Para complementar esta leitura, indicamos também um artigo com a visão da Hematologia sobre o assunto: Anticoagulação profilática de gestantes: em quais situações utilizar?
A gestação, em comparação com mulheres não grávidas, traz um risco 4-5 vezes maior de eventos tromboembólicos nesse período. A tríade de Virchow — hipercoagulabilidade, estase venosa e lesão vascular — está presente numa gravidez de baixo risco e no parto.
Obesidade (RR de quase 10x mais chance de TVP para pacientes com IMC acima de 30 kg/m2), restrição de movimentos, técnicas de reprodução (indução ovulação dobra a chance de embolia pulmonar), partos cesarianas (2-4x mais chances de TEP) são alguns fatores presentes no ciclo grávido puerperal capazes de elevar em muito o risco de eventos tromboembólicos.
Além desses, temos as trombofilias hereditárias. As trombofilias estão presentes em mais da metade dos casos de tromboembolismo venoso na gestação. As formas genéticas mais comuns na Europa são as formas heterozigotas do fator V de Leiden e a mutação do gene 20210 da protrombina. Outras trombofilias como deficiência da proteína S ou C ou ainda deficiência da antitrombina são raras. Os guidelines internacionais ainda são baseados em estudos observacionais. Portanto as doses, tempo de administração entre outros permanecem um pouco obscuras.
Análise recente
Um estudo publicado no Journal of Obstetrics and Gynaecological Research neste mês de junho foi testar a hipótese se o uso de heparina de baixo peso molecular melhora os desfechos de gestações em mulheres com trombofilias hereditárias. Usando uma metanálise com estudos controlados e observacionais.
A revisão incluiu como desfechos de interesses nascimentos vivos e desfechos adversos gestacionais. As Estimativas de risco geral foram agrupadas usando meta-análises de efeitos aleatórios. Dez estudos randomizados e doze coortes foram incluídos. O uso de heparina de baixo peso molecular foi efetiva em diminuir os riscos de desfechos gravídicos adversos (RR 0,76, IC 95% 0,61-0,95; p = 0,020). Nas metanálises dos estudos de coorte os resultados mostraram que o uso de heparina de baixo peso molecular melhoraram o número de nascidos vivos (RR 1,86; IC 95%: 1,09 – 3,19; p = 0,020) assim como reduziu significativamente os desfechos gestacionais adversos (RR = 0,46; IC 95%: 0,31 – 0,69: p < 0,001) em mulheres com trombofilia hereditária.
Conclusão
Conclui-se , assim, que o uso de heparina de baixo peso molecular tem um benefício potencial na redução de risco de desfechos desfavoráveis e melhora no índice de nascidos vivos em mulheres com trombofilia hereditária. Outros estudos com amostras maiores são necessários para complementação deste estudo, garantindo ainda mais a eficácia da heparina baixo peso molecular nessas portadoras de trombofilia hereditária.
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