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Ginecologia e Obstetrícia16 junho 2025

Vaginose bacteriana: devemos tratar o parceiro? 

Evidências de troca sexual de organismos associados à vaginose bacteriana entre parceiros sugerem a necessidade do tratamento do parceiro masculino para cura
Por Raissa Moraes

A vaginose bacteriana é uma disbiose da microbiota vaginal que afeta 30% das mulheres em todo o mundo e está associada a sequelas obstétricas e ginecológicas. Diretrizes internacionais recomendam metronidazol ou clindamicina como tratamento de primeira linha, porém, essa estratégia não resulta em cura sustentada, com uma incidência de recorrência em três meses superior a 50%. 

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Problemática 

A grande dificuldade na cura advém da não compreensão completa da patogênese da doença, ainda que dados epidemiológicos e microbiológicos sustentem que a vaginose bacteriana tem o perfil de uma infecção sexualmente transmissível ISTs.  

A vaginose bacteriana incidente tem um período de incubação semelhante ao de outras ISTs bacterianas e está associada a novos parceiros sexuais, enquanto o risco de recorrência é maior entre mulheres que relatam relações sexuais com um parceiro regular. Estudos mostram que os homens podem abrigar espécies bacterianas associadas à vaginose bacteriana na uretra distal e no espaço subprepucial e que, além disso, a microbiota peniana é preditiva do risco de adquirir vaginose bacteriana. 

Vaginose bacteriana: devemos tratar o parceiro? 

Imagem de freepik

Estudo: vaginose bacteriana

Dessa forma, foi realizado um ensaio clínico randomizado e controlado para determinar se o tratamento antimicrobiano oral e tópico concomitante de parceiros masculinos de mulheres recebendo terapia de primeira linha para vaginose bacteriana, em comparação com o tratamento apenas da mulher (tratamento padrão), reduz o risco de recorrência em 12 semanas. 

Um total de 81 casais foram designados para o grupo de intervenção e 83 casais foram designados para o grupo de controle. O estudo foi interrompido pelo comitê de monitoramento de dados e segurança após 150 casais completarem o período de acompanhamento de 12 semanas, pois o tratamento apenas da mulher foi inferior ao tratamento tanto da mulher quanto do seu parceiro. A recorrência ocorreu em 24 de 69 mulheres (35%) no grupo de tratamento com parceiro (taxa de recorrência, 1,6 por pessoa-ano; intervalo de confiança [IC] de 95%, 1,1 a 2,4) e em 43 de 68 mulheres (63%) no grupo de controle (taxa de recorrência, 4,2 por pessoa-ano; IC de 95%, 3,2 a 5,7), o que correspondeu a uma diferença de risco absoluta de -2,6 recorrências por pessoa-ano (IC de 95%, -4,0 a -1,2; P < 0,001).  

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Considerações finais 

Neste estudo, a adição de terapia antimicrobiana oral e tópica para parceiros masculinos quando suas parceiras foram tratadas para vaginose bacteriana resultou em uma taxa de recorrência significativamente menor ao longo de um período de 12 semanas que a prática recomendada de tratar apenas mulheres.  

Interessante notar que quase um terço das participantes do sexo feminino usava DIU, um fator de risco conhecido para vaginose bacteriana. Os resultados não diferiram substancialmente de acordo com o uso ou não de DIU ou com o status de circuncisão masculina. Além disso, o estudo não teve poder estatístico para explorar a associação entre esses fatores e a recorrência e as análises secundárias não identificaram práticas ou comportamentos adicionais que contribuíram para a recorrência.

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Referências bibliográficas

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