As síndromes hipertensivas da gestação, especificamente a pré-eclâmpsia são causas importantes de morbimortalidade materna e perinatal no Brasil e no mundo. Essa condição hipertensiva, que pode evoluir para complicações graves como a eclâmpsia, ainda representa um desafio significativo na atenção à saúde materno-fetal. Diante desse cenário, o Ministério da Saúde publicou a Nota Técnica Conjunta nº 251/2024, com recomendações para a suplementação de cálcio na gestação (englobando todas as gestantes e não mais só aquelas com fatores de risco), visando prevenir distúrbios hipertensivos e reduzir suas consequências adversas.
Cálcio e Pré-Eclâmpsia
A pré-eclâmpsia é uma das mais importantes complicações da gestação e uma das principais causas de mortalidade materna nos países em desenvolvimento. Estudos indicam que os distúrbios hipertensivos gestacionais estão diretamente relacionados às concentrações maternas de micronutrientes, especialmente o cálcio.
Ensaios clínicos randomizados desde os anos 1980 sugerem que a suplementação de cálcio reduz os níveis pressóricos e os riscos associados à pré-eclâmpsia. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda uma dose de 1,5g a 2g de cálcio elementar por dia para gestantes com baixa ingestão dietética, especialmente em países de baixa e média renda. No entanto, alguns estudos indicam que doses inferiores, como 800mg/dia, também podem ser eficazes, enquanto altas doses podem gerar riscos, como cálculos urinários e deficiência na absorção de outros micronutrientes.
Estudos apontam que a ingestão dietética de cálcio das gestantes brasileiras é frequentemente inferior a 600mg/dia, destacando a necessidade de estratégias nutricionais para reduzir o risco de complicações hipertensivas. Até então, no Brasil, a indicação era de iniciar cálcio juntamente com AAS para mulheres com alto risco para desenvolver pré-eclâmpsia).
Recomendações baseadas na Nota Técnica Conjunta nº 251/2024
A Nota Técnica foi elaborada pela Coordenação-Geral de Atenção à Saúde das Mulheres (CGESMU/DGCI/SAPS) e pela Coordenação-Geral de Alimentação e Nutrição (CGAN/DEPPROS/SAPS). Seu principal objetivo é fornecer diretrizes para a suplementação de cálcio na gestante, especialmente no contexto da prevenção dos distúrbios hipertensivos.
Os pontos-chave da recomendação incluem:
- A suplementação de carbonato de cálcio deve ser universal para gestantes, iniciando-se na 12ª semana de gestação até o parto;
- O suplemento não deve ser ingerido em jejum e deve-se evitar a sua associação com alimentos ricos em fitatos, oxalatos e ferro;
- A gestante pode consumir o suplemento no período da noite, acompanhado de um copo de leite ou suco de frutas;
- Além da suplementação, é essencial manter uma alimentação adequada.
Prevenção da Pré-Eclâmpsia
A predição e prevenção da pré-eclâmpsia continua sendo um desafio devido à sua complexidade. Algumas estratégias de rastreamento incluem:
- Iniciar a prevenção preferencialmente antes da 16ª semana (AAS e Cálcio em mulheres de alto risco).
- Rastrear todas as gestantes para risco de pré-eclâmpsia por meio de fatores clínicos.
- Quando disponível, utilizar o teste combinado entre 11 e 14 semanas (pressão arterial, Doppler das artérias uterinas, PLGF).
- Considerar a classificação de risco da ACOG, incluindo obesidade como fator de risco alto.
- Evitar o uso isolado de marcadores biofísicos e bioquímicos.
Considerações Finais
A suplementação de cálcio é uma estratégia eficaz e de baixo custo para prevenir distúrbios hipertensivos. A implementação das recomendações da Nota Técnica nº 251/2024 pode reduzir a morbimortalidade materna no Brasil, garantindo melhores desfechos para mães e bebês. A predição da pré-eclâmpsia, apesar dos desafios, pode ser aprimorada com estratégias adequadas, possibilitando intervenções mais eficazes.
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