estimado foi de 56 dias.

Saiba mais: Malária: estratégias de diagnóstico precoce e tratamento

Mensagem prática

Apesar de ser um estudo pequeno, de fase 1, cujo objetivo primário é avaliar segurança e efeitos colaterais, e que, por isso mesmo, seleciona pessoas saudáveis e de região não endêmica, os achados são animadores. Eles trazem como futura opção uma estratégia com aparente boa durabilidade, já que a droga apresentou meia vida longa. Além disso, alta potência, fazendo com que pouco volume de droga precise ser administrado, reduzindo custos. Isso tudo é fundamental em regiões endêmicas para doença, que geralmente são pobres. Outro ponto relevante é que a possibilidade de administração subcutânea é interessante quando pensamos em proteger a população pediátrica.

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Referências bibliográficas

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