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Ginecologia e Obstetrícia13 março 2025

Uso de polifenóis na prevenção e manejo de pré-eclâmpsia 

A pré-eclâmpsia é uma complicação grave da gestação, responsável por uma parcela significativa das mortes maternas em todo o mundo.

Um artigo recente foi publicado na revista BJOG, com objetivo de sintetizar as evidências sobre os efeitos de suplementos e extratos que contenham polifenóis durante a gravidez sobre desfechos obstétricos, especialmente a pré-eclâmpsia. 

A fisiopatologia da pré-eclâmpsia envolve disfunção endotelial, inflamação placentária e alterações vasculares. Atualmente, as opções terapêuticas são limitadas, incluindo o uso de aspirina em baixas doses e suplementação de cálcio como medidas preventivas. Os polifenóis, compostos bioativos encontrados em diversos alimentos, têm sido investigados como potenciais intervenções para a pré-eclâmpsia devido aos seus efeitos anti-inflamatórios e antioxidantes.  

Geralmente os polifenóis são substâncias naturais encontradas em plantas, tais como flavonoides, taninos, lignina, derivados do ácido cafeico, entre outras. Muitas destas substâncias são classificadas como antioxidantes naturais e possuem propriedades terapêuticas, estando presentes em alimentos como cacau, chocolate e plantas medicinais. 

Metodologia  

Foi realizada uma revisão sistemática e meta-análise para avaliar os efeitos de produtos contendo polifenóis na prevenção e no manejo da pré-eclâmpsia. Foram incluídos ensaios clínicos randomizados comparando suplementos ou extratos padronizados de polifenóis com placebo ou tratamento padrão. A busca foi conduzida em nove bases de dados e um registro de ensaios clínicos, sem restrição de idioma. As análises estatísticas seguiram um modelo de efeitos aleatórios. 

O desfecho primário dos ensaios de prevenção (envolvendo mulheres em risco de pré-eclâmpsia) foi a incidência de pré-eclâmpsia. Durante ensaios clínicos (envolvendo mulheres com diagnóstico de pré-eclâmpsia), o desfecho primário foi morte materna ou progressão para pré-eclâmpsia grave, eclâmpsia ou síndrome HELLP.  

Resultados principais  

Foram incluídos 14 ensaios clínicos randomizados investigando seis diferentes polifenóis. Os principais achados indicaram que: 

  • O epigalocatequina galato (EGCG) e o resveratrol, quando adicionados ao nifedipino, reduziram significativamente o tempo necessário para o controle da pressão arterial em mulheres com pré-eclâmpsia. O EGCG apresentou uma diferença média (MD) de -14,10 minutos (IC 95%: -18,46 a -9,74), enquanto o resveratrol reduziu o tempo em MD = -15,50 minutos (IC 95%: -19,83 a -11,17). Ambos os compostos também aumentaram o tempo até a próxima crise hipertensiva, com MD = 3,10 horas (IC 95%: 2,35 a 3,85) para o EGCG e MD = 2,50 horas (IC 95%: 2,09 a 2,91) para o resveratrol. 
  • Não foram observadas diferenças significativas para outros polifenóis estudados, incluindo Salvia miltiorrhiza (Danshen), Bryophyllum pinnatum, framboesa e cranberry, na prevenção ou tratamento da pré-eclâmpsia. 
  • Não houve impacto relevante na incidência de pré-eclâmpsia, progressão da doença, taxa de nascimento prematuro ou complicações neonatais nos grupos que receberam polifenóis em comparação com o grupo controle. 
  • A qualidade das evidências foi considerada baixa ou muito baixa, devido ao alto risco de viés, tamanhos amostrais reduzidos e heterogeneidade metodológica entre os estudos. 

Uso de polifenóis na prevenção e manejo de pré-eclâmpsia 

Conclusão: polifenóis na prevenção e manejo de pré-eclâmpsia  

Apesar do crescente interesse nos polifenóis como estratégias terapêuticas para a pré-eclâmpsia, as evidências disponíveis são limitadas e de baixa qualidade. Os efeitos positivos observados para o EGCG e o resveratrol no controle pressórico são promissores, mas necessitam de confirmação por estudos de maior qualidade metodológica e com amostras mais robustas. Ademais, a segurança do uso de polifenóis durante a gestação ainda não está bem estabelecida.  

Mensagem prática  

Os polifenóis, particularmente o EGCG e o resveratrol, podem apresentar benefícios no manejo da pressão arterial em gestantes com pré-eclâmpsia, mas sua utilização clínica ainda não pode ser recomendada de forma rotineira. São necessárias pesquisas adicionais para avaliar sua eficácia e segurança antes de serem incorporados à prática obstétrica.

Saiba mais: A complexa relação entre hábitos alimentares, depressão e obesidade em pediatria

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Referências bibliográficas

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