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Ginecologia e Obstetrícia21 julho 2025

Uso de aspirina na prevenção de pré-eclâmpsia em gestações gemelares

Estudo comparou o uso de duas doses de aspirina para prevenção de pré-eclâmpsia em gestações gemelares
Por Ênio Luis Damaso

Um artigo intitulado “Comparison of two aspirin doses for the prophylaxis of pre-eclampsia in twin pregnancy: a multicenter retrospective study with propensity score matching” foi recentemente publicado no American Journal of Obstetrics and Gynecology. O objetivo foi comparar a eficácia de diferentes doses de aspirina na prevenção de pré-eclâmpsia e distúrbios hipertensivos da gestação em gestações gemelares. 

aspirina

Contexto clínico 

Embora a aspirina já tenha demonstrado reduzir o risco de pré-eclâmpsia em gestações únicas, ainda não há consenso sobre a dose ideal em gestações múltiplas. Sociedades como o ACOG recomendam 81 mg/dia, enquanto outras orientações sugerem doses mais altas, como 150 a 160 mg. A divergência decorre da escassez de estudos robustos comparando diretamente essas dosagens, especialmente em populações de gêmeos. 

Metodologia 

O estudo retrospectivo multicêntrico incluiu 1907 gestações gemelares acompanhadas em três hospitais universitários da Europa. As participantes foram divididas em três grupos: sem aspirina, com AAS 80–100 mg/dia e com AAS 160 mg/dia. As análises foram ajustadas por escore de propensão para controlar fatores de confusão como idade materna, IMC, hipertensão crônica, diabetes e tipo de gemelaridade. 

O estudo avaliou como desfechos primários a ocorrência de pré-eclâmpsia e distúrbios hipertensivos da gestação (incluindo hipertensão gestacional). Entre os desfechos secundários, foram analisadas a pré-eclâmpsia precoce (antes de 34 e de 37 semanas), a ocorrência de recém-nascidos pequenos para a idade gestacional (PIG), hemorragia pós-parto superior a 1000 mL, sangramentos antenatais de origem obstétrica, trombocitopenia materna, gastrite, abortamentos, óbito fetal e neonatal. 

Resultados 

Foram incluídas 1907 gestações gemelares: 1423 (74,6%) sem aspirina, 212 (11,1%) com 80–100 mg/dia e 272 (14,3%) com 160 mg/dia. Após o ajuste por escore de propensão, a dose de 160 mg reduziu o risco de pré-eclâmpsia (HR 0,63) e de distúrbios hipertensivos da gestação – HDP (HR 0,56). Houve redução significativa da pré-eclâmpsia antes de 34 semanas (OR ajustada 0,09; IC95%: 0,01–0,63). Entre nulíparas, o uso de 160 mg também se associou a menor risco de pré-eclâmpsia (OR ajustada 0,32; IC95%: 0,06–1,00). Não houve aumento significativo de sangramentos, trombocitopenia ou gastrite com a dose mais alta. 

Conclusão e implicação prática 

O estudo sugere que o uso de 160 mg/dia de aspirina pode ser mais eficaz do que doses mais baixas para prevenir complicações hipertensivas em gestações gemelares, especialmente quando iniciado até 13 semanas. Como dica prática, sugere-se que obstetras, diante de gestações gemelares com fatores de risco para pré-eclâmpsia, discuta com a paciente o uso de AAS em dose plena (160 mg/dia), respeitando contraindicações e iniciando preferencialmente antes de 16 semanas. 

Veja também: Prevenção da Pré-Eclâmpsia

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Referências bibliográficas

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