Foi publicado recentemente na revista Acta Obstetricia et Gynecologica Scandinavica o artigo “Introduction of robot-assisted obstetric ultrasound in rural Northern Norway”, que avaliou a introdução do ultrassom obstétrico assistido por robô em regiões rurais do norte da Noruega. O estudo traz evidências relevantes sobre como a tecnologia pode ampliar o acesso a exames obstétricos especializados, mantendo qualidade diagnóstica e alta satisfação das gestantes, especialmente em contextos de longas distâncias até centros de referência.
Metodologia
Trata-se de um estudo com dois objetivos principais: avaliar a acurácia diagnóstica do ultrassom obstétrico assistido por robô em comparação ao método tradicional e explorar a experiência das gestantes com essa tecnologia.
O sistema de ultrassom por robô funciona a partir de três componentes integrados:
- um aparelho de ultrassom,
- um braço robótico posicionado sobre o abdome da gestante no local remoto,
- um sistema seguro de telecomunicação em tempo real.
Enquanto a gestante permanece em uma unidade de saúde local, acompanhada por uma parteira, o obstetra especialista controla o transdutor à distância, a partir de um centro hospitalar de referência. Os movimentos realizados pelo especialista são reproduzidos instantaneamente pelo braço robótico, permitindo a obtenção das imagens e a realização das medições fetais em tempo real, com comunicação audiovisual simultânea entre profissional e paciente.
Foram incluídas 46 gestantes de risco baixo a intermediário, no segundo e terceiro trimestres. Destas, 30 participaram da comparação direta entre ultrassom tradicional e ultrassom robótico, e 16 participaram da avaliação de experiência, por meio de questionários em escala Likert e entrevistas qualitativas.
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Resultados
Os resultados demonstraram elevada confiabilidade das medições fetais realizadas pelo ultrassom assistido por robô. As principais medidas biométricas apresentaram coeficientes de correlação intraclasse (ICC) entre 0,990 e 0,993, valores considerados excelentes e comparáveis ao ultrassom convencional. Não foram observadas diferenças clinicamente relevantes nas medidas de circunferência cefálica, diâmetro biparietal, circunferência abdominal ou comprimento do fêmur.
O tempo médio de exame foi discretamente maior no grupo robótico (22 minutos) em comparação ao método tradicional (19,5 minutos), diferença considerada sem impacto clínico, especialmente quando comparada à economia de horas de deslocamento evitadas pelas gestantes.
Na avaliação da experiência das pacientes, 94% relataram alto nível de satisfação, 94% afirmaram sentir-se seguras durante o exame e a maioria declarou que aceitaria novamente realizar o ultrassom por robô. Um dos aspectos mais valorizados foi a eliminação da necessidade de longas viagens, frequentemente superiores a duas horas, em regiões com condições climáticas adversas e infraestrutura limitada.
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Conclusão: ultrassom obstétrico por robô
O estudo conclui que o ultrassom obstétrico assistido por robô é uma alternativa confiável e segura ao método tradicional para gestantes de risco baixo e intermediário em áreas remotas. Além de manter alta qualidade diagnóstica, a tecnologia promove equidade no acesso à saúde, reduz o desgaste físico e emocional das gestantes e otimiza a integração entre níveis de atenção.
Mensagem prática
O ultrassom por robô não substitui completamente o exame presencial, mas se mostra uma solução viável e eficiente para ampliar o acesso ao cuidado obstétrico especializado, especialmente em regiões distantes dos grandes centros, com potencial aplicação em outros contextos rurais e sistemas de saúde públicos.
Autoria

Ênio Luis Damaso
Doutor em Ciências Médicas pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP) ⦁ Professor no Curso de Medicina da Faculdade de Odontologia de Bauru da Universidade de São Paulo (FOB-USP) ⦁ Professor no Curso de Medicina da Universidade Nove de Julho de Bauru (UNINOVE).
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