As principais fontes dietéticas de ácidos graxos polinsaturados ômega-3 (PUFA), particularmente ácido docosaexaenoico (DHA) e ácido eicosapentaenoico (EPA), são os frutos do mar e peixes. O consumo desses alimentos na população de forma geral é baixo, não permitindo que seja atingido os níveis de ingestão necessário em diversas populações.
Assim, como alternativa para um consumo adequado de PUFA, faz-se necessário o uso de suplementos orais. Com as gestantes não é diferente e muitas delas são orientadas a realizar a suplementação. A literatura médica tem demonstrado que a suplementação de DHA/EPA durante a gestação está associada a gestações mais prolongadas e com menor risco de baixo peso ao nascer. Entretanto, não há muitos estudos sobre essa suplementação e o crescimento fetal, especialmente seu seguimento longitudinal ao longo da gestação.
O estudo apresentado nesse texto objetivou investigar a associação da ingesta de DHA/EPA no primeiro trimestre da gestação e a trajetória longitudinal das medidas biométricas ultrassonográficas durante a gestação.
Métodos
Esse trabalho foi uma análise de um estudo de coorte americano de 2.802 mulheres em 12 centros de saúde norte-americanos, chamado Eunice Kennedy Shriver National Institute of Child Health and Human Development 148 (NICHD) Fetal Growth Studies – Singletons (2009-2013).
Essas mulheres eram recrutadas no primeiro trimestre, momento em que se realizava entrevista sob vários aspectos, inclusive aspectos nutricionais e alimentares. Foram incluídas nessa análise 1535 participantes.
O desfecho primário do estudo foi a trajetória longitudinal do crescimento fetal, analisado em cada consulta de seguimento, entre 16-22, 24-29, 30-33, 34-37 e 38-41 semanas de gestação.
Resultados
Das 1535 participantes, 143 (9%) referiram fazer uso de suplementos DHA/EPA no primeiro trimestre e 44 (3%) não consumiam nenhuma fonte desses ácidos graxos (alimentação e/ou suplemento). O consumo médio desses nutrientes pela polução do estudo foi de 0,17 g/dia.
No geral, a suplementação de DHA/EPA no primeiro trimestre foi associada a diferenças significativas nas trajetórias de crescimento fetal durante a gravidez. O peso fetal estimado (PFE) foi maior entre as mulheres com suplementação de DHA/EPA em comparação com aquelas sem suplementos (p=0,028 global) com diferenças semanais significativas na mediana do PFE, com diferença mais aparente entre 38 a 41 semanas de gestação (diferença na mediana do PFE nas 40 semanas = 114 gramas). Diferenças nas trajetórias do crescimento fetal para circunferência abdominal (CA) (p=0,003), craniana (CC) (p=0,003) e a razão CC/CA (p=0,0004) também foram identificados pelo status da suplementação. Nas avaliações semanais, o uso de suplemento de DHA/EPA foi associado a CA e CC maiores e a razão CC/CA menor no segundo e terceiros trimestres de gravidez. Não houve diferenças em relação a biometria do fêmur e úmero.
A associação da suplementação de DHA/EPA com mudanças na trajetória do crescimento fetal apareceu a partir de 19 semanas. E apesar de fetos frutos de gestações onde foi suplementado esses nutrientes serem maiores, não houve diferença em fetos grandes ou pequenos para idade gestacional quando comparado com a não suplementação.
Leia também: Restrição de crescimento fetal intra útero: revisitando
Conclusão
A suplementação de ácidos graxos ômega-3 (DHA/EPA) no primeiro trimestre gestacional parece estar associado a um maior peso fetal estimado e pode se colocar como alternativa para populações onde a ingesta desses nutrientes através da dieta é abaixo do recomendado.
Como você avalia este conteúdo?
Sua opinião ajudará outros médicos a encontrar conteúdos mais relevantes.